Os Mártires de Iguala são Imortais*
(portugues.llco.org)
Recente, seguindo a violência em que 6 estudantes foram mortos e 43 desaparecidos em Guerrero, México, restos carbonizados foram encontrados numa vala comum em Iguala, a cerca de 200 Km ao sul da capital do México. Foi atestado que esses corpos são os mesmos que aparecem em videos de estudantes que foram pegos pela polícia. Algumas testemunhas denunciam que foi a polícia que levou os estudantes. Mesmo depois de os corpos serem descobertos, familiares denunciam que as vítimas são transformadas em narcotraficantes pela polícia. Dezenas de policiais e oficiais estão sendo processados por assassinato. O prefeito de Iguala também é suspeito de envolvimento. As coisas começam a ficar podres.
Iguala foi cenário de terrorismo de Estado, paramilitares e máfias contra o povo. Esse incidente macabro é só o último elo de uma grande corrente de violência. A própria descoberta dos corpos foi feita a poucos dias do aniversário do massacre de Tlatelolco de 1968, quando manifestantes foram mortos à bala por protestar contra o imperialismo e a Guerra do Vietnã. E pouco antes em Guerrero, em 27 de Setembro, policiais e esquadrões da morte atiraram em manifestantes de uma universidade de professores que ocuparam ônibus, resultando em 3 mortos e 25 feridos. Não muito depois, atiraram em 2 táxis e outro ônibus, que transportava um time de futebol, resultando na morte de mais duas pessoas no ônibus e outra num táxi. Infelizmente, violências desse tipo são muito comuns por todo o México e pelo mundo capitalista. O último incidente não é diferente de outro massacre em Guerrero, menos famoso. O Massacre de Aguas Blancas ocorreu em 28 de Junho de 1995, quando ativistas camponeses da Frente pela Construção de um Amplo Movimento Nacional Libertador – Organização dos Camponeses das Montanhas do Sul (FAC-MLN-OCSS) foram assassinados pelo Estado, fazendo 17 mortos e 21 feridos. O Estado nega qualquer envolvimento no massacre de Aguas Blancas, mas ainda divulga fotos manipuladas afirmando que os camponeses estavam armados. Tempos depois, uma investigação honesta descobriu e mostrou que o Estado massacrou brutalmente pessoas desarmadas e inocentes. Foi descoberto também que o governador de Guerrero, junto com o alto comando da polícia do estado, estava envolvido no planejamento das mortes. Assim como em Aguas Blancas, a quase uma década, não há dúvidas que todo o Estado mexicano tem sangue nas mãos.
Guerrero, como uma das partes mais pobres do México, foi por muito tempo centro de Movimentos Populares. Tem a tradição de ser centro de resistência indígena. Era casa do professor e mártir Lucio Cabañas, líder do Partido de los Pobres (PdlP), que liderou uma Insurreição contra o Estado. Lucio Cabañas foi morto pelo Exército Mexicano em 2 de Dezembro de 1974. Décadas depois, em 3 de Julho de 2011, sua viúva Isabel Ayala Nava, foi assassinada junto com a irmã quando as duas mulheres saiam da igreja em Xaltianguis. Outros seguem lutando contra o governo, como o Partido Revolucionario Obrero Clandestino Unión del Pueblo (PROCUP), enquanto o Partido Democrático Popular Revolucionario – Ejército Popular Revolucionario (PDRP-EPR) anunciou sua existência em comemoração ao aniversário do massacre de Aguas Blancas em 1996. Hoje, muitas organizações populares voltaram à luta. Professores, estudantes, camponeses, trabalhadores estão se levantando. As últimas vítimas do Estado preservam a melhor tradição de Emiliano Zapata, Pancho Villa, Lucio Cabañas, Gamiz, Che Guevara. Nunca esquecer: Tlatelolco, Aguas Blancas, Acteal, Iguala.
Esse incidente de agora apenas mostra o que já sabemos. As massas do México os indígenas, os sem-terra e camponeses pobres, os trabalhadores, os professores, os estudantes, intelectuais, pequenos proprietários, todos enfrentam o mesmo destino. Teremos todos o mesmo fim. Não haverá nenhuma mudança, a menos que nós tomemos atitude. Os cães vão latir. Os mentirosos vão mentir. Os sabotadores vão sabotar. O império vai matar. Sozinhos nós somos fracos, mas juntos somos fortes. Eles não podem roubar nosso futuro pra sempre. A Luz-Guia da Verdade é nossa espada. Levante ela! Nossos mártires são imortais. Eles são águias no céu, luzes-guias num mundo de trevas. Honrar eles é se levantar, é resistir, é erguer a espada!
*Essa história continua. Há alguma dúvida sobre onde estão os restos dos outros, mas as massas continuam exigindo a verdade: Onde estão os desaparecidos?!
Escrito por Campo Flamejante. Traduzido para o português por Rivaldo Cardoso Melo.