As favelas dentro do Campo Global: Reflexões inspiradas em ‘Planeta das Cidades de Barracos’, de Mike Davis


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“Os terremotos brutais da globalização neolslumiberal imposta desde 1978 são análogos ao processo catastrófico que moldou um ‘Terceiro Mundo’ pela primeira vez, durante a Era Pós-Vitoriana do imperialismo (1870-1900). No final do século XIX, a incorporação forçada de gêneros alimentícios da África e da Ásia no mercado internacional foi seguida da morte por desnutrição de milhões e da expulsão de outras dezenas de milhões de suas terras tradicionais. O resultado final (na América Latina também) foi a ‘semi-proletarização’ rural, a criação de uma enorme classe global de semi-camponeses miseráveis e trabalhadores agrícolas sem segurança existencial de subsistência. Como um dos resultados, o século XIX virou uma época não de revoluções urbanas, como imaginou o Marxismo Ortodoxo, mas uma época de rebeliões rurais e guerras de libertação nacional baseadas no campo.” (1)

Chen Boda e Lin Biao foram aqueles que realmente sistematizaram as contribuições de Mao. Chen Boda foi um dos que falou das contribuições de Mao como o Marxismo Universal pro Mundo Colonial. Lin Biao introduziu a ideia de que as contribuições de Mao eram uma nova fase. E foi Lin Biao quem introduziu primeiro o conceito de Guerra Popular Global. A Revolução Mundial era vista como uma Guerra Popular Global, uma Onda de Revoluções que se espalharia pelo Campo Mundial pra cercar a Cidade Mundial. Essa poderosa metáfora foi, e continua sendo, uma parte-chave da mais alta ciência revolucionária de hoje, o Comunismo Luz-Guia. No entanto, o Mundo estava mudando drasticamente. Pela primeira vez na história, a maioria da população mundial vive em cidades, não em zonas rurais. (2) Essa mudança demográfica explosiva é parte de uma mudança revolucionária na geografia humana, talvez comparável com as revoluções neolítica ou industrial. Uma das implicações mais importantes dessa mudança é o crescimento das cidades de barracos, especialmente dentro do Campo Mundial, dentro do Terceiro Mundo. Pra mudar o Mundo, é preciso entender isso. Praqueles que têm vontade de fazer a Revolução do século XXI, será necessário entender a mudança das topografias sociais em que os revolucionários vão trabalhar. A Favela Mundial tem que ser integrada em nosso conceito de guerra popular.

A Nova Explosão Urbana

Houve uma explosão populacional no Mundo, especialmente população urbana. Hoje, o nível de urbanização em algumas partes do Terceiro Mundo chega a ser maior que aqueles da Europa Vitoriana derivados da Revolução Industrial (3):

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(Crescimento da População Mundial, Bilhões de pessoas, Países Urbanos mais desenvolvidos; Países Urbanos menos desenvolvidos; Rural)

 De acordo com ‘O Planeta das Cidades de Barracos’, de Mike Davis:

“A força de trabalho mundial mais que dobrou desde 1980, a atual população urbana – 3.2 bilhões – é maior que a população mundial quando John F. Kennedy foi inaugurado. Enquanto isso, o Campo Mundial atingiu sua população máxima e vai começar a encolher depois de 2020. Como um dos resultados, as cidades vão contar virtualmente por todo o futuro do crescimento da população mundial, que talvez atinja a marca de 10 bilhões em 2050.” (4)

Nem toda essa população qe cresceu na pobreza urbana vive em cortiços. (5) Mas, o morador da favela está crescendo mais rápido que qualquer outro grupo demográfico. As cidades de barracos se multiplicaram. Tem mais de 200.000 favelas pelo Mundo. Essas favelas podem ser algumas centenas de pessoas ou até mais de um milhão.

Tem também o fenômeno da megafavela:

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(Maiores Megafavelas (2005) (Milhões de habitantes)

Megafavelas são criadas quando cidades de barracos e ocupações ilegais se fundem dentro de cinturões de habitações informais e pobreza, geralmente nas periferias de áreas urbanas. (6) Gautum Chatterjee alerta, “Se esse tipo de tendência continuar sem diminuir, nós vamos ter só favelas e não cidades.” (7) Usando estimativas conservadoras, havia 921 milhões de pessoas vivendo em cidades de barracos em todo o Mundo, e mais de 1 bilhão em 2005, “aproximadamente igual à população mundial dos tempos em que o jovem Engels se aventurou pela primeira vez pelas ruas de St. Giles e Cidade Velha de Manchester em 1844.” (8) Dentro de poucos anos, a África Negra terá 332 milhões de moradores de barracos, um número que continuará a dobrar a cada 15 anos. (9) Gaza, considerada por alguns a maior favela do Mundo, é uma fusão urbanizada de campos de refugiados. Dois terços da população subsiste com  menos de U$2 por dia (ou U$50 dólares por mês, descontando domingos). (10) “Das 500.000 pessoas que migram pra Déli a cada ano, é estimado que mais de 400.000 terminem [morando em] barracos; em 2015 a capital da Índia terá uma população favelada de mais de 10 milhões.” (11) A maioria dos pobres que vivem em cidades não vivem mais em cidades do interior, de onde muitos deles saíram. (12) Em vez disso, eles vivem nas cidades de barracos das periferias das cidades do Terceiro Mundo. (13) A nova pobreza geralmente ocupa as margens das cidades, não os centros.

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Onde os pobres vivem (Onde os pobres vivem (percentagem populacional) Favelas no Centro da Cidade; Favelas Periféricas)

Isso faz o padrão estereótipo da cidade americana ficar invertido. Não existe mais um subúrbio rico ao redor do centro pobre da cidade. O padrão emergente na cidade do Terceiro Mundo é bem diferente:

“A principal função da periferia urbana do Terceiro Mundo ainda é a de servir como lixeira humana. Em alguns casos, lixo urbano e imigrantes não desejados convivem juntos, como uma mal-afamada “favela do lixo”, que é como chamam apropriadamente Quarantina fora de Beirute, a antiga Montanha da Fumaça em Manila, ou o grande lixão e favela de Dhapa na periferia de Calcutá. Igualmente comuns são os campos desolados do governo e os assentamentos descontrolados onde são depositadas populações expulsas pelas guerras municipais contra favelas. Fora de Penang e Kuala Lumpur, por exemplo, despejados de cortiços são abandonados em campos de trânsito minimalistas.” (14)

Historicamente, o imperialismo inflige um sofrimento tremendo ao Terceiro Mundo, especialmente em suas áreas rurais. Muitas coisas levam as pessoas a mudar pra cidade pra tentar uma vida melhor: pobreza, violência, guerra etc. No entanto, tudo isso já existia antes do período moderno. Antes dos anos 1950 e 1960, as favelas do Terceiro Mundo experimentaram um crescimento devagar. Só depois desse período que teve uma grande aceleração. Pra entender porque as cidades de barracos cresceram tão rápido na segunda metade do século passado é preciso entender porque cresceram devagar na primeira metade. Mesmo que as potências coloniais europeias fossem as responsáveis pela criação das favelas, as politicas coloniais geralmente impediam o crescimento delas. Essas políticas tentavam impedir que camponeses e refugiados lotassem as cidades, que costumavam ser centros da administração colonial. As políticas coloniais pretendiam manter a paz social colonial. Elas segregavam cidades de acordo com nacionalidade, cor, e classe. Elas eram feitas pra disciplinar as migrações rurais. Quando os regimes do Terceiro Mundo ganharam independência nominal e viraram neocolônias, algumas dessas políticas foram removidas. (15) À medida que a natureza do subdesenvolvimento mudava de subdesenvolvimento munocultivador-extrativista pra subdesenvolvimento industrializado, e com fortes processos de globalização, as restrições de migração pros centros urbanos foram suspensas. No começo, numa repetição da revolução industrial na Europa, isso ajudou a criar força de trabalho necessária pras novas indústrias, que ficavam nas áreas urbanas do Terceiro Mundo. Contudo, a inundação de imigrantes ultrapassou as necessidades da indústria em pouco tempo. Isso criou uma sobra de humanidade e a cidade de barracos moderna. Além disso, as políticas econômicas neoliberais contribuíram pra aumentar a nova população urbana e a favelização. As medidas de austeridade e políticas de ajustes estruturais impostas pelo Primeiro Mundo ao Terceiro Mundo, junto com agências de empréstimo internacionais, só contribuíram pra favelização das cidades do Terceiro Mundo, especialmente depois dos anos 1980, com finalizando regimes de Grande-Estado, Pequeno-Crescimento. (16)

“Na América Latina e no Caribe, políticas de austeridade dos anos 1980 reduziram os investimentos públicos em saneamento e água potável, o que eliminou a vantagem de sobrevivência infantil antes desfrutada pelos moradores pobres das cidades. No México, seguindo a adoção de um segundo pacote de medidas de austeridade em 1986, a porcentagem de nascimentos atendidos por pessoal médico caiu de 94% em 1983 pra 45% em 1988, enquanto a mortalidade materna saltou de 82 a cada 100.000 em 1980 pra 150 em 1988.” (17)

“A transferência massiva de recursos de países africanos pobres pra credores ricos do Norte é um dos fatores que causou o enfraquecimento crítico dos sistemas de saúde e educação nos países que são mais afetados pela pandemia [de HIV/AIDS/SIDA].” (18)

“Os tributos que o Terceiro Mundo é coagido a pagar pro Primeiro Mundo foram a diferença literal entre vida e morte pra milhões de pessoas.” (19)

Assim como mudanças na ordem imperial contribuíram pra nova paisagem urbana, também contribuiu o colapso do socialismo real e imaginado. Tanto regimes socialistas como revisionistas tentaram promover uma relação harmoniosa entre cidade e campo. (20) Porém, isso acabou em quase todas as partes com o fim da Guerra Fria. Por exemplo, durante os anos 1980, sob o regime revionista, capitalista, de Deng Xiaoping, a China se afastou das políticas Maoístas que tentavam eliminar as diferenças entre campo e cidade. Os revisionistas se afastaram da visão Maoísta de desenvolvimento balanceado. A inspiração do Grande Salto pra Frente e da Revolução Cultural de trazer as vantagens da urbanização pro campo, produção industrial, cultura e educação, e serviços, foi profundamente abandonada. Como parte do processo de restauração capitalista, os revisionistas começaram a aliviar restrições sobre o crescimento urbano nos anos 1980. (21) O resultado foi um supercrescimento urbano no meio rural, destruindo terras agrícolas. (22) As políticas revisionistas reconfiguraram as relações tanto no campo como na cidade, mas não do jeito que os Maoístas imaginaram no período socialista:

“O resultado dessa colisão entre urbano e rural na China, em muitas partes do Sudeste Asiático, Índia, Egito, e talvez no Oeste da África é uma paisagem hermafrodita, um campo parcialmente urbanizado que Gulfin diz ser talvez ‘uma forma significantemente nova de assentamento humano e desenvolvimento… uma forma nem urbana e nem rural, mas uma mistura das duas dentro de uma corrente densa de transações que conectam grandes núcleos urbanos com as regiões de seu entorno.'” (23)

Problemas sociais tradicionais, agigantados pelo neocolonialismo e pela globalização, pelo fim do socialismo, e novas paisagens emergentes, contribuem pra explosão urbana e pra favela. Não tem nenhum sinal de redução da favelização no Terceiro Mundo.

Papelão, não Vidro

A nova paisagem urbana não é daquelas imaginadas por modernistas e futuristas. A cidade moderna não é uma utopia bem ordenada de aço e vidro:

“De Karl Marx até Max Weber, a teoria social clássica acreditou que as grandes cidades do futuro seguiriam os passos da industrialização de Manchester, Berlim, e Chicago – e é verdade que Los Angeles, São Paulo, Pusan e, hoje, Ciudad Juarez, Bangalore, e Guangjou tenham se aproximado grosseiramente dessa tragetória canônica. A maioria das cidades do Hemisfério Sul, no entanto, se parecem muito mais com Dublin da era vitoriana, que, assim disse o historiador Emmet Larkin, era única dentre ‘todas as cidades de barracos produzidas no mundo ocidental no século XIX… [porque] seus barracos não eram produto da Revolução Industrial. Dublin, na verdade, sofria mais com os problemas da desindustrialização que da industrialização entre 1800 e 1850.” (24)

A favela global nasceu do papelão, plástico reciclado, tijojos crus e palha, blocos de cimento e retalhos de madeira. Esse tipo de materiais são o que abrigam o típico cidadão urbano deste século. Ele é desesperadamente pobre. Ele vive na indignidade e na podridão, no excremento e no lixo, sem planejamento urbano, saneamento ou serviços. (25) (26) Se ele trabalha, o morador da favela costuma viajar por longas horas do seu dia até o trabalho. Horas são perdidas todo dia só tentando encontrar água ou comida. (27) A vida na cidade de barracos é apertada e desesperada, uma luta pela sobrevivência. A vida é barata no meio dos barracos. A paisagem dele é feita de moradias mal-construídas, barracos e moradores de rua. Pra dar um exemplo, um milhão de pessoas vivem nas calçadas, na rua, só em Mumbai. (28) Também:

“Em Mumbai, a morada típica (75% das moradias familiares formais da cidade) é uma habitação dilapidada, alugada por quartos, que se entulha com uma família de 6 pessoas em 15 metros quadrados; a latrina é geralmente compartilhada com 6 outras famílias.” (29)

Apesar de as ocupações irregulares terem contribuído com a favela moderna, a era de ouro da invasão já se acabou. Espaços baratos pros pobres da cidade não existem mais. As cidades de barracos de hoje são um latifúndio de aluguéis. As pessoas pagam pra serem empacotadas em espaços minúsculos. Por exemplo, a maior favela da Ásia, Dhavari, em Mumbai, já mostrou uma densidade estimada 2 vezes maior que a de Nova-Iorque do século XIX. Em Calcutá, uma média de 13.4 pessoas se espremem dentro de cada quarto ocupado. Barracos livres de aluguel foram substituídos por um capitalismo latifundiário e ‘parceiro’. (30) As Revoluções da Nova Democracia e do Socialismo, no futuro, vão ter que descobrir formas ainda mais novas de conhecer os problemas e interesses dos pobres que moram em favelas.

Lixo e Toxinas

A favela é perigosa pra saúde. Toxinas industriais, desastres naturais, infecções e doenças, falta de serviços básicos, tudo contribui pros problemas da cidade de barracos. Um caso famoso foi o incidente de Bhopal. Em Bhopal, Índia, 3 de Dezembro de 1984, um vazamento de gas matou quase 10.000 pessoas em poucos dias. Tempos depois, foi calculado que mais 25.000 morreram e se esperou ainda que quase meio milhão dos sobreviventes sofressem de graves efeitos colaterais. Câncer de pulmão, falha de rins, problemas de fígado e outras doenças relacionadas ao incidente mataram muitos outros nas duas décadas posteriores ao vazamento do gás. De acordo com o governo indiano, 500.000 pessoas foram afetadas pelo gás. Depois do desastre, Union Carbide simplesmente abandonou a fábrica, deixando a Índia arrumar a bagunça sozinha. Quase 25 anos depois do vazamento, começaram a construir alguns barracos ao redor do local do incidente. Agora, uma favela existe lado-a-lado com milhões de toneladas de lixo tóxico que ainda teria que passar por limpeza. As autoridades ainda têm que estudar os efeitos do lixo tóxico que sobrou na água potável e no meio-ambiente das comunidades locais. O que se pode supor disso é que os pobres da índia não valem o custo envolvido na remoção do lixo. Os crimes de Union Carbide são exemplos típicos de como as corporações do Primeiro Mundo, literalmente, matam e fogem. Esse padrão se repete várias e várias vezes.

O próprio ar frequentemente é tóxico e poluído na cidade dos cortiços. O morador da favela é sufocado com o ar poluído de carros, produção industrial, e dejetos humanos. Conforme estudos, respirar o ar de Mumbai é equivalente a fumar dois pacotes e meio de cigarros em um dia. (31) A poluição do México também é lendária. Junto com fumaça vulcânica, poluição humana e industrial massiva, “Os habitantes da Cidade do México, por exemplo, inalam fezes: o pó fecal soprado pelo Lago Texcoco durante a estação do calor, que é seca, causa febre tifóide e hepatite.” (32)

O povo morador de barracos navega sobre um mar de lixo, toxinas e imundice. A nova favela entra em comunhão com a crise global de água e saneamento. “De um ponto de vista sanitário, as cidades pobres de cada continente são um pouco mais que saídas de esgoto transbordantes, entupidas.” Diretor irritado da cidade de Kabul:

“Kabul está virando um grande reservatório de resíduos sólidos. Se todos os 40 de nossos caminhões fizessem três viagens por dia, eles só poderiam transportar 200 dos 300 metros cúbicos pra fora da cidade.”

Davis escreve:

“O conteúdo do lixo às vezes é macabro; em Accra, o [jornal] Daily Graphic a pouco tempo descreveu ‘montes de lixo espalhados, cheios de sacos plásticos pretos contendo corpos fetais abortados dos ventres das carregadoras e adolescentes de Kayayee, em Accra. De acordo com o Chefe Executivo Metropolitano, ‘75% do lixo dos sacos pretos de polietileno na metrópole contêm fetos humanos abortados.'” (33)

“Doenças do trato digestivo provindas do mau saneamento e da poluição da água potável – incluindo diarreia, desinteria, cólicas, tifo e febre tifóide – são as principais causas de morte do Mundo, afetando principalmente bebês e crianças pequenas. Esgotos a céu aberto e águas contaminadas também são repletos de parasitas intestinais como Tricuris Trichiura (Verme da Tricuríase), Nematodas e Necador Americanus (Verme do Amarelão), e tantos outros que infectam dezenas de milhões de crianças em cidades pobres. Cólera, o flagelo da cidade vitoriana, também continua a prosperar pela contaminação fecal dos suprimentos de água urbanos, especialmente em cidades africanas como Antananarivo, Maputo, e Lusaka, onde a UNICEF estima que mais de 80% das mortes por doenças evitáveis (excluindo HIV/AIDS/SIDA) vêm do saneamento pobre. A diarreia associada com AIDS/SIDA é uma adição sinistra ao probllema.” (34)

Um bilhão de pessoas não têm acesso à água limpa, encanada ou mesmo potável, e muitas delas são moradores de favelas. Itens básicos como água são caras e fora de alcance pra muitos. Por exemplo, os habitantes da cidade de cortiços de Kibera pagam até cinco vezes mais por um litro de água que um americano comum. (35)

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(Água: Os pobres pagam mais; Água do Vendedor versus Água Encanada (preço marcado em porcentagem) Comparação de diferença de preços entre água comprada de particulares e vinda de encanamento, para consumidores pobres.

Isso contribui pra uma crise de saúde massiva. Doenças relatacionadas com suprimento de água contam 75% das doenças que afetam a humanidade. (36) Quase um terço dos moradores das cidades de barracos está doente em qualquer tempo considerado. Em qualquer outro contexto urbano, esse tipo de situação seria equivalente a uma pandemia. (37) No entanto, o sofrimento da favela é imensamente ignorado pelo mundo burguês.

Mundos Separados

Os povos que vivem em cidades de cortiços sentem falta de postos de saúde e outros serviços. Isso é parte de uma polarização crescente no Terceiro Mundo. As diferenças de qualidade de saúde mais extremas não são mais entre cidades e zonas rurais. Em vez disso, as desigualdades mais extremas são entre as classes médias urbanas e os pobres urbanos. Pra se ter uma ideia, a taxa de mortalidade pra crianças menores de cinco anos (151 em cada 1000) nas favelas de Nairobi é duas ou três vezes maior que na cidade como um todo, e 50% maior que nas zonas rurais pobres. Da mesma forma, em Quito, a mortalidade infantil é 30 vezes maior nas cidades de barracos que nas regiões vizinhas mais ricas. Na cidade de Cape, a tuberculose é 50 vezes mais comum entre os negros pobres que entre os brancos ricos. (38) Essa desigualdade crescente entre favelas e camadas médias e altas é parte do que alguns chamam de retorno à segregação medieval. (39) (na Idade Média, as sociedades eram divididas entre Nobreza + Clero, que viviam confortáveis e protegidos atrás de muralhas, perto do rei, e Servos, todo o resto que plantava, minerava, construia, morava em casebres miseráveis e eram os primeiros a perder as casas nos ataques)

“Em Luanda, onde a porcentagem da população desempregada ou subempregada cambaleava os 84% em 1993, a diferença entre as rendas mais altas e mais baixas ‘cresceu de 10 vezes pra 37 vezes só entre 1995 e 1998.’ No México, a população vivendo em extrema pobreza subiu dos 16% em 1992 pra 28% em 1999, apesar das tão propagadas ‘histórias-de-sucesso’ das maquiladores da fronteira e do NAFTA.” (40)

Essa polarização se reflete num crescimento das desigualdades econômica e social e numa separação geográfica crescente. À medida que as favelas crescem, enclaves novos, bem murados, aparecem. Esses “Mundos à parte” são sub-cidades dentro da cidade que abrigam as camadas sociais médias e altas. Esses “Mundos à parte” geralmente são comunidades muradas autônomas, ao estilo americano:

“A cidade isolada e murada ao estilo americano mais famosa do Brasil é Alphaville, no quadrante noroeste da Grande São Paulo. Nomeada (perversamente) à partir do filme distopioso de Godard, lançado em 1965, sobre um mundo novo e sombrio, Alphaville é uma cidade completamente privada com um grande complexo de escritórios, um shopping center gigantesco, e áreas residenciais muradas – tudo protegido por mais de 800 guardas privados.” (41)

Esses “Mundos à parte” oferecem um contraste brutal com a pobreza das cidades de barracos. (42) Enquanto as camadas médias e altas ficam seguras, a população das favelas é submetida a devastações de pobreza, doenças, desastres naturais e ecológicos. Os revolucionários do Peru tinham uma expressão: ‘Eles levam a vida nas pontas dos dedos.’ Isso quer dizer que eles podem ser chamados pra fazer os maiores sacrifícios a qualquer momento. Aqueles que vivem na favela global também vivem no limite, e não vivem assim por opção. A existência deles é precária, onde a morte sempre está próxima. Esse tipo de condições leva a uma situação potencialmente explosiva, revolucionária, que motiva os reacionários a tentar controlar a cidade de cortiços através do “imperialismo-suave”: ONGs (Organizações Não-Governamentais), Instituições sem fins lucrativos, além de criminalização e militarização.

Economia da Favela, Excesso de Humanidade

O tamanho populacional de uma cidade guarda quase nenhuma relação com o tamanho de sua economia. (43) O crescimento da população urbana não corresponde com o crescimento econômico. A produção não cresce necessariamente com a população. Nos poucos locais onde existe produção capitalista dentro da favela, se pratica sob condições bárbaras. O crescimento das cidades de barracos às vezes tem levado a uma reversão da economia tradicional do Terceiro Mundo, em vez de um campo com trabalho intenso e cidades de capital intenso, temos agora campos com capital intenso e cidades desindustrializadas com labor intenso. (44) Muitas vezes os mais afetados com a produção na favela não são proletários de costas musculosas, o estereótipo de trabalhador industrial masculino , como imaginado por muitos marxistas autoentitulados. Os mais afetados costumam ser mulheres pobres e crianças:

“Em troca de pequenos empréstimos e recompensas em dinheiro, Dálites e Muçulmanos incrivelmente pobres vendem suas crianças – ou famílias inteiras – pra contratadores têxteis predatórios. De acordo com a UNICEF, milhares de crianças da indústria de carpetes são ‘sequestradas ou enganadas ou postas como garantia por seus pais por somas irrisórias de dinheiro.'” (45)

“A maioria delas é mantidada em escravidão, torturada e forçadas a trabalhar por 20 horas por dia sem um intervalo. Crianças pequenas são levadas a se agachar sobre seus dedos do pé, do nascer do sol até o fim da tarde, atrofiando severamente o crescimento delas durante seus anos anos de formação corporal.”

“As crianças trabalham 20 horas por dia ou até mais, por seis dias e meio ou sete dias por semana, sob condições de abuso físico e verbal. Começando novos, perto dos cinco anos, eles não recebem nada além de algo perto de 400 rúpias (U$ 8,33) por mês.” (46)

O crescimento da cidade de cortiços global se mostra muito diferente do futuro previsto por pessoas do Primeiro Mundo autoproclamadas marxistas. As favelas se tornaram um lixão onde se despeja o excesso da seres humanos, não um local de prosperidade. (47) O favelado típico não é um trabalhador industrial. Muitos moradores da cidade de barracos são improdutivos, em um sentido Marxista; eles não são nem um exército industrial de reserva de desempregados, num sentido Marxista; em outras palavras, eles não são necessariamente usados pra rebaixar salários. Os salários são tão baixos que eles, muitas vezes, realmente não podem cair ainda mais. De vez em quando, como no caso de Gaza, moradores de cidades-cortiços dependem de assistência de agências internacionais. A economia da favela é normalmente dominada pelo setor informal, não pelo setor produtivo tradicional da visão original de Marx sobre o futuro. (48)

“O estereótipo tradicional de um morador de rua indiano é o de um camponês sem-terra, recém-chegado do interior, que sobrevive de mendicância parasitária,mas uma pesquisa revelou que quase todos (97%) têm pelo menos 1 ganha-pão, 70% viviam na cidade a pelo menos 6 anos, e um terço deles já foi despejado de um barraco ou cortiço. Na verdade, muitos moradores de rua são simplesmente trabalhadores – motoristas de Riquixá, operários da construção civil, e carregadores do mercado – que são compelidos por seus trabalhos a viver desse modo no coração da metrópole, por falta de opção.” (49)

Comentando sobre a Cidade do México do final do século XX, um planejador urbano observa:

“Quase 60% do crescimento da cidade é resultado do povo, especialmente das mulheres, construindo heroicamente suas próprias moradias sobre terras periféricas desasistidas, enquanto o trabalho informal de subsistência esteve sempre contando com uma grande proporção dos empregos totais.” (50)

O morador dos barracos não é o trabalhador industrial de Marx, estereotípico, homem, proletário. Conforme relatório da CIA de 2002, “Pelos anos 1990, aproximadamente 1 bilhão de trabalhadores, representando um terço da força de trabalho de todo o Mundo, a maior parte deles [vivendo] no [hemisfério] SUl, eram tanto desempregados como subempregados.” (51) E não há expectativa de que essas pessoas sejam integradas à produção num futuro próximo. O favelado não é tipicamente ou principalmente envolvido em trabalho produtivo, em criação de valor. Ele tende a ser parte dos elementos marginalizados, lumpen, às vezes fora de classificação social, e, igualmente, classe oprimida de pequenos negócios. (52) De fato, em alguns lugares da América Latina, o trabalhador tradicional, industrial e sindicalizado constitui uma seção relativamente privilegiada da população do Terceiro Mundo. Essa é uma das razões pelas quais é importante separar nossos conceitos de ‘exploração’ e ‘proletariado’ dos de ‘produção’, ‘fábrica’ e ‘campo’. Enquanto a Teoria do Valor-Trabalho pode dar uma explicação importante sobre a criação do valor, um indicador global de exploração e potencial revolucionário muito mais útil é a medida de igualdade e pobreza simples. (53) (54) COm a vasta maioria dos trabalhadores industriais vivendo agora fora do Primeiro Mundo, o típico habitante do Primeiro Mundo pode não ser envolvido em trabalho produtivo como Marx descreveu, mas também não se envolve um segmento de despossuídos muito mais importante, a população do Terceiro Mundo. (55) A Revolução é a esperança dos desesperados.

Classe Global

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Grupo protesta na favela Mandela da Pedra, Rio de Janeiro, contra violência, da polícia e dos cartéis de droga. A foto é de 2009, quando os governos deixavam de investir em moradia popular pra construir mais estádios de futebol (quando não destroem umas favelas, museus e escolas pra essa festa do Primeiro Mundo).

Marx previu que os conflitos que ele testemunhou durante a revolução industrial no mundo ocidental poderiam acontencer em todo o Planeta. Ele pensou que a sociedade iria ficar polarizada em duas grandes classes, os capitalistas industriais e seus trabalhadores. Por isso, a medida que o capitalismo avançasse, o produtor imaginado e as pessoas empobrecidas viriam a ser representados pelo trabalhador industrial. Ele viu a classe trabalhadora industrial como proletariado, o agente revolucionário. Marx pensou que a competição e o desenvolvimento iriam acontecer de maneira proporcional por todo o Mundo. Assim, a revolução seria uma questão de “trabalhadores de todos os países, vamos nos unir!” Porém, as coisas não fluíram como Marx esperou. Até Engels começou a escrever sobre o aburguesamento de grandes partes da população assalariada. Engels disse que nações inteiras poderiam ser aburguesadas. Nos tempos de Lenin, os bolcheviques começaram a se referir sobre uma “aristocracia laboral”. Tem uma frase famosa de Lenin onde ele diz que “a doença do parasitismo” afeta nações inteiras. Lin Biao ofereceu uma visão alternativa de polarização: a cidade global contra o Campo Global. Lin Biao disse que a luta proletária no Primeiro Mundo estava ‘retardada’, enquanto em todo o resto do Mundo ela estava em pleno vigor. Essa polarização da cidade global dos países ricos contra o campo global dos países pobres, o Primeiro Mundo contra o Terceiro Mundo, continua. A diferença de renda per capita residencial entre uma cidade rica, do Primeiro Mundo, como Seattle, e uma pobre, do Terceiro Mundo, como Ibadan chega a 739 pra 1 (ou seja, Seattle é quase 740 vezes mais rica que Ibadan). (56) “Em 46 países as pessoas são mais pobres hoje do que em 1990. Em 25 países tem mais pessoas famintas hoje do que a uma década atrás.” (57)

A concepção de Lin Biao de polarização continua essencialmente correta, apesar de que é importante notar o crescimento da favela global dentro do Campo Global. A população urbana crescente no Terceiro Mundo teve implicações tremendas pra estrutura de classes global. A maioria dos que moram em cidades no Terceiro Mundo é desesperadamente pobre. (58) Quase um quarto de todos os habitantes de áreas urbanas em 1988 viviam em “absoluta pobreza”, recebendo U$ 1/dia ou menos. Como disse um estudioso:

“Cidades de barracos, apesar de mortais e inseguras, têm um futuro brilhante. O campo vai continuar por um curto período com a maioria dos pobres do Mundo, mas aquela distinção duvidosa vai passar pra ‘favelas urbanas’ até 2035. Pelo menos metade da explosão populacional urbana do Terceiro Mundo que ainda vai acontecer será deflagrada pelas comunidades informais. 2 bilhões de pessoas vivendo em barracos entre 2030 e 2040 pode ser uma estimativa monstruosa, quase incompreensível, mas a pobreza urbana se sobrepõe e excede as populações dos barracos por si só.” (60)

O verdadeiro proletariado, o agente revolucionário, não tem nada a perder além de suas algemas. Já faz muito tempo que o Proletariado deixou o Primeiro Mundo. O proletariado de verdade vive quase exclusivamente no Terceiro Mundo. Ao longo do próximo século, cada vez mais, o proletário típico será representado pelo morador da favela do Terceiro Mundo. Isso não retira o Potencial Revolucionário de outros segmentos de classes realmente exploradas, como os camponeses pobres e os trabalhadores industriais do Terceiro Mundo. Isso é só pra apontar pra influência crescente do morador de cortiços, um grupo demográfico que está sempre mais e mais desempenhando um papel importante no cenário mundial.

Guerra Popular Global

O antropologista Michael Taussig escreveu sobre os subúrbios de Cali:

“Isso me faz começar a perceber que, assim como a guerrilha teve sua base mais importante nas florestas sem fim de Caquetá, no final de lugar nenhum, às margens da Bacia Amazônica, o mundo das gangues da juventude adotou como seu lugar sagrado este aqui, na periferia urbana, onde os barracos atingem os canaviais em Carlos Alfredo Díaz.” (61)

Mao Zedong fez uma comparação memorável dos guerrilheiros entre os camponeses com os peixes no mar. Se as coisas continuarem como estão, as favelas serão o novo mar em que os guerreiros do povo navegarão. O crescimento da Favela Global teve implicações pra Guerra Popular Global, assim como teve implicações nos nossos conceitos sobre o que é exploração e quem é o proletariado. Mao articulou um modelo de guerra popular que era prolongado. O modelo de Guerra Popular dele começava no Campo e então avançava pra cercar a cidade. A Guerra Popular do passado era principalmente uma questão rural. Zonas Vermelhas eram áreas que as forças revolucionárias controlavam no Campo. Dentro das Zonas Vermelhas, as forças revolucionárias criaram um Novo Estado e uma Nova Economia em miniatura. A Zona Vermelha era uma adaptação maoísta do conceito de Lenin de Poder Paralelo pras zonas rurais do Terceiro Mundo. Guerras Populares, junto com as Zonas Vermelhas e o Poder Paralelo, terão que ser adaptadas pra Favela Global. As Guerras Populares do futuro não vão necessariamente avançar do Campo pra Cidade. Apesar disso,  a Guerra Popular Mundial seguirá se movendo do Campo Mundial, que contêm a Favela Mundial, pra Cidade Mundial. A Guerra Popular Global vai avançar do Terceiro Mundo pro Primeiro Mundo. Enquanto Lenin alertava pra não sobrestimar a espontaneidade, os maoístas alertam pra não sobrestimar os modelos de insurreição, eles continuam tendo aplicação. Guerras Populares prolongadas serão utilizadas nos Campos e nas Favelas pelos Comunistas Luzes-Guiadoras neste século. Pesquisadores do instituto RAND comentaram sobre como a resistência baseada em favelas pôde inclinar a balança na Guerra Civil de El Salvador dos anos 1980, “tendo os rebeldes da Frente de Libertação Nacional Farabundo Martí efetivamente operado dentro de cidades antes da insurgência, é questionável o quanto os Estados Unidos poderiam fazer pra ajudar a manter o equilíbrio entre governo e insurgentes.” (62) As lições da Resistência Iraquiana, dos movimentos de resistência urbanos tanto Sunitas quanto Xiitas, devem ser estudados também. A Força Aérea, a arma favorita dos imperialistas, flagelo dos movimentos rurais de guerrilha, também é menos eficiente em contextos urbanos.

George Lukacs escreveu uma vez que mesmo se todas as previsões individuais de Marx tivessem falsidade comprovada, alguém ainda poderia se dizer “Marxista Ortodoxo” porque o Marxismo verdadeiro, em seu núcleo, é simplesmente Ciência Revolucionária. Marx foi o começo. Lenin foi o primeiro a fazer o avanço ideológico que liderou a primeira Revolução Proletária sustentada. Mao foi o que fez o avanço seguinte. Eles foram cientistas revolucionários verdadeiros, apesar de seus erros e limitações. Eles não só herdaram o que existia de mais famoso em Teoria Revolucionária de seus dias. Eles adaptaram e expandiram a Ciência Revolucionária. Eles entenderam que Marxismo não é um punhado de fórmulas dogmáticas, ele é Ciência – A Ciência da Libertação Humana. Hoje, restos dos últimos avanços revolucionários ainda permanecem: “Marxistas-Leninistas” e “Maoístas”. As forças que balançam essas bandeiras hoje não são as que fizeram os avanços por elas mesmas. O que é chamado “Marxismo-Leninismo” e “Maoísmo” hoje é só um eco das inovações do passado. Os “Marxistas-Leninistas” e “Maoístas” de hoje defendem uma forma pre-científica e popular dessas velhas novidades e seguem com elas. Esses grupos nunca compreenderam o núcleo científico, mesmo eles aplicando a forma de ideologia popular, dogmatizada. Em alguns casos, o dogma funciona bem o bastante pra esses grupos serem capazes de criar grandes organizações armadas e tomar grandes porções do território do Terceiro Mundo. No entanto, o dogma não é bom o bastante pra conquistar o poder do Estado, sem falar em alcançar o Comunismo. Os tempos mudaram. O velho dogma não vai vencer. Faz mais de 60 anos que Mao declarou a República Popular da China. Já tem quase meio século que a Revolução Cultural começou. A Ciência ensina. A realidade material, incluindo a estrutura de classe global, é muito diferente. A composição do Campo Global, com o crescimento da Favela Global, é muito diferente. Nossos conceitos de Guerra Popular e Guerra Popular Global precisam evoluir. Os imperialistas investem milhões de dólares pra aperfeiçoar a ciência opressiva deles. Cabe a nós avançar a Ciência da Libertação pra combater eles. Ou o Marxismo avança, ou morre. O Comunismo Luz-Guia é a Ciência Revolucionária de hoje. Esse é nosso novo avanço.

Escrito pelo Comandante Campo Flamejante.
Traduzido pro português por Rivaldo Cardoso Melo.

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Notas

1. Davis, Mike. Planet of Slums. Verso [Planeta das Favelas. Editora: Verso], USA: 2007, p. 175
2. Davis, p. 1
3. Davis, p. 15
4. Davis, p. 2
5. Davis, p. 25
6. Davis, pp. 26-27
7. Davis, p. 18
8. Davis, p. 23
9. Davis,  p. 19
10.  Davis, p. 48
11. Davis, p. 18
12. Davis, p. 32
13. Davis, p. 37
14. Davis, p. 47
15. Davis, pp. 50-54
16. Davis, pp. 147-148
17. Davis, p. 148
18. Davis, p. 149
19. Davis, p. 148
20. Davis, pp. 50-54
21. Davis, p. 60
22. Davis, p. 135
23. Davis, p. 9
24. Davis, p. 16
25. Davis, p. 19
26. Davis, p. 7
27. Davis, pp. 93-94
28. Davis, p. 36
29. Davis, p. 34
30. Davis, pp. 87-93
31. Davis, pp. 133-134
32. Davis, p. 144
33. Davis, p.134-139
34. Davis, p. 145
35. Davis, p. 145
36. Davis, p. 142-145
37. Davis, p. 147
38. Davis, p. 146
39. Davis, p. 119
40. Davis, pp. 164-165
41. Davis, p. 188
42. Davis, pp. 117-118
43. Davis, p.13
44. Davis, p. 16
45. Davis, p. 187
46. Davis, p. 187
47. Davis, p. 175
48. Davis, pp. 177-179
49. Davis, p. 36
50. Davis, p. 17
51. Davis, p. 198
52. Davis, p. 179
53. Campo Flamejante. Igualdade e Alinhamentos Globais. Monkey Smashes Heaven. http://portugues.portugues.llco.org/2014/12/31/igualdade-e-alinhamentos-globais/
54. Campo Flamejante. Socialismo verdadeiro versus Fake na Distribuição Socialista. Monkey Smashes Heaven. http://portugues.portugues.llco.org/2015/10/30/marxismo-verdadeiro-x-fake-na-distribuicao-socialista/
55. Davis, p. 13
56. Davis, pp. 25-26
57. Davis, p. 163
58. Davis, p. 49
59. Davis, p. 25
60. Davis, p. 151
61. Davis, p. 49
62. Davis, p. 102

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