Povo de Bangladesh queimado pela moda capitalista, pelo Primeiro Mundo


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Em 25 de Novembro de 2012, um incêndio numa fábrica de tecidos em Bangladesh a 40 milhas do norte da capital, Daca, matou pelo menos 112 pessoas. Muitos outros foram hospitalizados por conta de queimaduras e outros ferimentos. A contagem de corpos continua a subir. O incêndio é uma das piores tragédias industriais da história do país.

Ele começou por volta de 07:00 PM no térreo do edifício de nove andares da compania Tazreen Fashion. Aí estava o depósito de fios. Em 2010, a fábrica empregava aproximadamente 1.500 pessoas. Apesar de que o dia de trabalho regular tinha acabado pra muitos quando o incêndio começou, cerca de 600 pessoas continuavam trabalhando em horário-extra no prédio. Diferente do Primeiro Mundo, não é estranho pra trabalhadores do Terceiro Mundo trabalhar em jornadas exaustivas de 10, 12, 14 e até mais horas num dia. A maioria das mortes aconteceram no segundo e no terceiro andar porque não tinha saídas suficientes. Das poucas saídas que tinha, nenhuma abriu pro lado de fora. Por isso uma armadilha foi criada pras vítimas que estavam dentro. Major Mohammad Mahbub, diretor de operações do Corpo de Bombeiros, disse:

“A fábrica tinha três escadas, e todas elas acabavam no térreo… Então os trabalhadores não puderam sair quando o fogo tragou o prédio.”

Os corpos recuperados foram alinhados no que parecia ser um prédio do governo e campos locais. Muitos deles foram tão queimados que tiveram reconhecimento dificultado. Levará algum tempo identificar os que restaram, de acordo com os oficiais.

Muitos sobreviventes contam como os trabalhadores, a maior parte mulheres, tentou escapar do inferno. Mohammad Raju, 22, trabalhava no quinto andar. Apesar de ter escapado, sua mãe não conseguiu sair:

“As escadas ficaram lotadas quando todos os trabalhadores tentaram sair da fábrica… Não tinha energia elétrica; estava escuro, e eu perdi minha mãe no escuro. Eu tentei encontrar ela por 10 ou 15 minutos mas não consegui.”

Outro sobrevivente, Rabiul Islam, disse:

“Eu senti cheiro de fumaça e desci as escadas correndo e vi que o lugar já estava cheio de fumaça preta.”

Como o fogo estava no térreo, muitos tiveram que pular pra escapar do incêndio:

“Com outro trabalhador, eu quebrei o exaustor do segundo andar e pulei pro telhado de um casebre perto da fábrica,” disse ele. “Eu quebrei minha mão mas encontrei um jeito de sobreviver.”

Mais de 100 ficaram feridos pela fuga, que incluiu muitos saltos. Muitos não tiveram tanta sorte. O comissário do distrito de Daca Yusuf Harun disse à mídia que alguns trabalhadores morreram enquanto pulavam de janelas ou do telhado.

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Outra fábrica incendiada em Bangladesh, talvez em 2013, matando 25 pessoas. Incêndios como esse são estranhamente comuns naquele país.

Infelizmente, essa tragédia não é raridade. A indústria de tecidos de Bangladesh, segundo maior exportador de roupas depois da China, tem um recorde muito vergonhoso por sua falta de segurança contra incêndios. Desde 2006, mais de 500 trabalhadores bangladeshenses morreram em incêndios de fábricas de acordo com Campanha Roupas Limpas, um grupo anti-exploração-laboral de Amsterdã. Peritos dizem que muitos dos incêndios poderiam ser facilmente evitados se as fábricas tomassem os devidos cuidados. Muitas fábricas estão em vizinhanças com prédios muito próximos e têm muito poucas saídas de emergência, e elas tem um profundo desprezo por procedimentos de segurança. No entanto, o capitalismo serve pro lucro, não pras pessoas. Condições de trabalho terríveis são um componente chave do capitalismo. Os capitalistas competem uns com os outros, ganham lucros, cortando pelos cantos. Enquanto neoliberais e globalizadores argumentam por mais livre-mercado, mais Zonas Econômicas Especiais, menos leis trabalhistas e ambientais, mais de 100 trabalhadores morrem carbonizados no prédio da Tazreen Fashion.

A indústria têxtil emprega mais de 3 milhões de trabalhadores em Bangladesh, a maioria deles é mulher, como as vítimas no prédio de Tazreen Fashion. As fábricas fazem roupas pra lojas ocidentais e marcas como Walmart, a maior empregadora dos Estados Unidos. Eles também produzem pra Carrefour e IKEA. Os críticos vêm dizendo a muito tempo que as marcas de roupa globais, como Tommy Hilfiger e GAP e aquelas vendidas por Walmart, precisam ser responsabilizados pelas condições de trabalho das fábricas bangladeshenses que produzem roupas pra eles. Problemas similares tem sido parte do imperialismo desde o começo. A mal-afamada Compania Inglesa das Índias Orientais comandou a Índia como se fosse seu próprio quintal antes de a Coroa Britânica assumir a direção. Os imperialistas estavam profundamente envolvidos no controle da produção indiana de roupas num esforço pra proteger os mercados britânicos e manter baixos os preços das matérias-primas que corriam das colônias pra população imperial na Grã-Bretania. Foi o co-autor de Marx, Friedrich Engels, que revelou como toda a população inglesa, incluindo sua classe trabalhadora, ficou aburguesada. “Pra uma nação que explora o Mundo inteiro, isso é, claro, justificável em certa medida.”

E:

“Você me pergunta o que os trabalhadores ingleses pensam sobre política colonial? Exatamente o mesmo que eles pensam sobre política em geral. Não existe Partido Trabalhista aqui, apenas Conservadores e Radicais Liberais , e os trabalhadores alegremente compartilham o banquete do monopólio inglês das colônias e do mercado mundial.”

Hoje, os trabalhadores de todo o Primeiro Mundo têm uma visão similar. Eles se preocupam muito mais com a moda do que com os custos humanos pros povos do Terceiro Mundo, incluindo as vítimas de Bangladesh. Os povos do Primeiro Mundo, inclusive seus trabalhadores assalariados, pensionistas e aposentados, se beneficiam com o imperialismo. De maneira similar, o Primeiro Mundo pouco se preocupa se Bangladesh sofre destruição ambiental por causa do consumismo do Primeiro Mundo. Isso é ser, de verdade, como um hipster ou dancarino de hip hop de lá, com seus eletrônicos inúteis e suas roupas de grife.

A tragédia do prédio de Tazreen Fashion demonstra uma importante observação feita no Manifesto de Marx. Marx entendeu que o capitalismo tende a socializar a produção. Camponeses viram exércitos de trabalhadores. O capitalismo arrasta mais e mais pessoas pra dentro de um processo produtivo unificado. Hoje, isso continua graças à globalização. As pessoas, por todo o Mundo, estão ligadas umas às outras pela economia global. Apesar disso, ao mesmo tempo, o capitalismo cria novas divisões, novas contradições. A propriedade e a distribuição continuam privadas sob o capitalismo. E, novas linhas de poder são formadas. O capitalismo global criou um Primeiro Mundo que existe às custas do Terceiro Mundo. A principal contradição de nossos dias é a do Primeiro Mundo contra o Terceiro Mundo. Entender essa contradição é a chave pra entender a sociedade e a Revolução hoje.

Ligando os pontos: A pobreza do Terceiro Mundo é produto da riqueza do Primeiro Mundo

Bangladesh é um dos países mais pobres e com maior população populacional do Mundo. Seus 150 milhões de habitantes tem uma renda per capita estimada em algo perto de U$848 (num ano. Por mês, isso são U$70). O nível de desnutrição infantil é de 48%. A alfabetização de adultos está perto de 58%. Quase metade da população de Bangladesh vive abaixo da linha de pobreza, pelos padrões do Estado capitalista comprador daquele país; a realidade é que quase toda a população vive na pobreza, pelos padrões mundiais, especialmente padrões do Primeiro Mundo.

“A população de Bangladesh é predominantemente rural, com quase 80% da população vivendo nas áreas rurais. Muitos deles vivem em áreas remotas onde faltam serviços como educação, postos de saúde e rodovias adequadas, particularmente estradas que levam aos mercados. Uma estimativa generosa diz que 20% dos pobres rurais estão em pobreza crônica. Eles sofrem com persistente insegurança alimentar, não têm terra ou alguma outra propriedade, geralmente são analfabetos e podem também contrair sérias doenças ou deficiências. Outros 29% da população rural é considerada moderadamente pobre. Apesar de terem talvez um pequeno pedaço de terra e alguma moradia e geralmente ter o que comer, as dietas deles são carentes de valores nutricionais. Como resultado de problemas de saúde ou desastres naturais, eles têm o risco de se afundar ainda mais na pobreza. As mulheres estão entre os mais pobres da pobreza rural, especialmente quando elas são chefes de família solitárias. Elas sofrem discriminação, têm poucas opções de fontes de renda e sua ingestão nutricional geralmente é inadequada.

Nas áreas urbanas, cerca de 37% da população vive abaixo da linha de pobreza nacional. Praqueles que vivem em áreas urbanas, especialmente a capital Daca, e as maiores cidades industriais, como Chittagong, Khulna e Rajshani, é mais fácil ter um padrão de vida melhor, com acesso à eletricidade, gás e água limpa. Apesar disso, uma proporção significante de bangladeshenses continua vivendo em favelas/cortiços que são destruídos quando chega a estação das monções (tempestades de vento) e não têm eletricidade relugarmente. O acesso deles à assistência médica e à água potável limpa é limitado.”

Bangladesh sofre com a devastação ambiental criada pela cultura do consumo do Primeiro Mundo. A maior parte da população vive nas planícies alagadas do Ganges, Brahmaputra, Meghna e aquelas de alguns rios menores, áreas com alto risco de severas inundações. 80% da população de Bangladesh vive em áreas propensas a severas inundações e doenças crônicas como cólera, dengue, malária etc. Bangladesh tem uma relação delicada com o próprio ecossistema. Essa relação tem sido prejudicada, ainda mais com o impacto do aquecimento global e outras crises ecológicas que só tem aumentado como resultado do capitalismo global.

Assim como as pessoas de Bangladesh se afogam, elas também são queiamadas por um efeito colateral do Capitalismo Global, como os trabalhadores do prédio Tazreen Fashion puderam testemunhar. Os trabalhadores de Bangladesh sofrem porque eles labutam sob condições inseguras, exploratórias. Os povos do Terceiro Mundo produzem produtos nas fábricas possuídas por corporações do Primeiro Mundo e seus aliados. Os operários do Terceiro Mundo trabalham por várias horas, dia após dia, pra que os povos do Primeiro Mundo e seus agentes compradores possam lucrar. E, no caso do prédio de Tazreen Fashion, os povos do Terceiro Mundo são carbonizados pra que os povos do Primeiro Mundo possam ter a última moda, viver com conforto e luxo.

Revolução é a verdadeira solução

Os problemas de Bangladesh são os problemas de todo o Terceiro Mundo, a esmagadora maioria da humanidade: exploração terrível, condições de trabalho e de vida horrorosas, subdesenvolvimento, pobreza, doenças evitáveis, epidemias, falta de cuidado médico, fomes, guerras, desesperança et cetera. O capitalismo, em sua mais pura essência, serve apenas aos capitalistas. Ele é regido pelo lucro, e só. Ele não serve aos interesses do povo. Os problemas do capitalismo não serão resolvidos dentro da estrutura do próprio capitalismo. Problemas desse tipo (de profundo desprezo pela vida humana e pela natureza) são fundamentais pro próprio capitalismo. Eles não podem ser reformados ao longo do tempo. Como ensinou Lenin, pensar que o capitalismo pode ser reformado até virar seu oposto é revisionismo. A única resposta eficiente é a Revoluçâo Total. O sistema global por inteiro tem que ser varrido do mapa, e em seu lugar colocaremos uma coisa nova: Novo Poder, Nova Democracia, Novo Socialismo, Comunismo Luz-Guiadora.

A Revolução começa onde a dor e o sofrimento são maiores. A razão disso é que o sistema é tão fracassado pros povos do Terceiro Mundo que a eles cabe a missão histórica-mundial do Proletariado, a libertação de toda a humanidade, a criação do Comunismo Luz-Guia. É por isso que Lenin apontou pro Leste como “o centro da tempestade” da Revolução Mundial. Mao disse que o Vento Leste vai prevalecer sobre o Vento Oeste. Lin Biao descreveu a Revolução Mundial como uma Guerra Popular Global, começando no “campo global” e crescendo até cercar a “cidade global.” O Terceiro Mundo se levantará pra derrotar o Primeiro.

A Revolução só pode acontecer quando, ao mesmo tempo, as condições revolucionárias objetivas e subjetivas estão alinhadas. As objetivas existem hoje no Terceiro Mundo: pobreza, exploração, crises et cetera. O que não existe são as condições subjetivas pra Revolução, as condições ideológicas e organizacionais. É por isso que é tão importante colocar a Ciência Revolucionária mais avançada, o Comunismo Luz-Guia, nas mãos das massas. Só aplicando a Ciência Revolucionária mais avançada do Comunismo Luz-Guiadora nós poderemos ter esperança de quebrar o velho Mundo todo através da Guerra Popular Global, construir o Novo Poder, criar um Mundo Novo de igualdade, justiça, sustentabilidade. Todo poder pros povos do Terceiro Mundo! Armadas com o Comunismo Luz-Guia, as massas do Terceiro Mundo são invencíveis.

Fontes:

http://www.theaustralian.com.au/news/bangladesh-factory-fire-death-toll-rises-to-at-least-121/story-e6frg6n6-1226523682532
http://www.post-gazette.com/stories/news/world/factory-fire-kills-more-than-100-people-in-bangladesh-663623/
http://www.thedailystar.net/newDesign/news-details.php?nid=236919
http://en.wikipedia.org/wiki/Poverty_in_Bangladesh
http://new-power.org/2012/09/05/western-countries-could-drown-all-of-bangladesh-says-minister/
http://www.prisoncensorship.info/archive/etext/mt/imp97/imp97b1.html

Escrito pelo Comandante Campo Flamejante.
Traduzido pro português por Rivaldo Cardoso Melo.

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