Lin Biao estaria planejando um golpe?

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por Campo Flamejante

Traduzido para o português por Rivaldo Cardoso Melo

(portugues.llco.org)

“Estar na compania de um rei é estar na compania de um tigre.” – Provérbio chinês , citado por Lin Biao

“Depois que Lin Biao morreu… o fanatismo diminuiu. Foi como se nós estivéssemos todos dentro de um sonho.” (1)

Artigos mencionando as conquistas e atividades do dedicado Vice-Presidente e Ministro da Defesa Lin Biao são um tédio. Como o presidente, fotos do vice-presidente aparecem com regularidade crescente, como os cultos à personalidade ligados a ele, num resultado de numerosas lutas por poder das décadas passadas. Depois disso, um grande silêncio. Nenhuma menção ao “irmão-de-armas mais próximo” e “melhor estudante” de Mao. Nenhuma explicação foi trazida até hoje. Um misterioso silêncio imensamente pesado na mente do público. Grandes mudanças apareceram no topo da sociedade. Mais lutas por poder? O público espera por notícias. Aqueles que estão no topo foram imediatamente informados que as contribuições de Lin Biao foram radicalmente anuladas. Em 14 de Setembro de 1971, Zhou Enlai anuncia para uma reunião do Politburo altamente secreta a suspensão de numerosos oficiais de alta patente, sem citar nomes. Autocríticas são solicitadas. Isso foi seguido da prisão de 93 oficiais e o purgo (expulsão) de uns 1,000 daqueles acusados de ter ligações com Lin Biao. Foi em Outubro que algumas notícias pingaram sobre as baixas camadas da hierarquia do Partido. Um mês depois, em Novembro, a opinião pública recebeu as assombrosas notícias. Entre 1980 e 1981, sob o título infame de “Facções Contrarrevolucionárias de Lin Biao e da Gangue dos Quatro”, o relatório oficial dos eventos do dia foi assim apresentado pela Corte:

“Lin Biao, depois de sua tentativa de se tornar Presidente de Estado e usurpar seu poder por uma “transição pacífica” fracassada, pôs em movimento um plano de um golpe de Estado contrarrevolucionário armado.”

Em Fevereiro de 1971, Lin Biao e Ye Qun enviaram seu filho, Lin Liguo, para Shangai, onde ele se juntou a membros importantes da “Esquadra Conjunta” – como chamavam seu destacamento contrarrevolucionário especial – para elaborar os detalhes do golpe. O plano do golpe foi chamado, em resumo, de “Projeto 571″. (‘571′, em idioma chinês, soa parecido com ‘Insureição Armada’ -Ed)

Sob a liderança direta de Lin Biao, Lin Liguo nomeou Jiang Tengjiao para ser o ‘Comandante da Linha de Frente’ para a ação na área de Shangai. Seus planos incluiram atacar o trem especial do Presidente Mao com lança-chamas e foguetes de 40mm, dinamitando a ponte de trilhos Shufang perto de Sujou, onde o trem passaria, bombardeando o trem pelo ar et cetera.

Quando Lin Biao e Ye Qun souberam na tarde de 11 de Setembro que sua tentativa de assassinar o Presidente Mao falhou e que o Presidente já teria saído de Shangai para Pequim, os dois decidiram voar rumo ao Sul para Guangjou com seus colaboradores para fundar aí um ‘comitê central do partido’ separado e dividir a nação. Eles até planejaram um ‘ataque em pinça vindo do Norte e do Sul em aliança com a União Soviética’.

Um avião especial foi enviado com Lin Liguo à bordo para um local perto do Resort de verão de Beidaihe para que Lin Biao e Ye Qun voassem rumo ao Sul. Na madrugada de 12 de Setembro, Lin Biao, sua esposa e seu filho souberam de sua fonte secreta que o Premiê Jou Enlai fez investigações para saber sobre o envio não autorizado do avião especial. A família Lin apressadamente saiu à 00:32 de 13 de Setembro para um país estrangeiro. O avião caiu durante o voo. A sucata e os corpos de todos à bordo foram encontrados perto de Undur Khan, Mongólia.” (2)

O querido Vice-Presidente tentou matar seu amado Presidente. O “melhor estudante”, “camarada-de-armas mais próximo”, “sucessor designado” de Mao foi acusado de trair a China, o Partido Comunista e, ainda mais impensável,o próprio Mao Zedong. A voz do Pensamento Mao Zedong tentou matar Mao. O símbolo da preciosa Revolução Cultural de Mao agora é acusado de orquestrar um golpe para tomar o poder para si mesmo. O público ficou confuso e assombrado pela grandiosidade dos eventos. A que futuro isso levaria? Teriam mais derramamentos de sangue no Partido? No Exército? Nas ruas? O que isso diz sobre a Revolução Cultural que foi simbolizada no próprio Lin Biao? O médico pessoal de Mao, Doutor Li Jisui, afirmou que Mao ficou profundamente abalado pelos eventos:

“[…]o médico declarou depois que o assunto Lin Biao foi dramático… Ele ficou deprimido. Ele foi para sua cama e nela permaneceu por todo o dia, falando e fazendo quase nada. Quando se levantou, ele parecia ter envelhecido. Seus ombros curvaram, e ele andava devagar. Ele caminhava se arrastando. Não consegue dormir.

A pressão sanguínea dele, normalmente entre 130 e 80, saltou para a faixa de 180 e 100. Suas canelas e pés incharam, especialmente nos tornozelos. Ele sente um frio crônico, tosse e está tossindo grandes quantidades de catarro. Seus pulmões estão com sérias congestões. Nenhum dos testes que fiz indicaram qualquer bactéria patogênica, mesmo a infecção em seus pulmões. Isso foi um sinal de enfraqucimento da resistência. O coração sofreu uma ligeira dilatação, e suas batidas ficaram irregulares… Em 20 de Novembro de 1971… Enquanto Mao escoltava o Premiê do Vietnã do Norte para uma porta, as câmeras revelaram um caminhar rastejado de Mao.

Suas pernas, diz o povo, pareciam tremer como varas de pau.” (3)

A saúde de Mao, segundo consta, nunca se recuperou totalmente do conhecimento das notícias. Mas o que se dizia da saúde da Revolução?

A década da Revolução Cultural, aproximadamente a última década da vida de Mao, entre 1965 e 1976, permaneceu sem ser completamente entendida. O que existe é um pântano de narrativas conflitantes e incompletas que se estendem pela última década de vida de Mao, e o episódio de Lin Biao é o coração de tudo. O incidente de Lin Biao é alegavelmente o mais importante, evento singular da década da Revolução Cultural. É talvez mais ainda mais importante que a própria morte de Mao em 1976. Contudo, a morte de Lin Biao levanta mais perguntas do que respostas. O incidente é envolvido por mistérios de segredo de Estado e interesses sectários. Como qualquer evento político controverso, não existe consenso entre os estudiosos sobre o que aconteceu e o que isso significa. A história “oficial” foi re-escrita algumas vezes de acordo com a direção dos ventos políticos do topo da China. Hoje, outra re-escrita está acontecendo. Dessa vez vem de baixo para cima. Estudiosos estão tomando uma nova visão sobre os eventos agora que o tempo esfriou os ânimos. Já aposentados, idosos participantes ou os parentes daqueles desonrados esperam limpar seus nomes de família buscando diminuir suas próprias participações nos eventos ou a de seus familiares. Relatos recentes lançam algumas luzes sobre o ocorrido com Lin Biao, mas assim como narrativas anteriores foram colorizadas pelo aparato policial do regime e pelo conflito das forças políticas atuantes na época, novas narrativas são colorizadas por outro tipo de influências óbvias. Alguns esperam que suas próprias fortunas, ou a de seus familiares, possam ser protegidas se Lin Biao for absolvido política e criminalmente. Esse é o caso dos relatos da filha do chefe da Força Aérea de Lin Biao, por exemplo. Também é o caso do testemunho de Wang Li sobre a Revolução Cultural… As acusações contra Lin Biao nunca são simplesmente uma questão de se ele é culpado ou não pelas acusações, pelas ações individuais. “Ele planejou matar Mao Zedong?”, por exemplo. A outra questão é política. Que políticas levaram Lin Biao à sua queda? Perguntar se “ele atuou como assassino ou não?” é uma questão menos importante que “as políticas que ele fez eram traidoras ou revolucionárioas?” Foi essa última pergunta que incendiou os debates políticos na China desde a morte de Lin Biao até o julgamento fraudulento do caso no governo Deng Xiaoping. A questão da culpa política e criminal de Lin Biao foi tomada, e continua sendo, pela maioria como um dado importante, embora as evidências contra ele caiam como um castelo de cartas quando analisadas de perto. É por isso que levou tanto tempo para os revolucionários se pronunciarem sobre essse assunto no estado deplorável em que se encontra o auto-proclamado ‘movimento comunista internacional’. Repetir narrativas policiais de quando Mao estava vivo, como os maoístas de hoje fazem às vezes, é dificilmente mais esclarescedor que repetir narrativas policiais posteriores à morte de Mao. Dogma sectário é dogma sectário, seja ele de 1974 ou 1981. O fim do socialismo na China é intimamente ligado à queda de Lin Biao, que representou o momento decisivo, a maior perda de um momento revolucionário, uma ferida no coração dos povos da China e de todo o mundo. O socialismo não existe hoje. As últimas grandes ondas revolucionárias foram derrotadas. Por quê? Se queremos fazer o melhor, ir além avançando na nossa marcha rumo ao comunismo Luz-Guia,ao fim de toda opressão, devemos ser capazes de responder as perguntas difíceis. E uma boa maneira de responder essas questões é conhecer a história verdadeira tratando ela com honestidade. Lin Biao sofreu inúmeras acusações. À medida que o processo contra ele se desenvolve, a acusação que vai tomando posição central é a de que ele planejou um golpe contra o regime. Essa é a acusação que examinaremos agora.

NARRATIVAS CONFLITANTES

Hoje, existem 3 narrativas em geral sobre o incidente de Lin Biao:

1) Narrativas “Maoístas” (porque defendem a pessoa de Mao Zedong, não a ideia do Maoísmo);

2) Narrativas que seguem a linha oficial do regime capitalista chinês; e

3) Novas Narrativas

O primeiro tipo é o mais morto atualmente. É encontrado com mais frequência dentro da cabeça de um número reduzido de seitas “maoístas” e ativistas online. Foi a principal narrativa expressada pela mídia chinesa durante o 10º Congresso do PCC, em 1973, próximo à morte de Mao, em 1976. Continuou ainda durante o começo do período de Hua Guofeng até meados de Janeiro de 1979. Essa narrativa se originou durante os últimos anos da vida de Mao. Ela não é estática, mas se consolidou no período entre o 10º Congresso do PCC em 1973 até a morte de Mao em 1976. Durante o Congresso, a narrativa do alegado golpe de Lin Biao e as razões por trás dele entraram na história do Partido como a décima luta entre duas linhas, uma “revolucionária” e outra “revisionista”. A linha “maoísta” surge como uma resposta ao prejuízo do controle de Mao, à ultraesquerda do “Bando dos Quatro” e à Revolução Cultural. No entanto, a imagem de Lin Biao era tão ligada à de Mao, à ideia de esquerda, de Revolução Cultural que foi preciso encontrar um caminho para que a queda dele parasse de manchar o movimento Maoísta (em seu sentido verdadeiro, sem aspas) e a Revolução Cultural como um todo. Lin Biao simbolizava a Revolução Cultural. Ele frequentemente era elogiado como “O melhor estudante de Mao”, “Camarada-em-armas mais próximo”, “Sucessor escolhido a dedo” etc. Lin Biao foi uma força poderosa na popularização do Maoísmo, pensamento Mao Zedong. As principais ordens e discursos da Revolução Cultural eram geralmente proferidos por Lin Biao, não por Mao. Foi Lin Biao quem apresentou o relatório do 9º Congresso do Partido Comunista Chinês em Abril de 1969, durante o período de tendência Maoísta. Nessa mesma época, a Constituição do Partido foi reescrita para colocar Lin Biao como sucessor oficial de Mao Zedong, e não foi só Mao quem apoiou essa decisão, mas também outras lideranças Maoístas, Jiang Quing e Jang Chiuqiao (4). Lin Biao buscou uma política de associação intensa entre a imagem dele mesmo e a de Mao Zedong, ao menos em público. Por anos, a mídia chinesa procurou ligar a imagem de Lin Biao à de Mao também. Mas, um dia, os ventos mudaram. Com Lin Biao

desgraçado, a nova direita chinesa e os revisionistas do PCC, que se opuseram às políticas realmente maoístas, tentam usar essa desgraça para manchar a Revolução Cultural como um todo e o que sobrou de seus defensores. Entre esses defensores manchados estão líderes como Jiang Quing e Jang Chiuqiao, que vieram a ser rotulados com o título humilhante de “O bando dos Quatro”. Os revisionistas queriam engatar a marcha contra a esquerda, por isso que se tornou tão importante para os militantes da narrativa “maoísta” quebrar a ligação entre Lin Biao e a Revolução Cultural na mente do público. Em termos de responsabilidade criminal, a narrativa “maoísta” em grande parte está de acordo com a narrativa capitalista, e oficial, que surgiu durante o julgamento forjado promovido pelo regime Deng Xiaoping. Em ambas as narrativas, Lin Biao é apresentado como um oportunista sedento de poder que sonhava em derrotar a ditadura do proletariado para impor um despotismo feudal. No entanto, a principal diferença entre a versão oficial do último ano de vida de Mao e a versão de 1979 para frente é a de que Lin Biao, segundo versão “maoísta” inicial, não era ultraesquerdista, e sim um caso de “esquerda na forma, direita em essência”, “pseudo-esquerdista”, “ultra-direitista” e afins.

Com essa explicação, ainda que muito pouco convincente para a maioria, Mao Zedong ofuscou o brilho de Lin Biao num esforço para proteger a Revolução Cultural e o que sobrou da esquerda. Dessa forma, ele paralisou os debates durante seu tempo. Não é surpresa que a interpretação política “maoísta” dos erros de Lin Biao durasse pouco tempo nas instituições e nas ruas da China. A interpretação era incompatível com o que o povo sabia de Lin Biao. Foi a força de Mao, não a força do argumento, que manteve essa versão viva enquanto ele estava vivo. E quando Mao Zedong morreu, foi facilmente destruída. Os generais remanescentes de Lin Biao, Chen Boda, e “A gangue dos quatro” rapidamente apareceram juntos no julgamento fantasioso da “Quadrilha contrarrevolucionária de Lin Biao e Jiang Quing”, aquele mesmo julgamento fabricado no regime capitalista de Deng Xiaoping entree 1980 e 1981. A maioria das alegações criminais impostas a Lin Biao eram as mesmas, mas houve uma reavaliação dos papéis dos generais alegadamente envolvidos no golpe. Eles não foram diretamente acusados de dar o golpe. Inclusive receberam penas leves ou até foram soltos no final. Com a queda dos “maoístas” restantes depois da morte de Mao em Setembro de 1976, as evidências preparadas para servir à agenda “maoísta” foram, pelo menos em parte, descartadas. Além disso, as conclusões principais foram consideradas em torno do suposto golpe de Lin Biao. A grande mudança foi o veredito político: Quando Lin Biao foi acusado na primeira vez em 1971, a direita revisionista, Jou Enlai e seus aliados queriam colocar em cheque toda a Revolução Cultural e minar o que sobrou da autêntica esquerda, “O bando dos quatro”. Se criou um silêncio em torno dos erros de Lin Biao, chamados de “ultra-esquerda”, “anarquistas”, “apriorísticos”, “linha estranha às massas” etc. Ainda que a intervenção de Mao tenha freado o criticismo por um tempo, ele pôde ressurgir à medida que a história do partido era reescrita pela vontade de Deng Xiaoping em 1979. Nesta reescrita, a Revolução Cultural aparece como “obra de ultra-esquerdistas tão sedentos de poder que nem se importavam se iriam machucar a economia chinesa, o padrão de vida das massas, veteranos leais ao partido, heróis de guerra…” etc  De acordo com a direita e os revisionistas, em sua luta para tomar todo o poder para si mesmos, a “ultra-esquerda” iria destruir o socialismo e fazer a China voltar ao seu vergonhoso passado de economia feudal. No julgamento fantasioso, “A gangue dos quatro” foida acusada, assim como “A quadrilha de Lin Biao”, de promover seu próprio golpe ultra-esquerdista. Esse tipo de narrativa é a mais popular em nossos tempos e continua a formar a versão oficial do regime revisionista e capitalista da China.

Outras narrativas tem surgido recentemente. Elas são um número crescente de pessoas que desconfia das narrativas populares. Mesmo dentro da própria China, está crescendo a negação tanto das narrativas capitalistas como “maoístas”. Essa negativa só vem crescendo ao passo em que a distância do tempo dos eventos aumenta. Conforme as tensões políticas diminuem e as décadas passam. Mais e mais pessoas vem falando abertamente sobre quem viveu durante aqueles anos turbulentos. Algumas dessas  narrativas são para serviço próprio, escritas para exonerar os autores ou seus familiares de qualquer represália. Isso frequentemente é conseguido depositando a maior parte ou quase toda a culpa em Mao, que é retratado como ventríloco jogando suas facções fantoches umas contra as outras para manter o próprio poder e proteger o próprio legado. Em algumas dessas narrativas, os protagonistas, incluindo Lin Biao, viram peões infelizes no tabuleiro de Mao. Essas narrativas tendem a desprezar lutas políticas, como se fossem uma cortina para o ego de Mao ou seu comportamento errôneo. Essas narrativas muitas vezes buscam diminuir a culpa dos protagonistas desenhando uma divisão clara entre as políticas esquerdistas que eles faziam em público e suas posturas direitistas em particular. Em narrativas desse tipo, as políticas particulares dos atores só podem ser imaginadas por memórias e anedotas. E, surpreendentemente, as políticas particulares dos esquerdistas caídos acabam sempre estando sendo de acordo com o regime “modernista”, “economista”, “conservador” que veio ao poder depois de Mao, um regime que executou em silêncio influências substanciais sobre o futuro daqueles envolvidos nos eventos e seus familiares. Apesar dessas narrativas terem feito um bom trabalho questionando a realidade das acusações criminosas contra Lin Biao, elas muitas vezes fazem um mal serviço do ponto de vista político, que é muito suspeito. Jin Qiu, aquela filha do chefe da Força Aérea de Lin Biao, escreveu uma narrativa onde Lin Biao é remodelado, fazendo uma segunda versão de Jou Enlai, como alguém trabalhando por trás das cortinas contra os excessos da Revolução Cultural. A versão de Wang Li dos eventos é outra que ganha as boas graças do atual regime chinês dado seu papel de alto perfil dentro da esquerda. Nossa visão é a de que, seja dos anos “Maoístas” ou capitalistas, as narrativas oficiais são muito imprecisas, têm muitas falhas. Foram moldadas pela polícia e pelos interesses sectários com a menor preocupação com a verdade. Ademais, as narrativas de interesse próprio que vem aparecendo agora devem ser estudadas considerando a quem elas servem. Mesmo assim, existe uma verdade a ser desenterrada. A história não pode ser reduzida pelos caprichos de Mao.

LIN BIAO E A REVOLUÇÃO CULTURAL

Lin Biao entra na política como parte das lutas pelo poder que ocorreram no final do Grande Salto para a frente. Houve um debate sobre como avaliar os problemas do Grande Salto. Os direitosos e revisionistas que se reuniram em torno de Liu Shaoqi e Deng Xiaoping  viram as falhas como resultado do fanaticismo maoísta e do populismo. Os Maoístas, reconhecendo que tinham problemas, sustentaram que a direção básica enfatizando ideologia, igualitarismo, coletivismo, experimentos sociais, populismo e entusiasmo era correta. Assim começou o cabo-de-guerra com a liderança. Os revisionistas e direitistas tentaram eliminar a economia coletiva, os Maoístas queriam preservá-la. Como parte de todas essas lutas, Mao perdeu sua habilidade de contar com o Partido para implementar suas políticas radicais. Mao perdeu a autoridade no Partido. Os revisionistas, liderados por Liu Shaoqi e Deng Xiaoping tomaram o controle do Partido. Como parte dessas lutas, os Maoístas conseguiram demitir um dos seus maiores críticos, o Ministro da Defesa Peng Duhuai em 1959. Como novo Ministro, Lin Biao cuidou para que o exército pudesse ser reorganizado sob linhas Maoístas. Lin Biao colocou o exército de volta nos trilhos como Exército Popular. O Exército não era simplesmente uma Força Armada, mas uma Força econômica, social e política! Muitos dos programas Maoístas e políticas que puderam depois virar parte da Revolução Cultural foram primeiro implementadas nas tropas de Lin Biao. O Exército era um tipo de campo para experimentar campanhas antes de implementar elas em toda a sociedade. O culto à personalidade de Mao, também à de Lin Biao, foi pesadamente promovido nos meios militares nos anos da Revolução Cultural com o fim de assegurar a leadade. “O pequeno livro pequeno”, citações do Presidente Mao, foi inicialmente preparado para os militares por Lin Biao. Depois, esse livro pôde ser dsitribuído para toda a sociedade, sendo mais e mais popular durante a Revolução Cultural. Lin Biao promoveu os “Três artigos de leitura constante”. Como muitas campanhas que começaram no meio militar, as obras de Mao “Servir ao povo”, “Em memória a Norman Bethune” e “O velho tolo que removeu as  montanhas” foram também popularizadas no meio do povo na Revolução Cultural. Foi Lin Biao quem elevaria a teoria de Mao a um criativo, terceiro e superior nível do Marxismo como parte desses esforços de aumento da educação ideológica. Durante a Revolução Cultural, o Exército serviu de modelo para a mídia elogiar e encorajar as massas a imitar. A instrução de colocar “A política no comando!”, que durante a Revolução Cultural foi promovida pela sociedade, era originalmente parte da política de Lin Biao de “Quatro Inovações” no exército em 1959. A política era a de elevar o homem sobre os armamentos, o trabalho político sobre qualquer outro trabalho, o trabalho ideológico sobre o trabalho de rotina, viver ideias em vez de estudar livros. Desde que foram pensadas, as políticas de “Quatro Inovações” e “Três Regras e Oito pontos de atenção” tiveram um impacto muito além dos militares. O exército de Lin Biao se esforçava muito pelo ideal de igualitarismo, de comunismo, que foi abraçado pelo Revolucionários Culturais. Um exemplo disso foi a eliminação de símbolos de hierarquia nos uniformes do exército. Com Lin Biao, a imprensa militar mobilizava a sociedade para chegar ao comunismo. Mao, publicamente, e mesmo em privado, ficou impressionado com os esforços de Lin Biao e saudou suas conquistas como “grandes”. (5)

Mao alertou que havia capitalistas dentro do próprio Partido. No desenrolar da Revolução Cultural, cada vez mais, os Maoístas mostravam que a luta entre eles e sua oposição era uma luta entre classes. A luta não era um conflito não-antagônico que pudesse ser resolvido de forma pacífica; ao contrário, era um antagonismo de classe onde um dos lados deveria deixar de existir enquanto classe. Os Maoístas, como um todo, representam o proletariado, uma força em busca do comunismo, o fim de toda a opressão. Os revisionistas queriam modernizar, competir com a capacidade produtiva do ocidente e sua cultura consumista. A China do trabalho penoso de hoje é resultado do legado revisionista. À medida que a metade da década de 1960 se aproximava, um meio-termo entre as duas facções que foi conseguido no final do Grande Salto para a Frente se rompeu de vez. Um conflito militante explodiu entre os Maoístas e os Revisionistas. Os Maoístas eram liderados por Mao e por Lin Biao, além dos subordinados a eles. Um observador afirma que foi Lin Biao quem veio com uma lista daqueles que poderiam liderar uma  Revolução Cultural.  O próprio Mao foi oficialmente intimado pelas escolhas de Lin Biao para ser membro do novo Grupo de Revolução Cultural encarregado de emcabeçar as lutas pelo poder, liderando a Revolução Cultural. (6) Chen Boda, secretário pessoal de Mao e escritor-fantasma por décadas, veio para liderar o grupo. Mao uma vez disse de Chen Boda: “Nenhuma revolução pode proceder sem teoria. Chen Boda é um dos muito poucos teóricos que o Partido tem.” (7) Jiang Quing, esposa de Mao, apontou seus secretários adjuntos. Um grupo de jovens escritores radicais que trabalharam com Chen Boda como polemicistas também foi apontado. Wang Li, Qi  Benyu, e Guan Feng vieram a ter relações estreitas tanto com Chen Boda como com Jiang Qing. Zhang Chunqiao, um oficial Maoísta, e Yao Wenyuan, um crítico literário, ambos de Shangai, serviram também como membros. Xie Fuji, Ministro da Segurança Pública, foi apontado. Kang Sheng, a mente por trás da polícia secreta, também entrou no grupo. Jou Enlai, que veio a comandar o Estado, também foi apontado. Outras pessoas ainda se juntaram, mas pouco fizeram. Quase todos os membros eram associados à esquerda com a exceção de Jou Enlai, e possivelmente Kang Sheng, ambos leais a Mao Zedong e praticantes de políticas duvidosas. A Revolução Cultural sob a liderança Maoísta começou em 1966 e terminou com o 9º Congresso do PCC em Abril de 1969. No entanto, como as lutas não terminaram em 1969, o povo frequentemente se refere à toda década anterior à morte de Mao como “A Década da Revolução Cultural”. Essa década foi marcada por um combate sangrento entre numerosas facções dentro do Partido. Isso levou à queda de muitos da elite política chinesa de alto nível, incluindo o próprio Lin Biao em Setembro de 1971.

No começo da Revolução Cultural, quando os revisionistas controlavam o Partido e muito da burocracia do Estado, os Maoístas precisavam encontrar um caminho para cercar eles. Os militares de Lin Biao tiveram uma importância-chave no lançamento da Revolução Cultural. Os Maoístas contavam com os militares de Lin Biao como a instituição-chave que iria impor sua linha política. Esses militares, com seu departamento político, suas instituições culturais, sua mídia alternativa, seu envolvimento na economia, suas armas et cetera serviriam como um tipo de poder paralelo com que os Maoístas poderiam contar para se opor às instituições controladas por revisionistas. Esses revisionistas poderiam derrotar os Maoístas em outras instituições, mas os militares – ao menos os centristas, onde o poder de Lin Biao imperava – seriam leais. Mao conseguiu se desviar do Partido e do Estado usando as instituições paramilitares de Lin Biao. O exército deu a Mao a base institucional chave para que iria retomar o poder. Mao cercou a burocracia revisionista contando com o Exército e usando sua popularidade e apelos diretos para as massas. Mao – quase sempre usando Lin Biao como seu substituto – conclamou as massas, os estudantes e trabalhadores, para se levantar contra o Partido. Estudantes rebeldes e trabalhadores, guardas vermelhos, tomaram as ruas como os grandes movimentos de massas de 1966 a 1968. Lin Biao não só ajudou a preparar a cena, ele também usou os músculos dos militares para criar uma bolha protetiva para que as massas pudessem seguir seu curso. A guarda pretoriana Maoísta, liderada por Lin Biao, segurou da melhor maneira que ela pôde aqueles que poderiam suprimir o caos que foi liberado pelos Maoístas. À medida que os movimentos de massa seguiam sua caminhada, à medida que o  Partido e o Estado se desmanchavam, o exército, pilar da ditadura do proletariado, preenchia o vazio de poder. Como Mao gostava de dizer, não existe criação sem destruição.

Conforme a Revolução Cultural se desdobrava, os movimentos de massa cresciam com ousadia. Eles tinham na mira o presidente do Estado, Liu Shaoqi, e o Vice-Presidente do Partido, Deng Xiaoping. Eles surgiram do crescente criticismo das massas. Ele foram vítimas da supressão do movimento estudantil, às vezes violenta, dos meses anteriores. Conforme LiuShaoqi e Deng Xiaoping caíam, Lin Biao subia. Em Julho de 1966, Liu Shaoqi saiu do poder. No ano seguinte, ele foi posto diante dos estudantes e respondeu pelos seus crimes de repressão aos movimentos estudantis. O guarda vermelho Kaui Dafu, que trabalhava bem próximo ao Grupo da Revolução Cultural, liderou a campanha contra ele. Em 1968, Liu Shaoqi foi oficialmente removido de todas as suas posições. Liu Shaoqi foi apontado como o maior condutor do Partido ao capitalismo e também como traidor. Deng Xiaoping caiu da mesma forma, rotulado de Segundo Maior Condutor ao capitalismo, embora Mao Zedong tivesse intervido para salvar Deng Xiaoping de ser purgado. Em vez disso, Deng Xiaoping foi enviado para ser punido com reeducação e trabalho. Ele foi enviado para trabalho com tratores numa fazenda coletiva. Deng Xiaoping se manteve membro do Partido como resultado da intervenção pessoal de Mao. Depois de derrubarem Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, muitos de seus subordinados e associados também caíram. Houve um grande vazio de poder no Partido. Como no início de Julho de 1966, Lin Biao tomou o lugar de Liu Shaoqi na estrutura do Poder, para não dizer dos títulos oficiais. Mao nomeou ele o único Vice-Presidente do Partido. Mao apontou Lin Biao como seu sucessor oficial.

Os movimentos de massa não queriam apenas aumentar o purgo de revisionistas, mas também lutar contra eles. Esses movimentos vieram a entrar cada vez mais em conflito com direitistas que era leais a Mao, como Jou Enlai e líderes militares conservadores, especialmente nas províncias onde o poder de Lin Biao era mais fraco. Isso levou ao incidente de Wuhan em Julho de 1967. O General Chen Zaidao silenciou os radicais em sua província. Ele realizou um motim contra os líderes Maoístas em Pequim.

Apesar de ele ter sido temporariamente removido, a maré estava se voltando contra os movimentos de massa. Mais e mais oficiais se voltavam contra os movimentos de massa ao passo em que a violência crescia e se espalhava. A Missão britânica foi saqueada pelos guardas vermelhos. O Ministério de Relações Exteriores foi ocupado. Diplomatas estrangeiros foram golpeados. Radicais começaram a exigir a retidarada de Jou Enlai e eles conclaramaram as massas para que arrastassem para fora chefes militares nas províncias que se opuseram à Revolução Cultural. Para Mao, as coisas estavam ficando fora de controle. Por todo o fim de 1967 e até 1968, os movimentos de estudantes e trabalhadores foram finalizados. Jang Chunqiao agora pedia para os Guardas Vermelhos serem disciplinados pelos trabalhadores organizados em times de trabalho – nada diferenta da reação inicial de Liu Shaoqi ao movimento dos estudantes. Contudo, o papel principal de parar a violência entre facções frequentemente ficava com o exército de Lin Biao, o braço mais forte e eficiente do Estado. O poder dos movimentos de massa se transformou em Comitês Revolucionários. O 9º Congresso foi realizado em 1969 com o poder firme nas mãos dos Maoístas. Foi no 9º Congresso do PCC onde Lin Biao esteve no auge do seu poder. O único e grandioso bloco de poder do Congresso eram os militares. Coube a Lin Biao ler as resoluções do 9º Congresso. Foi aí que Lin Biao foi oficialmente registrado na Constituição do Partido como sucessor de Mao.

No entanto, havia divisões profundas abaixo da superfície desse Congresso de Abril de 1969. Apesar das aparências, novas lutas pelo poder estavam rachando o campo Maoísta. Mesmo antes do 9º Congresso, muitos Maoístas juniores foram expulsos com aprovação de Mao pela intenção dele de apaziguar elementos conservativos. Mao, se antecipando de conflitos futuros, começou a se juntar de novo com a “Corrente Adversa” politicamente exilada que foi a principal oposição à Revolução Cultural. Mao e Jou Enlai destinaram aos direitistas e revisionistas caídos – Chen Yi, Ye Jianying, Xu Xiangqian e Nei Rongjen – o desafio de desenvolver uma nova política de relações exteriores que não fosse tão limitadora quanto o modelo associado com a Guerra Popular global de Lin Biao. (8) Esses conflitos internos vieram à tona no Segundo Pleno em Lushan, 1970, entre os dois maiores Maoístas (além de Mao e Lin Biao): Chen Boda e Jang Chunqiao (chefe dos Guardas Vermelhos). Mao terminou do lado contrário ao de Chen Boda, que era associado a Lin Biao. Depois da conferência, Mao começou a se mover cada vez mais contra Lin Biao. Mao começou a percorrer as províncias com o fim evidente de buscar apoio daquela parte dos militares que se opuseram à Revolução Cultural e a Lin Biao. Um pouco depois, em Setembro de 1971, Lin Biao morre em uma queda de avião misteriosa e é acusado de planejar um golpe.

Nos anos que se seguem à sua morte, muitas daquelas políticas da Revolução Cultural que eram associadas à Lin Biao foram revertidas. Muitas das políticas atribuídas a Lin Biao, especialmente sua doutrina de Guerra Popular Global, agora são rejeitadas para se impor políticas mais conservadoras. As políticas esquerdistas do “Salto Voador”, associadas a Chen Boda e Lin Biao, foram revertidas a favor da posição comprometedora assumida entre “Maoístas” e revisionistas em detrimento à Revolução Cultural. Muitos daqueles altos líderes que foram purgados para solidificar as posições de Lin Biao agora são reabilitados. Aqueles que foram desgraçados como “A Corrente Adversa” agora são homenageados. Mao chegou ao cúmulo de reabilitar o “segundo maior capitalista”, Deng Xiaoping. Muito da Revolução Cultural foi revertido para que o poder de Jou Enlai e da direita subisse. Os últimos Maoístas remanescentes para se opor aos revisionistas foram o Grupo de Shangai – Jiang Qing, Jang Chunqiao, Yao Wenyuan e Wang Hongwen – que depois seriam conhecidos como “O Bando dos Quatro”. Apesar da queda de Lin Biao ter permitido ao Grupo de Shangai crescer, o poder real deles não correspondia aos seus títulos oficiais. Apesar de terem títulos impressionantes, posições impressionantes na estrutura do poder, o poder deles era quase totalmente dependente da aprovação de Mao. E o apoio de Mao à esquerda vinha caindo desde 1967, durante a Revolução Cultural. Mais ainda, esse resto de  esquerda entrou em conflito pelos anos 1970 com os revisionistas que cresciam. Nesse conflito pelo poder, a imagem e a memória de Lin Biao tinham uma importância-chave. Os dois lados atacaram o desgraçado Lin Biao como maneira de atacar um ao outro. A direita buscava rotular Lin Biao de “ultra-esquerdista”, usar a associação íntima de Lin Biao com a Revolução Cultural para manchar o movimento como um todo e o que sobrou de seus ativistas. A esquerda queria quebrar a conexão entre Lin Biao e a Revolução Cultural. Eles rotularam Lin como “ultra-direitista” com o fim de atacar Jou Enlai e Deng Xiaoping. Foi nesse contexto de lutas políticas que a investigação sobre o incidente de Lin Biao se desenvolveu. Entender essas lutas é a chave para entender a origem das falsificações em torno de Lin Biao. É nesse contexto que as evidências contra ele são inventadas.

UMA OLHADA SOBRE AS EVIDÊNCIAS E OS EVENTOS

Muitas das evidências conta Lin Biao foram produzidas pelo Grupo de Exame do Caso Especial, um grupo liderado por direitistas como Jou Enlai, mas também contendo esquerdistas como Jang Chunqiao. Há relatos de que os investigadores coagiram testemunhas. Li Wenpu recebeu preferência por seu testemunho, assim como o tratamento dado a Wu Faxian foi um exemplo deste (9) (10). As confissões eram bandeiras no vento da política. Os testemunhos, especialmente confissões dos associados de Lin Liguo (filho de Lin Biao), carregam as marcas das lutas políticas que se desenrolavam naquele tempo. Em outras palavras, as confissões por si mesmas eram inconsistentesm mas variavam com as mudanças dos ventos políticos. Por isso que são muito suspeitas. Ademais, no julgamento forjado de 1980 e 1981, aqueles com acusações criminosas buscaram perdão judicial dando aos seus acusadores o que eles queriam. Chen Boda, que passou longos anos na prisão, deu aos seus acusadores o que eles demandaram, não defendendo ele mesmo ao todo. Assim também foi o caso com os generais de Lin Biao. Yao Wenuyan e Wang Hongwen, do ‘Bando dos Quatro’, que só foram presos em 1976, cederam diante dos seus acusadores. Jang Chunqiao, morto por cancer de garganta, permaneceu em silêncio em protesto. Jiang Qing, esposa de Mao, apontou o dedo de volta para seus acusadores e para o próprio Mao. O julgamento foi um palco. Em tempos mais recentes, superestrelas que um dia foram Maoístas se prostaram diante do regime capitalista buscando algum favorecimento.

Parece ser isso o que aconteceu com o caso de Wang Li, por exemplo. Nos tempos do incidente de Lin Biao e dos julgamentos teatrais, houve um pequeno processo esperado. Não era surpresa que aqueles acusados de serem conectados com o incidente de Lin Biao desse aos seus acusadores o que eles queriam não apenas em termos criminais, mas também em termos políticos. No tempo dos julgamentos forjados de 1980 e 1981, o rejulgamento de Lin Biao, muitos dos membros do Grupo Especial, que eram investigadores originais quando Mao estava vivo, foram eles mesmos mortos e desgraçados ou acusados agora que “O Bando dos Quatro” tinha caído. É por causa disso que muito das evidências coletadas foi posto de lado pela conveniência do clima político. Nesse rejulgamento, Lin Biao não era mais julgado como “ultra=direitista”, mas como “ultra-esquerdista” da mesma forma com que muitos dos investigadores anteriores que agora são eles próprios acusados. Em um contexto onde houve um muito pouco do Devido Processo Legal, onde lutas políticas eram questão de vida e morte, e onde aqueles acusados com as investigações do incidente têm um sginificante interesse nos resultados, nós devemos ter muitas suspeitas das evidências.

FALSIFICAÇÕES E FALSAS CONFISSÕES

Os primeiros documentos publicados pelo Comitê Central sobre o incidente falharam em mencionar o que depois viria a ser uma parte chave da história. Esses documentos, de Outubro de 1971, publicados depois do incidente contêm inconsistências e falham em não mencionar nada específico sobre o golpe que seria descrito depois no “Esboço do Projeto 571″, um documento que diziam ser de autoria dos golpistas descritos nesse plano. Como dito acima, os caracteres “571” são um homônimo para “Insurreição Militar” em chinês. Os documentos iniciais eram baseados em confissões de associados do filho de Lin Biao, Lin Liguo. Esses documentos defendiam que Lin Biao era um traidor de seu país, assassino de Mao, um conspirador que planejou estabelecer um governo separado em Guangjou. Esses documentos dificilmente mencionavam golpe. Em 12 de Setembro de 1971, no “Documento do Comitê Central, no. 60, Comunicado sobre Incidente Anti-Partido de Lin Biao, Setembro de 1972″, a alegação específica de um golpe aparece mais como uma reflexão posterior. Por exemplo, no documento não há descrição de uma tentativa organizada de golpe envolvendo uma tomada do poder por unidades militares. Em vez disso, havia a alegação de que falhou um atentado contra a vida de Mao numa tentativa de explodir um trem onde ele estava, próximo a Shangai. (11) O golpe contra Mao é mencionado apenas brevemente em uma sentença. A maioria dos documentos é dedicada a descrever a alegada traição de Lin Biao de se render ao inimigo, fugindo para a União Soviética, roubando documentos secretos e um avião Tridente. O golpe é apenas mencionado na última sentença somente para afirmar que ele foi frustrado. Não foi até dois meses depois do incidente, em Novembro de 1971, que outro documento do Comitê Central mencionou a descoberta do golpe descrito no Esboço. Isso sugere que aqueles que fizeram as confissões iniciais não viram o Esboço apesar das suas confissões posteriores. Aquilo que o Comitê Central deu seguimento com outro documento descrevendo o golpe de Lin Biao sugere que eles tinham problemas em conectar a tentativa de Lin Biao de fugir com o crime maior, o golpe. (12) Em outras palavras, o golpe não era o assunto central da narrativa sobre Lin Biao desde o princípio. Mas essa centralidade se desenvolveu. E quando o povo achou a história do golpe difícil de acreditar, mais documentos foram forjados e mais confissões obtidas para dar corpo à narrativa emergente. Um estudioso pergunta:

“Um exame crítico da versão oficial da crise de Lin Biao revela algumas contradições remarcantes. Os primeiros documentos de Setembro de 1971 não dizem nada sobre contatos secretos com a União Soviética, e eles só são mencionados rapidamente, de passagem, em 1972. Antes do verão de 1973 as circulares Centrais mantém que esses eventos se concentraram em 12 de Setembro, e foi somente tempos depois que eles começaram a mencionar o chamado de Lin para um golpe de Estado em 8 de Setembro… Teria a versão original da narrativa, com os eventos concentrados em 12 de Setembro, juntado algo estranho com o escapismo da cúpula do Partido para que essas correções fossem necessárias? (13)

Também é significante notar que o médico pessoal de Mao, Li Jisui, lembra que Mao não parecia temer pela própria vida enquanto eles estavam abrigados no Grande Salão do Povo quando Lin Biao disse que Lin Biao disse estar fugindo. O próprio doutor Li Jisui suspeitou da história emergente de golpe: “Um radar chinês esteve traçando a rota do avião, e informes sobre sua posição continuaram vindo para Wang Dongxing e Jou Enlai. Ele estava seguindo para o noroeste, em direção à União Soviética. Algum tempo depois, os documentos oficiais descrevendo o voo de Lin Biao mostram que sua intenção original era voar para o Sul, rumo a Gangjou, para instaurar um governo separado. Eu nunca ouvi aquilo no luto de 13 de Setembro.” (14) O doutor de Mao, que estava próximo a Mao quando os eventos aconteceram, afirma que “Eu não acredito que Mao alguma vez tenha acreditado que Lin Biao pudesse estar planejando assassinar ele e tomar o poder para si mesmo.” (15)

O golpe descrito no Esboço só é mencionado depois de Novembro de 1971, depois de o Esboço é obtido pelo Grupo Especial (16). Esse Esboço foi supostamente encontrado sobre uma mesa um mês depois do incidente da Academia da Força Aérea, onde Lin Liguo e seus associados costumavam se hospedar. Ele foi enviado para Jou Enlai, segundo consta, em 9 de Outubro de 1971. Ele mostrou para Mao. Pelo que se diz, Jou Enlai estava hesitando (titubeando, mostrando dúvida) em entregar o documento. Ainda pelo que consta, Mao também não acreditou que o Esboço fosse um plano de Lin Biao mas decidiu largar ele num lugar qualquer. O que supostamente liga o Esboço a Lin Biao são as confissões de Li Weixin. Afirma-se que o Esboço foi o resultado de uma reunião em 20 de Março de 1971 entre Jou Yuchi, Yu Xinye, e Li Weixin em Shangai. De Lin Liguo é dito que teria falado a eles para fazer um rascunho do plano por ordem de Lin Biao. De acordo com a história oficial,Yu Xinye rascunhou o plano. Contudo, mesmo se alguém aceitar a questionável história oficial de que Yu Xinye foi o autor do plano, nenhuma ligação foi feita conectando o plano a Lin Biao. A única conexão é a de que Yu Xinye foi um colega de Lin Liguo. Mais além disso, que o Esboço encontre seu caminho rumo às confissões tão tarde sugere que as confissões ligando ele a Lin Liguo e Lin Biao foram elas mesmas produzidas apenas como uma proposta. Em outras palavras, se tivesse realmente existido como um plano, o golpe que ele descreve seguramente seria a história central desde o início. Em vez disso, tanto o Esboço como as confissões supostamente autenticadoras do Esboço aparecem atrasadas na cena para reforçar a narrativa emergente. E, como o Esboço em si mesmo, as confissões de Li Weixin e outros são recolhidas pelo Grupo Especial, conhecido por faltar com o Devido Processo Legal. (17) Uma pessoa que tem dúvidas sobre a história do golpe é o médico de Mao, que diz: “Eu não sei se o relatório detalhando a conspiração de Lin Biao foi honesto. Jou Enlai, no fim das contas, tinha interesses pessoais com os resultados.” (18) Que o plano apareça para servir às necessidades desenvolvidas nas lutas políticas do período pós-Lin Biao sugere que ele foi escrito depois do incidente.

Existe uma razão para que o regime tenha acusado Lin Biao por, mais que simplesmente matar Mao, ser um traidor, fugir et cetera. Aquelas acusações não justificam o tipo de purgo que o regime procurou decretar contra os seguidores de Lin Biao entre os militares. O regime usou a desgraça de Lin Biao como uma maneira de limpar a casa, como uma maneira de chutar os militares para fora da política, o que era um dos objetivos de Mao desde o 9º Congresso em 1969. O que parece é que desde muito tempo o regime decidiu usar a crise para fins políticos, para um purgo dos apoiadores de Lin Biao. No entanto, o regime teve problemas em estabelecer uma conexão entre o ato de Lin Biao de fugir e a história do golpe, que foi usada para justificar um purgo imenso. Por causa disso, mais e mais documentos foram publicados para justificar as ações desproporcionais do regime. É interessante notar que a versão 1980-1981 dos eventos difere da versão de 1971-1972. O julgamento teatral de 1980-1981 não é convicto de que os generais de Lin Biao estavam “tentando estabelecer um gooverno separatista em Guangjou.” Esse julgamento também repudia as acusações originais dos generais envolvidos nas tentativas de assassinar Mao ou preparar um golpe. A razão para a discrepância entre os dois tipos de acusação é óbvia. Nos anos 1980, o problema de colocar os seguidores de Lin Biao fora do poder e retirar os militares das políticas civis foi resolvido pelo purgo anterior que se resolveu imediatamente depois da morte de Lin Biao. Não há razão para manter as falsas acusações contra os generais já caídos em 1980-1981.

FALTA DE CONHECIMENTO MILITAR NO PLANO

Uma das primeiras coisas que alguém percebe é que o Esboço não parece muito um plano de golpe ao todo, mas se parece mais com com 24 pequenas páginas de notas deturpadas. (19) Uma das primeiras coisas que impressiona é a falta de detalhes ou conhecimentos militares ausentes no Esboço. Ele está longe de um plano sério para um golpe. Se Lin Biao estava tentando impulsionar um golpe em um país tão grande como a China, qualquer um pode esperar que ele tivesse desenvolvido alguma coisa mais sofisticada que um punhado de notas rabiscadas em post-its. Quando começou a Revolução Cultural, um momento em que havia um grande medo de um golpe ou contragolpe. a favor e contra os Maoístas, Lin Biao foi capaz de realocar as guarnições de Pequim com tropas leais a ele. Lin Biao, junto com Mao, preparou o trabalho de base para a Revolução Cultural tomar o poder da elite do Partido que se opunha a ele. Lin Biao não era estranho a preparações militares como essa. Durante o início da Revolução Cultural, Lin Biao transformou o exército em uma espécie de poder paralelo – nova mídia, nova arte e cultura, nova educação política et cetera. – para enfrentar o velho Estado. Lin Biao era conhecido como um brilhante general que contava com estratégias complexas  para chegar à vitória. O que se encontra no Esboço é de longe muito desajeitado para ser um plano real assinado pela “maior general” da China. A filha do chefe desposto da força aérea atesta:

“Quem quer que tenha desenhado o plano tem limitado conhecimento em táticas militares e organização. Por exemplo, dizem que as forças básicas dos conspiradores estavam na Quarto e Quinto Exércitos da Força Aérea, o Nona, Décima Oitava e Trigésima Quarta Divisões da Força Aérea, o Vigésimo Primeiro Regimento de Tanques, e, estranhamente, a Administração da Aeronáutica Civil. Por conta disso, a estimativa do autor do plano era de que não mais de meia dúzia de unidades militares iriam apoiar o golpe. É difícil imaginar que Lin, que comandou um milhão de tropas e tinha complexos conhecimentos do que era necessário para qualquer situação militar, poudesse aceitar estimativas de força como essas como suficientes para conduzir um golpe. É igualmente duvidoso que Lin Biao tivesse confiado tanto na força aérea para conseguir algum sucesso.” (20)

O plano buscava estabelecer um regime rival em Guangjou. Nem Ding Sheng, o comandante da região, nem Liu Xingyuan, o comissário político da região, eram especialmente conectados a Lin Biao, embora eles fossem subordinados do Chefe do Estado-Maior Huang Yongsheng desde que ele estava em Guangjou. Quando Mao procurou conseguir apoio contra Lin Biao e Huang Yongsheng, Mao passou por Guangjou para falar com Ding Sheng. Foi em Ding Sheng que Mao confiou a aplicação do “Teste de Ventos” aos seus subordinados, pedindo a ele que reunisse opiniões para a pergunta: “O que aconteceria… se Huang Yongsheng [Chefe do Estado-Maior ligado a Lin Biao] fosse demitido?” Mesmo chocado com as perguntas e declarações de Mao, Ding Sheng disse: “Depois disso, nós fomos para Dishuidong, em Shaoshen, para tomar nota do que Mao disse. Depois disso, nós retornamos para nossas províncias para transmitir os principais pontos das declarações de Mao.” (21) Em adição, no outono-inverno de 1970 e 1971, foram encontradas oposições às medidas econômicas esquerdistas de Lin Biao em Guangjou. Lin Biao era associado com uma renovada economia Maoísta preparada para reconstruir a economia coletiva, revigorar as comunas do povo, e “Aprender com Dajai”, um modelo de comunidade Maoísta. Havia um alerta na imprensa de Guangjou sobre “a mentalidade da estagnação, do pessimismo e da atitude de que ninguém pode conseguir nada de significante”, e também “um falso orgulho e autoestima”, que poderia “previnir o povo de realmente aprender com o exempo de Dajai”. (22) Guangjou foi cenário de oposição às tentativas de Lin Biao de reconstruir a economia coletiva. Dificilmente um bom lugar para Lin Biao fundar uma sede de Comitê Central rival. Isso diz muito sobre os motivos de tanto Ding Sheng como Liu Xingyuan se manterem em seus postos no período pós-Lin Biao. O único aliado de Lin Biao na região era Gu Tongjou, o Chefe regional do Estado Maior da Força Aérea, e uma irrisória centena de pessoas do Destacamento de Combate de Guangjou supostamente associada à “Esquadra Conjunta” do golpe. Para explicar essa óbvia desconexão entre o Esboço e a realidade, algumas versões da narrativa tentam reinterpretar Guangjou não como o quartel-general de um regime rival, mas afirmando que Guangjou seria usada como um trampolim para fugir em direção a Hong Kong. (23) Essa tentativa de fazer o Esboço parecer mais plausível apenas denuncia como implausível a leitura literal do Esboço é. E os mesmos problemas de antes permanecem. Isso lança dúvidas se tanto Lin Biao ou Lin Liguo ou qualquer um com profundo conhecimento da rede de lealdade a Lin Biao tivesse muito o que fazer pelo que está escrito no Esboço. Isso aconteceria mesmo fechando o círculo de acusados apenas em torno de Lin Liguo, que dizem ter ordenado a escrita do plano. É evidente que se poderia esperar que eles soubessem alguma coisa das relativas forças e fraquezas do suporte a Lin Biao fora de Pequim se eles fossem encarregados de escrever o plano para o golpe. Qi Jin especula que Lin Liguo pudesse ter pedido aos seus associados para fazer planos para vários golpes contra Mao. Ela especula que os subordinados de Lin Liguo foram pegos em uma obrigação.Eles não foram sérios sobre um golpe ou morte para Mao, mas eles também não poderiam recusar a ordem do patrão. O Esboço, como ela especula, poderia ser visto como uma tentativa de apaziguar o chefe deles, mas não como um plano sério. Apesar de ser uma explicação melhor que a versão oficial, a história continua sem fazer sentido. Mais uma vez, nada disso explica a vasta desconexão entre a realidade e o Esboço. É certo que eles pudessem ter algum conhecimento sobre em quê produzir o plano. Eles não iriam decidir aleatoriamente Guangjou como local do novo regime rival. A falta de conhecimento sobre a força atual de Lin Biao sugere que o Esboço foi escrito por alguém que era muito distante a Lin Biao e Lin Liguo. Isso também sugere que o autor não era sofisticado o bastante para prever esse problema enorme no documento.

De maneira similar, os planos para o assassinato de Mao contidos no Esboço e confissões tinham uma qualidade de livro de aventuras, ao estilo James Bond. Mao deveria ser morto de maneiras muito exóticas. Numerosos planos para assassinar Mao foram produzidos, incluindo o de disparar um lança-chamas no trem. Outro, usando armas antiaéreas pesadas para disparar à queima-roupa no trem. Investigações sobre armas químicas também foram alegadamente feitas. Havia um plano para simplesmente usar uma pistola, mas a maioria dos planos era absurdamente complicada e obviamente impravél, com fatores completamente fora do controle dos assassinos, e numerosos pontos onde as coisas fariam o tiro sair pela culatra. Esses planos não eram trabalho de uma mente militar séria. Eles dificilmente fazem parecer que Lin Biao, se tivesse intenção de matar Mao, confiaria uma operação delicada desse tipo a amadores dessa espécie. Em vez disso, como a própria história do golpe, as acusações de assassinato se mostram muito duvidosas. (24) Essa é também outra parte do Esboço que continua precisando de explicações:

“Uma pequena gangue de homens requintados tinha se transformado em déspotas sem remorso; além disso, eles controlam o poder militar e fazem inimigos por todos os lados.” (25)

Desde que era Lin Biao e seus generais que ocupavam as posições chave do poder, era difícil ver o que Lin Biao poderia ganhar com esse tipo de reclamação se ele realmente fosse o autor. Uma das queixas chave do período pós-Lin Biao era a de que se permitiu que muito poder fosse reunido nas mãos dele. Essa é apenas outra parte do Esboço que continua precisando se esclarescida. No entanto, se foram escritas por alguém se passando por Lin Biao, escritas por alguém sem profundo conhecimento nos trabalhos internos dos militares, esse é o tipo de reclamação confusa que se pode esperar.

O PLANO DO GOLPE ELOGIA INIMIGOS DA CHINA, OMITE O OCIDENTE

Senso comum: Se alguém está planejando um golpe, esse alguém deve agir como e fosse um patriota, não como um traidor. O documento é tão amador que foge desse caminho e considera quase todos os principais inimigos da China grandes benfeitores. A União Soviética, que estava sendo encarada como o principal inimigo da China sobre todos os outros do mundo, é retratada numa visão positiva. Mais ainda, o Esboço chega ao absurdo de conter referências positivas a fascistas, tanto do Kuomitang como do Japão. O documento atesta:

“O confronto entre China e União Soviética  está deixando a União Soviética em tempos difíceis; nossa ação deverá apoiar a União Soviética.” (26)

Essas palavras são muito estranhas para alguém que construiu toda uma carreira se opondo ao revisionismo soviético. Depois do Grande Salto, permaneceram muitas lutas políticas sem serem resolvidas. Havia muita tensão debaixo da superfície. Como parte do fracasso do Grande Salto, Lin Biao entrou no lugar Peng Duhuai no Ministério da Defesa. Peng Duhuai era um crítico das Políticas Econômicas Maoístas durante o Grande Salto. Ele também criticava o culto à personalidade de Mao. O criticismo dele às políticas ecoômicas e ao populismo dos Maoístas refletiram internacionalmente com Nikita Kruschev, que também criticava Mao. Lin Biao veio para ajudar Mao contra os revisionistas mundo a fora e dentro de casa. A carreira política de Lin Biao era como a de um partisano da luta Maoísta. Ele queria transformar o Exército de acordo com as linhas Maoístas, longe da rigidez soviética, seu hierarquismo e profissionalismo. A politização pelas linhas Maoístas era um passo importante na preparação das bases institucionais para lançar a Revolução Cultural, o que também assegurava aos Maoístas controlar as armas nas lutas que se seguiriam – ao menos durante a maior parte do tempo. Educação Política, elevação do culto entorno de Mao et cetera foram, em parte, esforços para assegurar a lealdade do exércitona crise que viria. O exército, agora como instituição Maoísta, não apenas uma Força Armada, se envolvia na sociedade como um todo, espalhando influência Maoísta. Outra luta importante no exército a caminho da Revolução Cultural era a luta entre Lin Biao e Luo Ruiqing, que era naquele tempo Chefe de Estado-Maior do Exército. Havia muitas questões envolvidas na luta. Contudo, Lin Biao justapôs sua doutrina de Guerra Popular Global escrita em “Viva a Vitória da Guerra Popular!”, que se opunha tanto aos impérios do Ocidente como do Oriente (URSS), à doutrina de Luo Ruiqing “O Povo Derrotou o Fascismo Japonês e pode com certeza Derrotar o Imperialismo Também”, que desejava formar uma Frente Ampla com a URSS para lutar contra o Ocidente. Outra vez, Lin Biao associou ele mesmo, e seu maior trabalho teórico, com a luta contra a União Soviética, contra a reconciliação com os social imperialistas. Se nós formos acreditar no Esboço do Projeto 571, deveremos também acreditar que Lin Biao teria revisado quase todas as posições políticas a que ele se associou por décadas. Isso não é só contraditório, também leva a más políticas. Alguém querendo tomar o poder não iria projetar uma imagem de um sujeito que é vira-casacas, especialmente para seus compatrioras.

Ainda mais ultrajante é que o Esboço elogia tanto facistas japoneses como chineses, os dois principais inimigos históricos do Partido Comunista:

“Disciplinadamente conduzir todas as ações de acordo com os comandos e manifestar o espírito de Edashima. Estar preparado para morrer pela causa.” (27)

“Espírito de Edashima” é uma referência à tradição samurai japonesa de autossacrifício e lutar até o fim. “Morte antes da desonra!”, um slogan usado por Chaing Kaishek para treinar seus oficiais do Kuomitang, tem registros relatados em algumas versões do texto (28) A guerra civil e a guerra de liberação ainda estavam frescas na mente do povo chinês. Fresca também estava a memória dolorosa das atrocidades fascistas. As experiências sofridas da ocupação e do genocídio mesmo hoje são o coração da História que forma a identidade da China moderna. Foi uma marca de honra na memória ter se sacrificado e lutado contra os fascistas pela libertação da China. Adultos da geração de Lin Biao descreviam as batalhas heróicas contra os japoneses e também o Kuomitang para seus familiares. Os jovens atuaram em peças teatrais de famosas batalha e leram sobre os bravos guerreiros que lutaram contra seus inimigos. Os soldados veteranos da geração de Lin Biao passaram muitos anos de suas vidas lutando contra fascistas, o Japão imperial, cujas tropas se apresentavam como samurais modernos. Eles passaram muitos anos combatendo o Kuomitang. Patriotas chineses que salvaram a China nunca se representariam com os nomes dos inimigos históricos da China. Mesmo aqueles que conscientemente pensaram em trair a China não seriam tão estúpidos para se apresentar dessa maneira. Fazer isso seria uma idiotice, o extremo da política ruim. Lin Biao conseguiu o título de “Maior general da China” em lutas contra os fascistas japoneses e o Kuomitang. É um absurdo que Lin Biao pudesse escrever ou supervisionar o documento. A reputação de Lin Liguo estava amarrada à de seu pai. É extremamente duvidoso que qualquer um próximo a Lin Biao ou Lin Liguo pudesse ter escrito o Esboço. Somente um falsificador com pouca sofisticação ou alguém que estava em pânico poderia preparar um documento feito de qualquer jeito e nada convincente como esse.

O grande inimigo que está curiosamente ausente são so Estados Unidos e os imperialistas ocidentais. Isso lança algumas luzes sobre a origem do documento. O Esboço foge do seu caminho ao associar Lin Biao com a URSS, os japoneses e o Kuomitang. Quando Mao estava aberturas para os EUA, preparando o terreno para uma aliança de fato com os imperialistas do Ocidente contra a URSS, o documento omitiu qualquer ligação entre Lin Biao e os EUA e os imperialistas do Ocidente. O autor do documento deveria ter algum conhecimento da situação de mudança política, se certificando de ligar Lin Biao aos novos inimigos, não velhos inimigos no processo de modificação de alianças. Mesmo o documento sendo desajeitado, quem quer que tenha escrito ele tinha conhecimento suficiente da situação política para evitar ligações entre Lin Biao e as atuais medidas de Mao para descongelar as relações entre China e Ocidente.

CÓDIGOS ESPIÃO X ESPIÃO

O Esboço é apimentado com códigos distintivos, mas obscuros. Os caracteres em Chinês no título dizem “571”n um homônimo para “Insurreição Militar”. O falsificador repete “571” no documento numerosas vezes. Chutando um cachorro morto, “571” aparece ao menos quatro vezes na página de abertura, por exemplo. Outros códigos incluem: “B-52″, “a caneta”, “a esquadra”, “navios de guerra”, “o Chefe” et cetera. (29) Esse tipo de codinomes transparentes não têm o menor uso militar ou de segurança, mas dão ao Esboço um certo visual de James Bond. O Esboço se parece mais com uma novela sobre espiões ou roteiro de teatro do que com um documento militar real. Outra vez, isso dá a ele uma qualidade ridícula, o que sugere arrogância, juventude.

A linguagem das confissões é semelhante à linguagem do Esboço. Nas confissões, Lin Biao é referido como “o Chefe”. Ye Qun, a esposa de Lin Biao, é “a Condesa”. (30) Sendo o Esboço uma farsa, isso sugere que as confissões também são muito suspeitas. É muito difícil acreditar que um grupo sério de golpistas pudesse escolher um tipo de disfarce para eles mesmos que evidencia suas arrogâncias. Se “despotismo feudal” era uma das principais queixas do Esboço, como poderia Lin Biao, e especialmente sua esposa Ye Qun, escolher disfarces que enfatizam tanto a própria distância deles das massas? Isso é ainda mais evidente no suposto disfarce de Ye Qun, que é um título feudal. Uma das principais conquistas da Revolução Chinesa foi livrar a China das”Duas Montanhas” do feudalismo e do imperialismo – uma luta a que Lin Biao se dedicou sua vida também. Acusar inimigos de feudalismo é um dos pilares da política chinesa, especialmente durante a Revolução Cultural. Os Guardas Vermelhos acusaram um ao outro de ser “monarquistas”. Liu Shaoqi foi acusado de ser parente de senhores feudais. Revoltas camponesas às vezes terminavam com senhores feudais sendo forçados a usar chapéus pontudos para serem humilhados. Durante a última “Campanha para Criticar Lin Biao e Confúcio” tanto a direita como a esquerda do Partido acusaram os dois de comportamento confucionista e feudal. Descrever alguém como feudalista, mesmo que somente como um disfarce, é simplesmente inconcebível para alguém em busca do poder no clima político chinês. De novo, isso sugere falta de sofisticação por parte do falsificador.

Outro caso de menção ruim é o de Mao, que o documento chama de “B-52″,designação para um famoso bombardeiro de longo alcance dos EUA. É outra vez inconcebível que Lin Biao ou qualquer outro de sua geração pudesse mostrar tanto desrespeito para Mao. Eles dedicaram suas vidas ao Partido onde Mao está como figura central. Mesmo os revisionistas que chegaram ao poder depois da morte de Mao e reverteram a Revolução Chinesa não tratam Mao nesses termos. Até eles passaram por um tempo difícil reconciliando suas críticas com a associação da imagem de Mao à deles por mais de meio século. Mesmo Deng Xiaoping continuou caracterizando suas teorias capitalistas com termos do Maoísmo. Esse respeito por Mao continua até hoje. Mesmo com as críticas que surgiram dentro do Partido depois de sua morte, Mao é um herói maior que a vida, apesar dos seus erros. Ele é uma figura que se agiganta na história, cuja sombra se lança por mais de um século, que é inseparavelmente ligado ao nascimento da nova China. Mao não é simplesmente um político. Mesmo os revisionistas dizem que Mao deve ser visto como correto em grande parte. Mesmo que os revisionistas tenham revertido totalmente o socialismo, eles continuam medidindo as contribuições de Mao como 70 por cento boas, 30 por cento ruins. O persistente respeito por Mao é visto mesmo na história revisionista do Partido. Mesmo com as diferenças que existiram, é difícil ver aqueles da geração de Lin Biao chamando o líder da Longa Marcha de “B-52″.

Lin Biao juntou por si só sua imagem ao crescimento de Mao desde as lutas políticas da Longa Marcha. A maior parte da vida de Lin Biao dedicada a seguir Mao e encorajar outros a fazer o mesmo. Basta lembrar como Lin Biao era publicamente retratado como “O melhor estudante de Mao”, “Camarada-de-armas mais próximo”, “sucessor designado” et cetera. Lin Biao promoveu o culto à personalidade de Mao a novos níveis na preparação para a Revolução Cultural. Ele era visto como principal intérprete do Maoísmo durante a Revolução Cultural. O público frequentemente vinha aprender sobre as novas instruções de Mao através de Lin Biao. Ele era o Papa do culto, em certa comparação. Esse desrespeito por Mao, mesmo se Lin viesse a se opor a ele, não está apenas fora do caráter da geração de Lin Biao, mas dele mesmo em particular. A própria Legitimação de Lin Biao era ligada à legitimação de Mao e do Maoísmo. Esse tipo de desrespeito seria um suicídio político para Lin Biao. Se ele visse a se opor a Mao, faria muito mais sentido caracterizar Mao da forma que os revisionistas modernos fazem, como um grande homem que comete erros por causa da idade. Se alguém pretende trair uma pessoa que é considerada como um grande herói depois de toda uma vida de serviço a ele, é politicamente oportuno manter um tom de respeito em relação a esse alguém, não se referir a ele como “B-52″ ou como “déspota feudal”. (31) Mais uma vez, o Esboço parece ser obra de amadores com pouco senso do que Mao significou para a geração de Lin Biao. Uma atitude arrogante com Mao desse tipo era difícil de encontrar na classe política chinesa. Talvez uma arrogância dessa tivesse vindo das crianças dos oficiais do Partido. Elas não marcharam com a lenda, sobre as montanhas, fugindo das bombas. Talvez Mao tivesse perdido um pouco de seu brilho para os filhos e filhas da elite do Partido à medida que a Revolução Cultural se desdobrava. Mesmo o próprio termo, um bombardeiro americano “B-52″, sugere juventude. A frieza da falsificação, a atitude arrogante não combinam com Lin Biao.

POLÍTICAS DO GOLPE

Outro ponto que se deve noticiar é o de que as queixas políticas contra o regime de Mao no Esboço não se encaixam com o que se entende por políticas de Lin Biao. AS políticas do Esboço são quase ponto-a-ponto o oposto das políticas associadas a Lin Biao. Ele foi adorado como símbolo vivo da Revolução Cultural. Ele foi percebido como um guerreiro e como um monge, misturando o asceticismo dos dois. Foi através de Lin Bao que o pensamento Maozedong foi comunicado para as massas chinesas. Lin Biao era reconhecido como Maoísta de Alto Nível, um esquerdista sólido, um militante de Mao. Mesmo se sua personalidade pública fosse apenas uma máscara, é óbvio que faria mais sentido manter essa máscara de alguma forma do que abruptamente jogar ela fora de uma maneira extrema. De um ponto de vista oportunista, mudar repentinamente uma política não leva a nenhum respeito ou admiração. Se as políticas do Esboço fossem as verdadeiras políticas de Lin Biao por debaixo dos panos, seria uma surpresa para qualquer um a forma como ele conseguiu avançar tanto dentro do regime Maoísta. Se, realmente, as políticas conservativas, reacionárias do Esboço fossem as verdadeiras políticas dele, então elas refletiram tão pouco no regime Maoísta como um todo que permitiram não só a um mentiroso chegar no topo como permitiram que esse tipo de homem fosse descrito na Constituição do Partido como “sucessor designado” com o apoio da elite Maoísta inteira. O que parece bem mais óbvio: AS políticas do Esboço não são as de Lin Biao.O Esboço critica os Maoístas:

“Os camponeses passam fome e têm poucas roupas.” (32)

Mais:

“Durante os primeiros anos, os Guardas Vermelhos foram enganados e usados, e serviram de bucha de canhão; momentos depois, eles foram reprimidos e usados como bodes expiatórios. Chefes administrativos foram removidos e enviados para as escolas administrativas 7 de Maio, sem receber pagamentos por seus trabalhos. Trabalhadores (especialmente os trabalhadores jovens) tiveram seus salários congelados, cuja quantia disfarçava a exploração.” (33)

E:

“O envio de jovens intelectuais para as montanhas e as áreas rurais é na verdade uma forma disfarçada de reforma trabalhista.” (34)

E também:

“O socialismo deles, em essência, é social fascismo. Eles transformaram o Estado em um tipo de moedor de carne para o abate mútuo e geração de conflito, e fizeram do Partido e de toda a vida política do país uma vida patriarcal de um tipo feudal, aristocrático e ditatorial e Ele é o maior déspota feudal de toda a história chinesa.” (35)

É verdade que Lin Biao favoreceu uma ênfase renovada sobre a economia depois do 9º Congresso, em 1969. O caos dos movimentos de massa e o faccionalismo de 1967 a 1968 levaram ao fracasso da economia coletiva. Desde que a fase dos movimentos de massa se encerraram, Lin Biao estimulou o fortalecimento das comunas populares, que os Maoístas tradicionalmente viam como uma parte importante da transição para formas superiores de socialismo e comunismo. Com atraso, em 1970, Lin Biao conduziu a volta da campanha “Aprenda com Dajai” (36) No entanto, o tipo de medidas econômicas que os Maoístas tradicionalmente favorecem são focadas na criação de riqueza pública, não riqueza pessoal. O tipo de socialismo a que Lin Biao estava associado era ascético e militarista. Nessa perspectiva, os camponeses e trabalhadores viriam uns aos outros como uma espécie de guerrilheiros, sacrificando o próprio bem-estar pelo povo como um todo. As políticas econômicas do Esboço criticam os Maoístas por desperdiçar a riqueza do país, por baixar a qualidade de vida por vontade dos políticos, por reduzir a riqueza pessoal. Críticas dessas ao Maoísmo estão muito longe do asceticismo guerreiro de Lin Biao. Elas são típicas críticas aos Maoístas feita por direitistas e revisionistas.

Essas críticas econômicas são exatamente o que Lin Biao mais combateu, como figura pública. Como a voz da Revolução Cultural, Lin Biao era associado à rejeição do consumismo ocidental. Ele era associado ao asceticismo guerrilheiro, uma revolução na superestrutura que põe a luta de classe sobre o desenvolvimento de uma economia consumista. Foi Lin Biao quem criou o slogan “Combater a si mesmo! Repudiar o revisionismo!” O criticismo que foi posto na boca de Lin Biao através do Esboço é exatamente aquele de seus oponentes. Peng Duai, que Lin Biao substituiu, fez críticas similares a Mao durante o Grande Salto. A defesa de Lin Biao ao radicalismo Maoísta foi exatamente o que levou ele a substituir Peng Duai como Ministro da Defesa. O ex-presidente Liu Shaoqi, que esteve nas posições mais altas das hierarquias chinesas depois de Mao Zedong, caiu porque seu economicismo foi entendido como revisionismo, como capitalismo. Mais uma vez, foi Lin Biao quem reorganizou a economia pelas linhas Maoístas, “O salto voador”, de 1969 até 1971. Era nessas áreas onde a base do poder de Lin Biao era mais forte que as políticas ‘maoístas’ implantadas pelo próprio Mao, mesmo que apenas por pouco tempo. Lin Biao era muito associado às ideias Maoístas de Poder Popular, Ideologia, Luta de Classes, Experimentação Social, Igualitarismo, Chegada ao Comunismo etc. Era a mídia de Lin Biao que enfatizava esses temas. Lin Biao era intimamente ligado com a história heroica de Dajai, uma comunidade agrícola que dizem ter superado obstáculos terríveis, até virar um modelo tempos depois. Outra vez, esse histórico marcante fornce dicas sobreo que é o Esboço. O falsificador tentou ligar Lin Biao à direita mesmo com essas críticas passando a quilômetros de distância de suas políticas esquerdistas. O Esboço continua criticando os chefes de Revolução Cultural:

“Os chefes que foram rejeitados e atacados no curso da prolongada luta dentro do Partido e da Revolução Cultural estão furiosos mas não ousam dizer” (37)

E o Esboço critica até a liquidação de pessoas como Peng Duai e Liu Shaoqi promovida por Mao:

“[Você viu] alguém que ele apoiou inicialmente que não teve uma sentença de morte política?” (38)

Essa queixa vai contra muito do que sabemos sobre Lin Biao. Depois de tudo, Lin Biao veio a ser Ministro da Defesa substituindo o crítico de Mao Peng Duai. Em seguida, Luo Ruiqing é varrido por Lin Biao para abrir caminho para o livr desenrolar da Revolução Cultural. Sem o apoio de Lin Biao, os Maoístas não poderiam mobilizar os movimento de massa para a vitória sobre Liu Shaoqi e Deng Xiaoping. Lin Biao foi um dos principais beneficiários da Revolução Cultural. O exéricot também viu sua influência crescer à medida que os soldados ocupavam cargos de liderança no Estado. Quando Mao começou a reabilitar “A Corrente Adversa de Fevereiro” dos homens civis e militares direitistas e revisionistas que se opuseram à Revolução Cultural em seu período inicial, Mao jogou a culpa da queda deles sobre Lin Biao. Especialmente, Mao afirmou que Lin Biao estava por trás da queda do general e Ministro das Relações Exteriores Chen Yi. Tudo que se sabe sobre a pessoa pública de Lin Biao está fora do Esboço. Existe nele um método para a loucura, no entanto. O falsificador queria distanciar Lin Biao da esquerda remanescente reinventando Lin Biao como um direitista e revisionista.

JANG CHUNQIAO, O HERÓI DO PLANO

O que é interessante no Plano do Golpe é o número de vezes em que Jang Chunqiao é mencionado. No plano, é Jang Chunqiao quem aparece como antagonista de Lin Biao. Por causa disso, ele emerge como um herói em contraste com Lin Biao, o grande vilão. No próprio Esboço, ele é mencionado ao menos duas vezes pelo nome, e outras por código. Os Maoístas remanescentes, aqueles que viriam a ser conhecidos como “O Bando dos Quatro”, são aludidos algumas vezes:

“Jang Chunqiao deve ser capturado. Em seguida, usar todos os instrumentos de opinião pública para publicizar suas traições criminosas” (39)

E, pelas confissões obtidas pelo Grupo Especial:

“Jang Chunqiao estáe expandindo sua influência” (40)

E:

“[Temos que nos] livrar de Jang Chunqiao e seus seguidores…” (41)

Yao Wenyuan, um amigo de Jang Chunqiao, um esquerdista e revolucionário cultural de Shangai, é mencionado:

“Lin Liguo adicionou: Depois teremos que cuidar de Jang [Chunqiao] e Yao [Wenyuan], se necessário se necessário tomar parte da Força Aérea de Nanking para controlar a situação em Shangai; em seguida juntamos outras forças por todo o país para emitir uma declaração de apoio, e forçamos o Comitê Central a expressar seu apoio.” (42)

Uma coisa estranha se revela. Na linguagem dogolpe tão carregada de codinomes para todos, porquê o nome de Jang Chunqiao aparece claramente no Esboço, especialmente quando ele faz um tipo formidável de oposição ao golpe? O falsificador não quer fazer confusão aqui: Jang Chunqiao é inimigo de Lin Biao. Isso revela para qualquer um as principais razões da história do golpe e dos documentos. A história do golpe é parte de uma tentativa de quebrar a conexão entre Lin Biao e o que sobrou dos Maoístas, quebrar a conexão entre Lin Biao e Revolução Cultural que ele tanto representava.

Shangai, a base política da esquerda remanescente, é mencionada algumas vezes como o centro dos problemas potenciais para o golpe de Lin Biao tanto no Esboço quanto nas confissões. Essa ênfase sobre Jang Chunqiao, a ênfase sobre Shangai e as menções a Yao Wenyuan são todas voltadas para a quebra da ligação entre Lin Biao e os esquerdistas remanescentes. No imaginário público, os Maoístas são principalmente vistos como um bloco unido. Jiang Quing começou sua carreira na política como Consultora Cultural para o exército com o patrocínio de Lin Biao. Quando ele ficou associado à tentativa de golpe, o bloco Maoísta inteiro facilmente se tornaria suspeito. A queda de Lin Biao ameaçou a derrubada de toda a esquerda mesmo que houvessem grandes divisões dentro dela.Isso também ameaçou desacreditar a Revolução Cultural como um todo, fazendo ela se passar por mera política de poder sectária. Nas consequências da queda de Lin Biao, a direita, aqueles em torno de Jou Enlai e “A Corrente Adversa” procuraram ligar o que sobrou da esquerda e seus políticos com o grupo de Lin Biao. A história do golpe foi forjada para evitar que a queda de Lin Biao manchasse o movimento Maoísta como um todo. Até o dia de sua morte, Mao trancou a luta política tentando preservar a Revolução Cultural apesar da profunda oposição. O Esboço foi quase certamente produzido com o propósito de danificar o controle dos Maoístas remanescentes.

O documento favorece tanto Jang Chunqiao que alguém pode suspeitar que ele era o autor. Contudo, ele era sofisticado demais para produzir uma coisa tão grosseira. O mesmo pode ser dito de Yao Wenyuan, um crítico literário. Jang Qing também trabalhava com artes. Com exceção de Wang Hongwen, a maioria deles têm um histórico de educação profunda com experiência em alta cultura e alta política chinesas. Eles certamente seriam capazes de produzir um documento mais fácil de acreditar. Se fossem eles os autores do Esboço, é claro que teriam feito um trabalho melhor. O que é mais plausível é que o Esboço foi produzido por forças sob pressão para ajudar a esquerda remanescente. No caso do Esboço em si mesmo, ele deve ter sido feito antes. No caso das confissões autenticadoras de pessoas como Li Weixin, provavelmente foram feitas depois. O que é mais interessante é ver como as evidências recolhidas pelos investigadores (alguém simpático à esquerda, familiar com a investigação, mas também pouco sofisticado) levam ao que está descrito no Esboço. Há alguma chance de essas evidências levarem aos investigadores em vez de Mao. Depois de Mao liberar o Esboço, apesar de considerar ele fraudulento em segredo, os investigadores, especialmente aqueles à esquerda, produziram as confissões. Isso explica a evolução das narrativas nos documentos do Comitê Central. É possível que o Esboço seja obra de Xie jingyi, Vice-presidente do Comitê Revolucionário da Universidade de Qinghua. Jiang Qing e seus aliados receberam um amplo apoio do campus. Xie Jingyi, segundo o médico de Mao, tentou soar o sino de alarme mesmo antes da queda de Lin Biao para alertar da ameaça de golpe. A esposa dele, Xiao Su, era uma oficial da aeronáutica com acesso. Segundo consta, os alertas de Agosto de Xie Jingyi continham muitos códigos bizarros e codinomes, parecendo com o Esboço que surgiu depois. Rumores desse tipo e suspeitas de golpe eram comuns entre a população e a liderança. Em 1970, circularam rumores em Yunnan de que Lin Biao tentou derrubar a tiros o avião onde estava Jou Enlai. (43) Jiang Qing relatava ameaças de envenenamento e assassinato com frequência. (44) (45) Não seria surpresa se os rumores pré-incidente baseados em paranoia, combinados com farsas e confissões politicamente motivadas ou coagidas, encontrassem um caminho dentro da narrativa. Todos esses problemas transparentes com a história do golpe são certamente a razão pela qual o regime nunca publicou o Esboço por inteiro para ser examinado pelas massas chinesas. Ao invés disso, polêmicas contra Lin Biao são seletivamente citadas dele. Manter o Esboço escondido das massas mostra o quanto ele é problemático, e o regime sabe disso.

UM AVIÃO DERRUBADO E SEQUESTRO AVISADO

Há muito a se considerar sobre os eventos em torno das últimas horas antes da queda do Tridente que tinha Lin Biao a bordo. Se existia um plano pré-estabelecido para simplesmente fugir ou viajar para qualquer outro lado para estabelecer um regime rival, então seria muito estranho que o avião não tivesse combustível para ir onde precisasse. Também é exótico que, como foi registrado, o avião mudasse seu curso algumas vezes. Também é esquisito que o avião estivesse voltando para a China quando caiu na Mongólia. Ainda mais curioso, relatórios de investigadores mongóis dizem que armas de fogo foram disparadas pelo avião momentos antes de ele caiu. É impossível saber com certeza as causas dos eventos estranhos em torno da queda do Tridente. Contudo, a história oficial de que o avião caiu por falta de combustível quando Lin Biao estava a bordo é suspeita. Lin Biao passou a maior parte dos anos de sua vida como um soldado com uma reputação conseguida planejando complexos estratagemas. Lin Liguo foi Diretor Adjunto do Departamento de Guerra do Comando da Força Aérea. Seria estranho pensar que oficiais militares do calibre deles pudessem não saber encher um avião com combustível suficiente, dadas as décadas de experiência militar com peritos em voo. E o que dizer da tripulação do avião? Eles também não prestaram atenção?

É de se lembrar que o telefonema que supostamente informou as autoridades da tentativa de escapar de Lin Biao foi supostamente feito por Lin Doudou, filha de Lin Biao. Ela disse que Lin Biao foi sequestrado pela esposa e pel filho. Ela denunciou o que ela entendeu como um sequestro algumas vezes, mas os guarda-costas militares da unidade 8341 e seus auxiliares ignoraram o aviso dela por dias antes do incidente. (46) Ela estava frenética nos momentos finais. Enquanto Lin Biao estava se preparando para pegar o avião, os soldados foram ordenados por um telefonema de Pequim para ficarem quietos. Esses soldados só foram liberados para agir depois que fosse muito tarde. Em um dos telefonemas de Pequim Lin Doudou recebeu ordens para acompanhar sua família, a mesma família que ela dizia estar envolvida num sequestro. “Agora, a direção do Comitê Central do Partido é a de que você suba no avião e vá com eles”, ordenaram os soldados com contato em Pequim para ela. Ela recusou. (47) A ordem só poderia ter partido de Mao ou Jou Enlai. Parece que Mao ou Jou Enlai tinham conhecimento anterior da partida do avião e esperava conseguir se livrar de um grande problema levando Lin Doudou para ter o mesmo destino que sua família. Afinal de contas, considerando que Lin Biao estava por trás da tentativa de fulga, por quê ele levaria toda a família, mas deixaria a filha que tanto amava? Lin Doudou era um problema em potencial. Nesso ponto, supondo que estaria envolvido num golpe contra Lin Biao, Jou Enlai não tinha ideia da extensão do conhecimento de Lin Doudou sobre os eventos. Faz sentido que ele quisesse ter uma preocupação a menos levando ela para o avião. Existe ainda outro indicativo dos conhecimentos anteriores de Jou Enlai. Ele checou a localização do avião Tridente de Lin Biao antes do incidente. Não é preciso dizer que fazer inventário da Força aérea não é parte dos deveres regulares de Jou Enlai. (48) Fazendo a versão oficial ainda mais suspeita, Mao fez o comentário em 1975 de que “Se Lin Biao não tivesse corrido, nós não teríamos matado ele”. (49) Estaria Mao simplesmente dizendo que Lin Biao não teria o mesmo destino de Liu Shaoqi se não escapasse? Ou Mao estaria insinuando alguma coisa ainda mais sinistra?

Lin Doudou nunca entrou no avião, contrariando ordens de Pequim. Momentos depois, mesmo desobedecendo essas ordens, ela foi honrada por ajudar a expor o alegado golpe de seu pai. Ela foi pintada como uma patriota leal que colocou seu país em primeiro lugar e expôs a traição de sua família. Um documento do Comitê Central diz que ela ajudou a expor “num momento crítico Lin Biao, Ye Qun e Li Liguo conduzindo o avião [para Beidaihe] sem permissão e o plano deles de trair o país se entregando ao inimigo”. O Comitê Central disse “Lin [Doudou], filha de Lin Biao, colocou o interesse nacional sobre a piedade familiar se recusando a fugir com Lin Biao, e informou a situação ao Premiê a tempo, o que levou a frustrar a conspiração monstruosa de seu pai”. (50) Entretanto, ela denunciou o Comitê Central por “[tomar emprestado] o nome dela para enganar o mundo” porque nunca descreveu o que aconteceu em Beidaihe quando Lin Biao tentou “fugir do país”. Lin Doudou explicou para Jou Enlai o que realmente aconteceu, mas ele insistiu que ela seguisse a linha oficial. Por não concordar com a narrativa oficial, ela recebeu “reeducação”. A “heroína” que revelou o golpe foi posta em prisão domiciliar até o fim de 1975. (51)

Outro fato interessante é que o governo chinês conferiu o título de “Mártir Revolucionário” a Pan Jingyin, o capitão do Tridente, alguns anos depois da queda. Esse ato reabilitou e absolveu a tripulação do avião de qualquer envolvimento com o golpe. Isso fez do capitão um herói do Estado (52) Um prêmio desse parece mal dado a menos que mais alguma coisa esteja acontecendo por debaixo dos panos. Estaria a tripulação sendo realmente condecorada por seu papel na ajuda da fuga de Lin Biao? Existem muitos pontos em aberto. Apenas uma conclusão é realmente possível:A narrativa oficial é falsa em muitos aspectos.

O VERDADEIRO LIN BIAO?

Por quê teria Lin Biao, que foi designado ele mesmo na Constituição do Partido como sucessor de Mao, encontrado necessidade de derrubar Mao? As narrativas oficiais dos regimes Maoísta e pós-Maoísta concordam que Lin Biao era um renegado que queria tomar o poder supremo para ele mesmo. Mas Lin Biao era quase uma geração mais novo que Mao. Se ele quisesse poder supremo, não faria mais sentido apenas esperar Mao morrer? Ele morreu apenas cinco anos depois do incidente de Lin Biao. A saúde de Mao estava em visível declínio. Não havia necessidade de disputar liderança com Mao. Da mesma forma, não havia necessidade para Mao se mover contra Lin Biao resultando na alegada reação dele. Ver a corrente de eventos de 1970 até a queda de Lin Biao como um golpe fracassado só faz sentido se alguém tem a imagem de Lin Biao como a de um aventureiro irresponsável que é tão louco pelo poder que não podia esperar cinco anos. Depois da morte dele, a mídia estatal deu seu máximo para representar Lin Biao dessa maneira, mas apenas evidências fracas sugerem que Lin Biao queria qualquer outra pessoa que não fosse Mao para ser chefe do Partido Comunista da China e do País. Muito pouco do que se diz nas narrativas oficiais poderia justificar uma reação  de Mao contra Lin Biao, além das mentiras da mídia. É por esse motivo que não há razão para o tipo de comportamento de Lin Biao descrito no Esboço. As narrativas oficiais caem aos pedaços.

Mesmo que Mao não estivesse satisfeito com Lin Biao depois de 1970, ele deu a Lin Biao muitas chances para fazer auto-críticas. “O presidente Mao tentou voltar para Pequim e se reunir com o vice-presidente Lin Biao com intenção de persuadir ele a renunciar seus erros, pelo princípio de salvar o homem doente e curar a doença”. (53) Nesse ponto, é mais fácil acreditar que Mao decidiu não purgar Lin Biao, mas simplesmente diminuir sua posição. Mao sabia o quanto Lin Biao estava próximo à ideia de Revolução Cultural. Mao tinha consciência de que remover Lin Biao, símbolo da Revolução Cultural, da liderança colocaria em dúvida essa Revolução como um todo. As ações de Mao em seus últimos anos mostram como, mesmo quando ele estava guinando para a direita, ele tentou muito continuar sustentando o legado da Revolução Cultural. Ele queria tanto preservar uma opinião positiva sobre a Revolução Cultural que afastou Deng Xiaoping pela segunda vez quando se recusou a concordar com a visão de Mao em 1975. Mao certamente sabia como seria difícil desentranhar Lin Biao da Revolução Cultural. Anos depois, ele fez a declaração ambígua de que Lin Biao não teria morrido se não tivesse fujido. (54) Não há fortes motivos para um golpe retaliativo quando seria bem mais provável (e politicamente menos desgastante) que Mao simplesmente depusesse Lin Biao e continuasse a preservar uma opinião pública favorável à Revolução Cultural. Lin Biao certamente sabia dessas coisas.

OUTRO GOLPE?

O que faz a história oficial ainda mais suspeita e que o dito golpe de Lin Biao não é nem a primeira e nem a última vez que inimigos políticos são acusados de planejar golpes contra o regime com evidências fracas. A acusação também foi feita contra o Chefe do Estado-Maior Luo Ruiqing quando foi deposto pelos Maoístas. Na ocasião, os Maoístas estavam protegendo áreas de poder político, em particular Pequim. Depor Luo Ruiqing era assegurar o próprio poder deles sobre os militares, prevenir qualquer possível contra-golpe. No entanto, outra vez, a afirmação de que Luo Ruiqing estaria ativamente conduzindo um golpe serviu à agenda Maoísta daquela vez. O quanto isso descreve a realidade é questionável. (55) Depois, essa acusação foi feita de novo contra “O Bando dos Quatro” quando foram presos em 1976. Assim como Lin Biao foi acusado de planejar um golpe em 1971, a mesma lógica foi inventada em torno do “Bando dos Quatro”. Se a história do golpe funcionou uma vez, por quê mudar o script? Da mesma forma que começou uma luta política para definir se os erros de Lin Biao eram de direita ou esquerda, também começou com “O bando dos Quatro”. Assim como Lin Biao foi transformado de ultra-esquerdista em 1971 para ultra-direitista em 1973, voltando a ser ultra-esquerda em 1979, o “Bando dos Quatro” também sofreu o mesmo processo (ultra-direita em 1976 para ultra-esquerda em 1979). Em ambos os casos, erros políticos foram redefinidos à medida que facções diferentes subiam na política chinesa.

TEORIA E PRÁTICA

O incidente de Lin Biao foi um dos eventos mais importantes não só da Revolução Cultural, mas da Revolução Chinesa como um todo. Depois da queda de Lin Biao, o regime dominante saltou para a direita. Mesmo com a retórica ideológica esquerdista presente nos dias de hoje, o regime que se restaurou parece muito com o que havia antes da Revolução Cultural. Um observador descreve o regime pós-Lin Biao como “um Liu Shaoqismo sem Liu Shaoqi”. (56) Essa guinada à direita também não passou em branco pela CIA. Os Estados Unidos desenvolveram uma nova relação com a China durante os anos 1970. (57) As coisas mudaram tanto para a direita na segunda metade dos anos 1970 que Mao corretamente se preocupou com seu próprio legado e o da Revolução Cultural. Mesmo que muito dos esforços dele para proteger esse legado fossem lisongeados dentro do Partido e pela população, a preocupação de Mao também sugere que ele tinha o entendimento intuitivo de para onde as coisas estavam indo sem que pudesse impedir. Os movimentos de massa esquerdista foram eliminados da metade de 1967 até hoje. Isso cortou muito dos aspectos de baixo para cima da Revolução Cultural. Mais ainda, os militares de esquerda caíram com Lin Biao em 1971, por isso a poderosa instituição militar não pôde mais manter as conquistas da Revolução Cultural. Conforme a esquerda se enfraquecia, a direita e os revisionistas preenchiam o vazio. Muita coisa sugere que haviam interesses de linhas diferentes separando Lin Biao de Mao. Lin Biao queria levar a China paa um regime à esquerda, militarista, que voltaria a se concentrar em economia e estabilidade, mas com ênfase Maoísta em igualitarismo, asceticismo, ideologia e super-estrutura, experimentação social, Guerra Popular Global, chegada ao comunismo. Lin Biao muito provavelmente se colocaria contra a reconciliação com o imperialismo ocidental, os Estados Unidos em particular. Quaisquer que fossem as ideias de Lin Biao, estivesse ele em auto-conflito ou não, Lin Biao era tão caso com a esquerda em sua personalidade pública que mesmo que ele guinasse à direita junto com Mao passaria muita dificuldade. A queda dele representou uma grande vitória para os capitalistas na virada a direita dos anos 1970. O maior beneficiado pela derrubada de Lin Biao não foi outra pessoa além de Deng Xiaoping, que foi restaurado para o poder por Mao em 1973 e terminou subindo para o topo da liderança pouco depois de Mao morrer em 1976. O general Ye Jianying, um líder da “Corrente Adversa” que se opôs à Revolução Cultural, foi elevado para o poder para substituir Lin Biao como Ministro da Defesa. Para enfatizar a violência como eixo central do Estado, Karl Marx descreveu uma vez o Estado como “corpos armados de homens”. Agora os revisionistas controlam a arma. Os dias para o que sobrou da esquerda, “O bando dos Quatro”, estavam contados. Eles foram depostos e, como Lin Biao, acusados de planejar um golpe pouco depois de perderem seu protetor, quando Mao morreu em 1976. O fato de tão poucos questionarem as narrativas oficiais de um momento pivotante como esse em nossa história por uma perspectiva revolucionária apenas mostra como é grande a diferença entre teoria e prática Maoístas. Não importa o quanto a teoria Maoísta possa insistir nessa paralisia das lutas políticas pelas narrativas policiais, a realidade é que a luta política não parou decisivamente como aconteceu com seus predecessores soviéticos. Sejam quais forem suas falhas, nós temos uma oportunidade para saber a história correta. Outros ofereceram uma imagem muito diferente do Maior General da China:

“Quan Yanchi, longe de ser um covarde que atuou com subserviência para Mao com o fim de ganhar poder, Lin Biao foi arrogante e um dos poucos que confrontavam com Mao pessoalmente se não concordava com ele. A única coisa que Lin Biao não fez foi criticar Mao aberta ou discretamente pelas costas. Dizer que Lin Biao queria tomar o poder de Mao foi uma visão convencional abraçada pela linha oficial do governo chinês. De acordo com Wang Nianyi e He Shou, existem poucas provas de que ele queria disputar uma luta pelo poder com Mao…” (58)

Nós temos uma oportunidade para fazer capotarem as narrativas policiais que envenenaram tanto a história do socialismo. Na próxima vez que os pobres tomarem o poder, nós nos confrontaremos com muitos problemas desse tipo. Se não nos apoderarmos da história agora, vamos repetir muitos dos erros do passado que levaram à contrarrevolução. Romper com as narrativas policiais da história é uma parte importante da ruptura com todo esse dogma que está aí. É uma parte importante da necessidade de colocar a ciência mais avançada, o Comunismo Luz-Guia, no comando.

NOTAS

  1. Revolução Sangrenta de Mao Revelada https://www.youtube.com/watch?v=Wd0aW-4mV68
  2. Um grande julgamento na História Chinesa. New World Press, Beijing, China: 1981. pp. 24-25
  3. Li Jisui. A vida privada do Presidente Mao. Random House Inc., USA: 1994. p. 542
  4. Barnouin, Barbara and Yu Changgen. Dez anos de turbulência. Keegan Paul International, England: 1993.  p. 210
  5. Li Jisui. A vida privada do Presidente Mao. Random House Inc., USA:
  6. p. 412
  7. ibid. pp. 457-458
  8. ibid. p. 390
  9. Ma Jisen. A Revolução Cultural no Ministério de Relações Exteriores da China. Chinese University of Hong Kong, Hong Kong: 2004. pp. 292-300
  10. Jin Qui. A cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. pp. 194-195
  11. Barnouin, Barbara and Yu Changgen. Dez anos de Turbulência. Keegan Paul International, England: 1993.  p. 216
  12. “O documento Chung-Fa do Comitê Central do Partido Comunista da China

(1971) No. 60 (Abridged)” in Chinese Politics v2.  ed. Myers, James T.,

Domes, Jurgan, and Yeh, Milton D. University of South Carolina Press, USA:1989. p 142-143

  1. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. pp. 8-9
  2. Domes, Jurgan. China depois da Revolução Cultural. University of California Press, Great Britain: 1977. p. 130
  3. Li Zhisui. A vida privada do Presidente Mao. Random House Inc., USA: 1994. pp. 537-538
  4. ibid. p. 540
  5. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 171
  6. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 10
  7. Li Zhisui. A vida privada do Presidente Mao. Random House Inc., USA: 1994. p. 540
  8. Barnouin, Barbara and Yu Changgen. Dez anos de turbulência. Keegan Paul International, England: 1993.  p. 234
  9. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 10
  10. ibid. p. 192
  11. Domes, Jurgan. China depois da Revolução Cultural. University of California Press, Great Britain: 1977. p. 112
  12. Barnouin, Barbara and Yu Changgen. Dez anos de turbulência. Keegan Paul International, England: 1993.  p. 238
  13. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 169
  14. “O documento Chung-Fa do Comitê Central do Partido Comunista da China (1972) No. 4” in Chinese Politics v2.  ed. Myers, James T., Domes, Jurgan, and Yeh, Milton D. University of South Carolina Press, USA:1989. p . 148
  1. ibid. p.149
  2. ibid. p. 153
  3. http://en.wikipedia.org/wiki/Project_571_Outline
  4. “O documento Chung-Fa do Comitê Central do Partido Comunista da China (1972) No. 4” in Chinese Politics v2.  ed. Myers, James T., Domes, Jurgan, and Yeh, Milton D. University of South Carolina Press, USA:1989. pp. 146-153
  1. ibid. . p . 153
  2. ibid. p. 148
  3. ibid. p. 149
  4.  ibid. p. 149
  5.  ibid. p. 149
  6.  ibid. p. 148
  7. Domes, Jurgan. China depois da Revolução Cultural. University of California Press, Great Britain: 1977. pp. 110-111
  8. O Documento Chung-Fa do Comitê Central do Partido Comunista da China (1972) No. 4” in Chinese Politics v2.  ed. Myers, James T., Domes, Jurgan, and Yeh, Milton D. University of South Carolina Press, USA:1989. p. 149
  1. ibid. p. 152
  2. ibid. p. 152
  3. ibid. p. 153
  4. ibid. p. 154
  5. ibid. p. 155
  1. Shapiro, Judith. A guerra de Mao contra a Natureza: Política e Meio-Ambiente na China Revolucionária. Cambridge University Press, USA:1991. p. 135
  2. Li Zhisui. A vida privada do Presidente Mao. Random House Inc., USA: 1994. p. 497
  3. ibid. pp. 550-551
  4. Jin Qui. A Cultura de Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. pp. 166-177
  5. ibid. p. 176
  6. Um grande julgamento na História Chinesa. New World Press, Beijing, China: 1981. pp. 24-25
  7. Terrill, Ross. Madame Mao. Bantam Books, USA: 1984. p.  307
  8. “Documento Chung-Fa do Comitê Central do Partido Comunista da China (1971) No. 60 (Abridged)” in Chinese Politics v2.  ed. Myers, James T., Domes, Jurgan, and Yeh, Milton D. University of South Carolina Press, USA:1989. p 142-143
  9.  Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 189
  10. ibid p. 195)
  11. Karol, K.S. A Segunda Revolução Chinesa. Hill and Wang. USA: 1973. p. 415
  12. Terrill, Ross. Madame Mao. Bantam Books, USA: 1984. p.  307
  13. Jin Qui. A Cultura do Poder. Stanford University Press, California, USA: 1999. p. 57
  14. Karol, K.S. A Segunda Revolução Chinesa. Hill and Wang. USA: 1973. p. 445
  15. Relatório de Inteligência. CIA, USA: November, 1971 http://www.foia.cia.gov/sites/default/files/document_conversions/14/polo-32.pdf
  16. Mobo Gao. A batalha pelo passado da China. Pluto Pres: 2008 p. 108

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