(Freepress, Nova Iorque, 2005, 240 pp. hc.)
(llco.org)
O livro de Porcas Chauvinistas Femininas, de Ariel Levy, documenta o crescimento do que ela chama de “cultura imoral” e os papéis que as mulheres dos Estados Unidos têm naquela cultura. O livro mostra algo muito real. Porém, não é só um relatório sociológico. É também uma polêmica de tipo contrário a um novo lugar-comum popular entre as feministas burguesas, conhecido como “feminismo sexualmente positivo.” O livro é um retorno à segunda onda feminismo burguês. Levy tem mais em comum com Catherine Mackinnon ou Andréa Dworkin que com as sexualmente positivas contemporâneas a ela. O livro representa um tipo de feminismo burguês que argumenta contra outro. Ele nunca supera os limites de pensamento burguês e concepções burguesas de gênero. O livro não mostra como seus tópicos se cruzam com [conceitos de] Classe Global e Imperialismo. Em vez de seguir os dados sobre cultura imoral até a conclusão correta de que as mulheres no “Primeiro” Mundo burguês são, em geral, beneficiárias de sistemas globais de poder (inclusive patriarcados) e ocupam papéis socialmente opressivos, de modo semelhante às suas contrapartes masculinas, Levy dogmaticamente insinua que mulheres do mundo burguês são todas vítimas oprimidas do patriarcadp. Ela vê todas as mulheres, nos Mundos Burguês e “Terçeiro” Mundo Proletário, como uma grande irmandade. Por que as mulheres nos Estados Unidos participam do chulo? A resposta de Levy é que mulheres do mundo burguês sofrem de um tipo de falsa consciência. Levy insinua que a razão pela que não há nenhum movimento feminista revolucionário nos Estados Unidos é porque as mulheres não entendem que eles são oprimidas. Enquanto pode ser verdade que as mulheres do mundo burguês sofrem de várias formas de falsa consciência, a razão pela que elas não perseguem seus supostos interesses de gênero pela militância na luta revolucionária não está ligada à falta de educação. É porque os interesses de gênero, e outros interesses, delas, de maneiras importantes, são opostos às metas da verdadeira Revolução. Em outras palavras, o que Levy falha em entender por inteiro é que as mulheres no mundo burguês apoiam o sistema porque elas se beneficiam dele de várias maneiras importantes. As mulheres do mundo burguês não querem abolir a opressão de gênero em todo o Mundo porque elas têm interesse em mantê-lo.
Levy dá muitos exemplos de cultura imoral pornificada e comandada pela mídia de massa. Exemplos variam de Playboy a “Garotas Ficam Selvagens [Girls Gone Wild],” a moda stripper e de estrela-pornô, Sexo e a Cidade [Sex and the City], Britney Spears. Cultura imoral não é limitada a homens heterossexuais. Porcas Chauvinistas Femininas fala [também] sobre as mulheres queer e heterossexuais que cada vez mais são uma parte da cultura imoral. Levy resume a porca chauvinista feminina:
“Nós decidimos há muito tempo que o Porco de Chauvinista Masculino era um ignorante rude, mas a Porca Chauvinista Feminina (PCF) subiu a um tipo de nível exaltado. Ela é pós-feminista. Ela é engraçada. Ela sabe disso. Ela não se preocupa com os estereótipos satirizados de sexualidade feminina, e ela não pensa que um macho caricato responde a eles. A PCF pergunta: Por que jogar a Playboy de seu namorado em uma lata de lixo da liberdade quando você poderia estar fazendo festas na Mansão? Por que se preocupar com repúdio ou degradação quando você poderia estar dando—ou recebendo—uma rebolada você mesma? Por que bater neles quando você pode se unir a eles?” (pág. 93)
Muitas mulheres do mundo burguês passam várias horas se fazendo sexualmente apelantes. Elas desfilam por toda parte em botas ‘gogo’. Algumas competem em clubes e festas pra tirar os tops/sutiãs delas ou fazer atos sexuais pra câmera. Há os defensores do chulo que declaram, como algumas feministas “sexualmente positivas,” que estas coisas são sinais ou até mesmo atos de libertação. Em uma cultura onde mulheres atraentes de “cabeça-aberta sexualmente” são mais valorizadas que atletas e educadoras na maioria das vezes, como observa Levy, tirar seu top/sutiã pode ser um ato de empoderamento individual, embora seja um empoderamento pelas regras do patriarcado. Ainda que seja um ato de empoderamento, isso não é nenhum empoderamento reconhecido pelas feministas “sexualmente positivas” contra quem Levy argumenta.
Levy afirma que a promoção da cultura chula por mulheres é uma tentativa de elas subirem em uma hierarquia da sexualidade masculina enquanto degradam suas irmãs de gênero:
“Assim como se realmente fossem como homens, PCFs têm que gostar de olhar pra essas mulheres, também. Ao mesmo tempo, elas não se importam em ser elas mesmas um pouco vistas [desse jeito]. A tarefa aqui é mostrar simultaneamente que você não é igual às meninas ‘tão femininas’ [que aparecem] nos vídeos e nos catálogos da Victoria’ Secret, mas que você aprova o gosto dos homens por elas e a possibilidade você tenha um pouco daquela mesma energia sexual e roupa íntima debaixo de toda sua agressividade e inteligência. [É} Uma paixão pelo imoral [que] cobre todas as bases.” (pág. 99)
Mulheres não só participam das obscenidades. Em números cada vez maiores, elas têm uma mão na produção da cultura imoral. Há papéis diferentes. Algumas mulheres ficam por cima; elas se engajam e consomem cultura suja como homens. Há maneiras diferentes em que as mulheres nos Estados Unidos se ocupam com o imoral. De certo modo, o mundo de Howard Stern é um microcosmo dessa dinâmica entre tipos diferentes de Porcas Chauvinista Femininas. A sócia feminina de Howard Stern, Robin Quivers, e a relação dela com o desfile de atrizes pornôs e strip-teasers no show são um bom exemplo. Algumas dessas grandes, poderosas “Porcas Chauvinistas Femininas” incluem aquelas que movem parte da indústria de sexo. Outras vão pra clubes de strip pra assistir as meninas ‘muito femininas’ ao lado dos meninos. Elas compram produtos de Playboy também. Eles se tornam “um dos meninos” em locais de trabalho por adotar a cultura imoral masculina. Levy compara estas mulheres ao Tio Toms. Em alguns casos, elas são literalmente as chefes da indústria do sexo como Christie Hefner, filha de Hugh Hefner. Porém, Levy insinua, o preço pago por elas é o de admitir que eles participem da opressão das irmãs de gênero delas que estão mais embaixo na hierarquia de gênero do mundo burguês.
A analogia do Tio Tom não se adequa exatamente. Levy parece pensar claramente que aquelas no fundo da hierarquia de cultura pervertida — as garçonetes de Hooters do mundo — são oprimidas e têm umas idéias erradas sobre empoderamento. Levy menciona até mesmo o exposé de Gloria Steinem, “Um Conto de Coelha,” sobre os sofrimentos das Coelhas da Playboy. Porém, Levy parece pensar que essas mulheres ao topo da hierarquia da cultura imoral também são oprimidas em algum sentido. A comparação daquelas Porcas Chauvinistas Femininas ao topo com o Tio Toms é reveladora. Mas, a comparação com Tom não se encaixa. Esse não é o caso de um escravo da casa oprimido menos que os escravos de campo. O Tom nunca possuiu a plantação, mas Christie Hefner está mandando no império da Playboy. Hefner se beneficia de maneiras muito reais do patriarcado.
“Tomming, então, está se conformando à noção distorcida de outra pessoa—alguém mais poderoso — do que você representa. Fazendo assim, você pode ir pra frente de certo modo – recebendo pra dançar no blackface em um show do Tom, ou ganhando favores de Mar’s como o herói de Stowe fez em literatura – mas você ao mesmo tempo reforçando o sistema que te prende.” (pág. 106)
Esta passagem diz muito sobre a visão de Levy. Apesar de toda a evidência que ela mesma apresenta, Levy simplesmente considera que as mulheres do mundo burguês representam alguma coisa profundamente rebaixada e estão sendo enganadas. Essas mulheres do mundo burguês [realmente] são enganadas de algumas maneiras. Apesar disso, as mulheres do mundo burguês não estão sendo enganadas sobre o fato de se beneficiarem do sistema. Eles se beneficiam. E muitas sabem e se divertem com isso.
As conclusões de Levy não são muito claras. Ela sente que a cultura imoral realmente não é empoderadora pros indivíduos envolvidos. Ela argumenta contra as feministas “sexualmente positivas” que perversão não é uma forma de combater o patriarcado. Ela está correta quanto a isso. Porém, afirmar que ele não empodera não é totalmente verdadeiro. Em alguns casos ele é claramente empoderador, especialmente praquelas mulheres que possuem ou fazem lucros enormes por fora da safadeza e de indústria de sexo. E nós não deveríamos esquecer que o imoral no mundo burguês só é possível pela super-exploração do Mundo Proletário. O imoral é parte da cultura de Império liberal, uma cultura construída sobre e abastecida pela opressão de mulheres, inclusive com opressão de gênero, no Mundo Proletário.
Os corpos das mulheres no Mundo Proletário são controlados pelas piores formas de patriarcado pra extrair melhor os valores que terminam dentro dos bolsos do Mundo Burguês. as mulheres do Mundo Burguês têm uma série enorme de oportunidades na vida que só são possíveis pela restrição de oportunidades de vida das mulheres e homens do Mundo Proletário. Essa cultura pervertida é um sinal de privilégio de gênero pras mulheres e homens do Mundo Burguês. No entanto, pras mulheres do Mundo Proletário, a cultura imoral pode se acomodar no topo dos piores tipos de apartheid tradicionalista de gênero ou pode fazer parte de toda uma indústria que transforma mulheres do Mundo Proletário em escravas sexuais. Ela pode sustentar o tradicionalismo ou suvatear a cultura local substituindo ela por uma outra, Ocidental e pornificada. De todo jeito, o Império liberal tira das mulheres do Mundo Proletário seu poder e sua humanidade. O imoral é um braço de imperialismo.
Levy está claramente no campo burguês feminista. Levy pensa que todas as mulheres que participam ativamente da cultura imoral estão sofrendo de uma falsa consciência em relação à própria opressão. Ela está defendendo uma libertação do patriarcado no mundo burguês que não derruba o imperialismo. Assim, ela fica confusa quando mulheres do mundo burguês se empoderam do mesmo jeito que os homens fazem, nas regras do patriarcado. Como os homens do mundo burguês, as mulheres do mundo burguês são opressoras de gênero em um sensido global. Há muito tempo Karl Marx escreveu sobre como o capitalismo afeta a família. Friedrich Engels escreveu como o matrimônio era simples prostituição sob o capitalismo. Não é nenhuma surpresa que [mais] um tradicionalismo fosse quebrado, que as mulheres assumam a psicologia sexual e a cultura imoral dos homens.
Esta passagem resume a perspectiva de Levy:
“Mesmo se você for uma mulher que chega no topo e se torna algo como um homem, você ainda será sempre uma mulher. E desde que a feminilidade seja pensada como algo de onde escapar, algo menor que a masculinidade, você será pensada menos, também.” (pág. 112)
Pra Levy, opressão é um pensamento. Basicamente, Levy defende a posição burguesa de que a atitude a se adotar diante do patriarcado global deve ser ligada ao sexo biológico. Embora faça algumas observações boas, Levy evita a conclusão de que a maioria das pessoas do mundo burguês é de opressores de gênero, sejam elas homens ou mulheres. A maioria dos adultos no mundo burguês partilha da mesma cultura e lazer sexuais, a mesma psicologia e perspectiva. Todos eles recebem benefícios da opressão de gênero do Mundo Proletário. Afinal de contas, as amplas opções de vida do mundo burguês quase sempre são conectadas à restrição de opções de vida do Mundo Proletário. Opressão de gênero no Mundo Proletário faz parte do sistema de controle que garante a transferência suave de riqueza do Mundo Proletário pro mundo burguês. O liberalismo do mundo burguês é sustentado pela opressão de gênero terrível—seja ela em sua variante liberal pervertida ou tradicional—do Mundo Proletário. Levy vê as mulheres globalmente como uma amável irmandade. Ela vê todas as mulheres como se, mais ou menos, tivessem os mesmos interesses. A exceção, pensa Levy, são algumas mulheres são enganadas. Para Levy, elas não percebem isso e sofrem de falsa consciência. Conseqüentemente, elas participam do imoral. O Levy insinua que uma Porca Chauvinista Feminina é semelhante a um Tio Tom porque ela é uma pessoa “que apóia deliberadamente os estereótipos a ela e ao seu grupo marginalizado com intenção de conseguir vantagens com o grupo dominante.” (pág. 105) o feminismo primeiro-mundista de Levy apenas considera que essas aristocratas de gênero no mundo burguês são oprimidas pelo patriarcado de um modo que lhes permite a possibilidade de ser mobilizadas contra isso. Até mesmo Levy escreve, “PCFs renunciam qualquer senso delas como um grupo coletivo com um destino unido” (pág. 101), como se Porcas Chauvinistas Femininas tivessem um destino coletivo globalmente com todas as mulheres. Levy simplesmente pensa que existe um destino coletivo a ser perdido. Em realidade, o destino da Porcas Chauvinistas Femininas não tem qualquer ligação global com a maioria das mulheres do Mundo Proletário. As pessoas do mundo burguês, homens e mulheres, estão situados em maior semelhança com os termos do patriarcado global. Esses homens e mulheres do mundo burguês têm muito mais em comum entre si do que entre quaisquer homens ou mulheres do Mundo Proletário.