“Terceiro Mundismo”, epistemologia, arte e socialismo (ou A Entrevista do Cheetos) Respondida por Campo Flamejante

hqdefault-1-300x225“Terceiro Mundismo”, epistemologia, arte e socialismo (ou A Entrevista do Cheetos)

(portugues.llco.org)

Respondida por Campo Flamejante

Traduzida para o português por Rivaldo Cardoso Melo

1. É sempre uma honra falar com você. Muitas pessoas identificam você como “Terceiromundista”, um termo que circula entre os ‘maoístas’. Você aplica esse conceito a si mesmo?

Nós sustentamos uma teoria e prática revolucionárias que enfatizam as pessoas mais pobres, aqueles que mais sofrem, os explorados e oprimidos, em uma palavra, o terceiro mundo? Obviamente, sim. Provavelmente a frase mais famosa de Karl Marx é aquela que diz “Os proletários não têm nada a perder além das próprias correntes; tem um mundo a ganhar.” Se nós somos honestos, temos que admitir que as pessoas do Primeiro Mundo, em geral, têm muito mais a perder do que as próprias correntes. Eles têm todo o estilo de vida consumista do Primeiro Mundo. Eles têm o conforto de viver em prósperas, estáveis e modernas sociedades do Primeiro Mundo. Se nós aplicarmos o critério de Marx honestamente, também não seria ele descrito como um Terceiromundista? Afinal, como um todo, onde vivem as pessoas que não têm nada além da própria força de trabalho? Onde moram aqueles que “Não têm nada a perder além das próprias correntes”? Hoje, eles vivem, que exclusivamente, no que as pessoas descrevem como Terceiro Mundo. Nós reconhecemos as contribuições dos gênios das Revoluções passadas? Karl Marx foi uma Luz-Guia? Sim. Vladimir Lenin foi uma Luz-Guia? Sim. Mao Zedong foi uma Luz-Guia? Sim. Assim como qualquer cientista faria, nós aproveitamos o que é bom e descartamos o que é ruim em todas as coisas, inclusive a tradição Marxista-Leninista-Maoísta. No entanto, rótulos podem esconder algumas coisas importantes. Esses rótulos fazem parecer que o que nós somos é apenas o velho dogma mistura com Terceiro Mundismo. Não é nosso caso. O que estamos fazendo é muito mais profundo. O que estamos fazendo é sem precedentes. Comunismo Luz-Guiadora é muito mais avançado que qualquer coisa que já existiu. Do ponto de vista da prática revolucionária, nada é maior que o todo-poderoso, maravilhoso, glorioso Comunismo Luz-Guia.

Vamos colocar isso em contexto. Aqui vai um pouco de história. É engraçado pensar que em Abril de 1969, Lin Biao, o maior general de Mao Zedong, camarada-em-armas mais próximo, sucessor escolhido, herdeiro aparente anunciou que “a revolução é o principal tendência do mundo de hoje” durante o 9º Congresso do Partido Comunista da China. Durante a Revolução Cultural, e só eu considero a verdadeira Revolução Cultural o que se fez entre 1965 a 1969, no máximo até 1971, a linha da Guerra Popular realmente sustentava que a humanidade estava tão próxima de uma vitória global que Lin Biao chegou a dizer que as teorias de Mao Zedong constituíam um novo estágio da confrontação entre forças populares e o capitalismo, que o Pensamente Mao Zedong era o Marxismo da época, quando o capitalismo estava caminhando para um colapso mundial, e o socialismo à vitória universal. Parte dessa visão é ver o império global como cambaleante. Tudo era comandado para levar o sistema ao seu fim. Por isso o desejo de propagar a guerra popular era visto como uma das principais maneiras de distinguir Marxismo real de revisionismo. Nós concordamos com Lin Biao sobre isso. Existe um fenômeno espalhado entre os charlatões do Primeiro Mundo criticando as guerras populares mas sem fazer nada que realmente ajude. Nós chamamos eles de “Leões Covardes”. É a maior forma de revisionismo de hoje. Então, durante a Revolução Cultural, Lin Biao e aqueles que apoiavam a Guerra Popular estavam chamando as forças de todos os cantos do mundo paa lançarem guerras populares imediatamente com a intenção de derrotar o imperialismo. Isso não é diferente do que Che apelava para a Tricontinental: “Criar dois, três, muitos Vietnãs.” A ideia era essa porque o imperialismo tinha ficado tão atolado, tão enfraquecido, que uma ofensiva massiva dos povos de todos os cantos do mundo poderia acabar com ele. Óbvio, as coisas não funcionaram desse jeito. E esse apoio à Guerra Popular custou caro para os Chineses. Eles estavam claramente incentivando a queda de quase todos os regimes do mundo, tanto no Ocidente como no Oriente. Isso significa isolamento diplomático. Como as coisas mudaram hoje…

Obviamente, à medida que as coisas progrediram dos anos 1960 aos anos 1970, os chineses mostraram que estavam muito errados sobre a força e a resistência do império. Mao e a direita do PC Chinês começaram a mover a China para uma aliança com o Ocidente nos anos 1970. Lin Biao, a maior voz da linha de Guerra Popular, foi quase certamente assassinado em 1971. O Estado chinês dos anos 1970 começou a abandonar a Guerra Popular e se mover mais pela diplomacia e pela reconciliação. É um tanto irônico também porque Mao, pelo menos em parte, justificou inicialmente seu rompimento com a União Soviética revisionista pela rejeição dele à linha revisionista de “coexistência pacífica” com o imperialismo. Bem, a política externa de Mao dos anos 1970 para o Ocidente não era diferente da de Kruschev. Assim como a URSS e o Ocidente exploraram em conjunto a América Latina, os chineses também trabalharam junto com o Primeiro Mundo. Talvez um dos casos mais famosos seja aquele em que a China foi o primeiro país a reconhecer o golpe sagrento de Pinochet. Eu me lembro de ler que a embaixada chinesa, ao contrário de outras, fechou suas portas para estudantes, trabalhadores, e ativistas que buscavam um santuário para se esconder dos esquadrões da morte no Chile. Bangladesh é outro exemplo. Mao se aliou com o Paquistão e o Ocidente, mesmo quando o Paquistão praticava um genocídio sistemático aí. Essas são algumas das manchas na memória de Mao. Agora, claro, Mao foi um dos maiores revolucionários, Luzes-Guias, de todos os tempos, mas temos que ser honestos.

Em todo caso, o que quero dizer é que as coisas mudaram muito. Está tudo diferente. Hoje, o movimento revolucionário está num impasse. Não existem mais estados socialistas. O socialismo soviético caiu antes mesmo do colapso final da URSS. E a China começou a debandar para o capitalismo nos anos 1970. Hoje, a China é a força de trabalho que produz quase tudas as mercadorias, todos os bens de consumo, para os EUA e muitos do Primeiro Mundo. A força de trabalho chinesa é um proletariado explorado a serviço dos apetites do Primeiro Mundo. As coisas estão tão ruins que, não faz muito tempo, livro após livro era publicado sobre “a pax Americana”, “a vitória liberal global”, “o fim da história”, “O fim da idade da Grande Ideia”, “A morte do comunismo”, e outras coisas mais.

Nossa visão não é a de um Maoísmo mal-estudado. Os problemas do movimento revisionista, incluindo o próprio Maoísmo, são muito maiores que a economia política dele. O primeiromundismo, a crença de que existe algum proletariado significante no Primeiro Mundo, é um sintoma de um problema muito mais profundo. Da mesma forma, continuar se envolvendo com o vocabulário e símbolos do passado, da era Maoísta, da era Soviética, são parte desse mesmo problema. Acusações de “tanquismo” (talvez o autor se referisse a pilotos de tanque, isolados do mundo exterior em seu universo militarista) são trocadas por todos os lados entre os dogmáticos. Falta pensamento científico, não apenas nas periferias desses movimentos, mas também em seus centros. Isso reflete na maneira em que eles conduzem a economia política, sim. Mas isso também reflete na maneira como eles abordam a História. Reflete na falta deles de profunda análise cultural, na inabilidade deles de falar com inteligência sobre arte e estética. Reflete na ignorância felicíssima deles sobre os incríveis avanços da revolução científica que está em curso, descobertas sobre o cérebro e ciência cognitiva, a revolução verde na agricultura, as novas descobertas na biologia, física, tecnologia da informação e tantas outras.

É muito divertido pra mim que muitos dogmáticos pensem que eles são muito avançados cientificamente porque abraçam o materialismo dialético, que Lenin era a última palavra em agitação e propaganda, como se o marketing moderno, que faz amplo uso de conhecimentos psicológicos, não tivesse nada a dizer para a revolução… Não é surpresa que tantas tendências de esquerda sejam derrubadas pelo Islã. Também existe um impasse no pensamento militar, que é a razão de o modelo maoísta não estar mais funcionando como antes, mesmo que em alguns movimentos aqui e ali ele persista, mas sempre fugindo dos eixos, encravado, ou mancando. Ninguém está realmente vencendo ou mesmo avançando. Isso tudo se fundamenta em um problema epistemológico mais profundo. Se sustenta em dogmatismo. Se deve à falta de inovação, falta de genuína ciência, falta de adaptação. O mundo muda, então devemos mudar também se realmente queremos vencer. Para algumas pessoas, preservar o dogma é mais importante que a vitória. Para algumas pessoas, a preservação de sua ortodoxia ‘comunista’ é mais importante que o povo. Pra nós, é diferente. Nós rejeitamos absolutamente todo dogma. O Comunismo Luz-Guia é feito de ciência.

Não podemos nos contentar com pouco. Comunismo Luz-Guiadora não é só economia política. É uma completa revolução em todas as áreas da Ciência Revolucionária. Nossa faca corta mais fundo que só a área econômica. Comunismo Luz-Guiadora é colocar o movimento revolucionário – em todos os sentidos – num elevado passo científico. É por isso que dizemos que temos um líder: A Luz Guiadora da Verdade. É por isso também que temos discussões abertas sobre como divulgar uma ciência de baixo nível apropriada. Junto com a Alta Ciência, todas as revoluções usaram de baixa ciência. Nós somos os primeiros, pela profundidade que eu tenho conhecimento, a falar completa e abertamente sobre a construção de um mito, a convidar aqueles que são capazes para uma ampla discussão pública sobre esse assunto, em vez de só construir a baixa ciência atrás de paredes fechadas. Por ironia, nós fomos acusados de ser ‘cultistas’ por popularizar a discussão que estava geralmente mantida em segredo. Para qualquer coisa, nós somos aqueles que explicam para as massas como as coisas funcionam, e incentivamos elas a promover a própria libertação naquela área. Os outros fingem que o problema da motivação e simultânea elevação do povo pode ser desprezado, ou são pavões que escondem a cabeça na areia. O que eles têm a mostrar com os métodos deles? Em todo caso, o novo desafio da Luz-Guia é muito profundo em sua simplicidade e complexidade. Nós realmente defendemos a vitória, realmente colocar a ciência no comando. Nós estamos elevando a ciência em todos os níveis, mas fazemos isso numa forma que preserva o coração revolucionário do Marxismo. Nós estamos realmente falando sobre a criação de um novo estágio de ciência revolucionária, armar as massas com as melhores ferramentas ideológicas que existem, as melhores armas, porque queremos fazer a revolução, chegar ao Comunismo Luz-Guia.

Existe uma diferença entre Primeiro Mundo e Terceiro Mundo também. Muitos no Terceiro Mundo ainda não fizeram contato com a Luz-Guiadora. Se um homem está morrendo de sede e tudo que ele tem é água suja, ele vai beber. Contudo, se a ele é dada água pura em alternativa à lama, ele vai escolher a pura, a menos que alguma coisa estranha esteja acontecendo. Em algum momento, a água pura irá jorrar por toda parte.

Nós já ganhamos a batalha ideológica. [Nossa ideologia] está solitária no topo [das ideias de esquerda]. Friedrich Nietzsche escreveu, você tem longas pernas pra pular de pico em pico. A revolução Bolchevique foi um pico. A Revolução Maoísta foi um pico. Agora, cá estamos nós, no começo de uma nova onda, em outro pico. Muitos não têm esse tipo de pernas. Muitas pessoas estão presas no passado, num vale, tentando seguir caminho para o próximo topo. Ignorando o deserto ideológico, e ele é estéril. A batalha a nível de alta ciência está vencida. Claro, ainda tem muitas operações de limpeza. Diferente de tantos hipócritas da esquerda revisionista, nós realmente colocamos a política no comando.

2. “Política no Comando” vem da Revolução Chinesa? Você poderia explicar um pouco sobre “Política no Comando”?

Sim. Mao famosamente disse:

“A honestidade das linhas ideológica e política diz tudo. Quando a linha do Partido é correta, tudo corre a seu favor. Se não tem seguidores, ele terá seguidores; se ele não tem armas, ele terá armas; se não tem poder político, ele terá poder político. Se sua linha não está correta, tudo está perdido.”

Revolução não é só um esforço cego. Não é um acidente. Josef Stalin uma vez disse que o povo conduzirá o barco para o porto do comunismo, com ou sem liderança. Alguns acreditam que nossa vitória está em alguma coisa se movendo dentro da fábrica ou da própria natureza, que nossa vitória está contida no movimento determinístico dos átomos, ou que é inevitável. Isso é frequentemente associado com as tendências producionista e tecnológico-deterministas que acabam servindo à contra-revolução. Algumas tendências veem o Comunismo como inevitável, não importando mais nada. Eles pensam que o avanço da ciência e o progresso tecnológico poderiam simplesmente garantir a todos um futuro próspero, sem a intervenção consciente de uma liderança revolucionária, sem consciência constante, esforços contínuos no sentido de revolucionizar o poder e a cultura. Historicamente falando, essas duas tendências combateram umas às outras como uma batalha entre contrarrevolução e revolução. A Revolução Cultural Chinesa é um bom exemplo dessa luta entre comunistas e a nova classe capitalista. A Revolução não é inevitável, nem será praticada pela tecnologia sozinha. Revolução é uma coisa conseguida por um tipo de ação muito específico. Ideologia é absolutamente necessária. Sem liderança, sem ciência, sem política de verdade, nosso barco vai navegar pra sempre em círculos. A Grande Liderança de pessoas armadas com o todo-poderoso, fantástico, glorioso Comunismo Luz-Guiadora são necessárias pra realizar nosso grande destino. Nós somos um movimento do melhor dos melhores, gênios guerreiros de todos os cantos da Terra. Juntos, somos a Espada do Destino do planeta que livrará o Mundo de todo o sofrimento, exploração, opressão, pobreza, fome, estupro.

Especificamente, “Política no Comando” é um slogan que surgiu no exército durante a política de “Quatro Primeiros” de Lin Biao para transformar o exército numa escola de Pensamento Mao Zedong e modelo para toda a sociedade. Essas políticas foram implementadas pouco depois da queda de Peng Dehuai, quando estava chegando ao fim o Grande Passo para Frente. Lembre que Lin Biao era reamente um dos poucos que saiu em defesa de Mao Zedong durante a Conferência de Lushan, quando Mao foi duramente criticado pelos erros do Grande Salto. Lin Biado disse que os problemas do Grande Salto se deram pela pouca aderência às ideias de Mao. Lin Biao veio a se tornar o principal porta-voz e personificação do Maoísmo durante a Revolução Cultural. Ele era o Papa do culto à personalidade de Mao enquanto também era descrito como um grande guerreiro: O Melhor Estudante de Mao, O camarada-em-armas mais próximo de Mao, O Maior General Gênio da China, Sucessor de Mao escolhido a dedo.

Existem um vazio naquela expressão, por isso ela foi mudada um tempo depois. A política está sempre no comando de alguma forma. Pense numa pessoa que trabalha duro pra comprar mais bens de consumo. Nesse tipo de caso, a política está mesmo no comando de suas ações, ainda que sejam de uma variedade estúpida e contrarrevolucionária. As políticas nem sempre são revolucionárias. Por essa razão, como o tempo mostrou, o slogan continuou a ser popularizado, por ser parte do esforço para popularizar Lin Biao e seu exército, mas mudado para “Pensamento Mao Zedong no comando!”

Hoje, os comunistas dizem “Ciência no Comando!” ou “Luz-Guiadora no Comando!” Isso quer dizer que nós temos que por de lado o individualismo, ego, distrações ridículas, dogma. Não fique preso em dramas minúsculos. Não deixe ninguém nos jogar em armadilhas. Os cães vão latir. Os mentirosos vão mentir. Eles literalmente não importam. Nós sabemos quem nós somos. Nós sabemos que nossos corações são puros. O grande desafio foi vencido, a ciência revolucionária avançou e continua a avançar sob a bandeira da Luz-Guiadora. Não importa que essas ideias tenham sido escritas por mim mesmo. O ponto é que elas estão aqui e agora. As massas merecem o melhor. Nenhuma arma é mais poderosa que a Luz-Guiadora da Verdade. Voltando aos dias de “É Justo se Rebelar” (EJSR), o Comitê Central declarou que a principal tarefa é espalhar a Alta Ciência pelo Mundo, especialmente pelo Terceiro Mundo. Bem, isso é exatamente o que a Organização Comunista Luz-Guia está fazendo agora quase sem nenhuma ajuda de nossos críticos e suas ineficientes campanhas sabotadoras. Alguém se surpreende com quanto eles conseguiram avançar em luta concreta?

3. Você criticou o dogma. Poderia explicar um pouco? O que faz uma teoria mais científica ou melhor do que outra? O que faz o Comunismo Luz-Guiadora ser melhor que a dialética, por exemplo?

Um erro metafísico que muitas pessoas cometem é o de pensar que “a verdade está fora daqui”, em algum sentido fantasmagórico, alienígena. De acordo com esse tipo de visão, o trabalho da ciência é o de codificar ou fazer o mundo se encaixar dentro dela mesma. Por essa visão, uma ciência ideal seria aquela que reproduz ou reflete o tão falado “livro da vida” perfeitamente. Por esse modelo, uma boa teoria é aquela que reflete a natureza o mais fiel possível, que replica a realidade. Essa é uma visão sobre verdade, teoria e ciência partilhada numerosas tradições científicas diferentes, inclusive a dialética fundada na tradição revolucionária. De acordo com esse dogma, a dialética é um tipo de superciência. Questões científicas particulares, teorias ou disciplinas seriam corretas apenas se suas extensões se encaixassem na dialética, que pretende corresponder à forma que o mundo realmente tem, como um tipo de “livro da natureza”.

Uma visão como essa é ridícula por duas razões. Em primeiro lugar, isso seria um empobrecido “livro da natureza”, um punhado de descrições ou leis vagas. É muito óbvio que todas as diversas não se reduzem e nem dependem da dialética. Médicos, biólogos, linguistas, hidrologistas, químicos, todos vão longe muito bem sem ler Georg Hegel. Quando você está muito doente, você certamente não perguntaria ao seu médico se ele entende a lógica de Hegel antes de aceitar suas prescrições médicas. Se você está sofrendo de um tumor, em quem você confiaria pra resolver isso, o cirurgião que passou anos numa escola médica ou o crítico literário que é mestre em Hegel? Aqueles que praticam ciência são capazes de fazer seus trabalhos ignorando tranquilamente Hegel. Isso deveria nos alertar que existe alguma coisa muito suspeita na grande importância que a dialética clama para si mesma.

Em segundo lugar, numerosos conceitos imprecisos, sobre teorias, ciência, linguagem e verdade são mantidos por esse tipo de modelo. Dialética não corresponde à natureza pela simples razão que teoria nenhuma corresponde. Aqui, eu vejo um “Livro da Vida” em algum sentido. Teorias, ciência, não são uma coisa que se encaixe num livro de afirmações sobre o que é o mundo. Teorias são ferramentas. Não faz sentido questionar se um serrote é verdade em algum sentido definitivo. Não faz sentido perguntar se uma chave de fenda se encaixa melhor no “Livro da Natureza” do que um martelo. Teorias são ferramentas para manipular o mundo, não nos levar ao contato com o mundo por trás do mundo. Embora Marx não tenha feito isso, talvez ele começasse a tomar essa direção pelo seu comentário de que “os filósofos até agora apenas interpretaram o mundo, mas o que importa é transformá-lo.” Nós não precisamos entender a verdade como correspondência com algum fato objetivo e nem como coerente com alguma superciência. Em vez disso, nós poderíamos entender a verdade num sentido mais contingente, intersubjetivo. Quando nós dizemos que uma teoria particular é melhor do que outra, nós estamos dizendo que ela é uma ferramenta melhor que sua competidora. E, ciência é um programa de ferramentas linguísticas e, às vezes, não linguísticas que são diferentes de outras ferramentas. Por exemplo, a criação de poesia e literatura, porque ciência inclui predição e explanação. Isso se aplica mesmo à crítica literária.

Uma ciência da literatura, inclusive ciência revolucionária de literatura, é possível. Provavelmente o melhor lugar para pular dentro dessa discussão de alto-nível sejam autores como Aristóteles, Northrop Fry, talvez George Lukacs, Walter Benjamin, Theodor Adorno, talvez também Stanley Cavell, Paul de Man, ou Julia Kristeva. Nós não podemos nos limitar ao que poderia ser visto em discussões Maoístas de baixo nível durante a Revolução Cultural. Uma boa dose de modernismo, formalismo, textualismo, novas críticas positivas, pessoas que têm um complexo entendimento sobre como objetos culturais funcionam na luta pelo poder, não polêmicas Maoístas cartunizadas criticando todo tipo de arte por não saudar com clareza as alegorias Maoístas, coisa que não era diferente dos contos medievais sobre moralidade. Apesar de as polêmicas Maoístas serem um bom começo, elas são um local terrível pra conclusão. Eu não estou dizendo que concordo com todas essas críticas sobre tudo. Só estou apontando que seria um bom ponto de vista para a literatura. Existem outras ferramentas além de tudo que envolve a ciência.

Em termos de expressão, a ciência pode não ser tão útil como poesia e arte. Em todo caso, dialética não é ciência pela mesma razão que poesia não é. Dialética não prevê e nem realmente explica de uma maneira informativa. Enquanto isso, Richard Rorty está aí. Ele era um campeão de pósmodernismo e liberalismo. Ele defendia a ideia de que odiscurso era tão contingente que não fazia sentido usar de qualquer apelo moral ou político complexo. Ele uma vez disse que estaria muito feliz se Hegel continuasse no espaço da “Fenomenologia do Espírito”, evitando a maior direção metafísica da lógica. Ele estaria muito feliz com Hegel se ele simplesmente continuasse um irônico que apenas queria se expressar, não sair disso para descrever o mundo real por trás do Mundo. Para nossa sorte, nossas escolhas não são apenas entre latidos pós-modernos e latidos metafísicos, entre liberalismo pós-moderno e pseudo-revolucionismo metafísico.

Assim como outras ciências são ferramentas, também é a ciência revolucionária, Comunismo Luz-Guiadora. É por isso que nós dizemos que Comunismo Luz-Guia é uma arma que deve ser posta nas mãos dos oprimidos. Comunismo Luz-Guia é um pacote de avanços científicos em numerosas áreas. Comunismo Luz-Guia prevê e explica movimentos sociais de hoje muito melhor que seus competidores. Ele prevê e explica melhor o passado, o presente e o futuro. É correto dizer que Comunismo Luz-Guia é feito de verdade, mas “verdade” entendida de uma maneira mais contingente, ainda que apenas de um jeito convincente. Isso não é diferente do que Immanuel Kant entendia sobre nosso conhecimento sobre o Mundo, como sendo mediado por condições epistêmicas. Pense nas formas de Kant da intuição e categorias transcedentais, ou como antes disso Hegel, Marx ou Nietzsche entendiam que o contexto histórico afetava nossa maneira de experimentar o mundo, ou a visão de Sigmund Freud sobre o Inconsciente. Isso é uma questão de linguagem também. Mesmo que tenha muito a ser dito sobre o que nós estamos descobrindo sobre linguagem através das ciências cerebrais e cognitivas e da “Linguística Cartesiana” de Noam Chomsky, respectivamente. Existe também outra dimensão da linguagem, Ludwig Wittgenstein explorou como nossa visão é amarrada aos jogos da linguagem. Temos também J.L. Austin, linguagem entendida como atos de pronúncia, cuja determinação como feliz ou raivoso, é muito dependente de largas expectativas e práticas sociais. Isso não diminui ou afirma o que é a verdade, apenas coloca essas ferramentas num contexto. Fenomenologicamente falando, a Verdade continua sendo experimentada tão convincente como sempre foi, mas isso não quer dizer que ela deva ser tomada pelos seus “próprios”  termos. A esse respeito, tanto Edmund Husserl como René Descartesestão exatamente errados sobre “o privilégio de um acesso especial ao assunto meditante da verdade” e “as afirmações que o próprio tema faz”. Mais que isso, a verdade é uma coisa que só faz sentido em referência a nós mesmos, nossas comunidades, nossos desafios. Ciência Revolucionária, Comunismo Luz-Guiadora, é o desenvolvimento de ferramentas que prevejam e expliquem para salvar o mundo, dar fim a toda opressão, criar uma sociedade saudável, heroica, divertida, florescente, e que exista em harmonia com o Planeta. O Todo-Poderoso, fantástico, glorioso Comunismo Luz-Guia é a forja de armas ideológicas para os pobres, os trabalhadores, lavradores, intelectuais, pessoas comuns finalmente recuperarem o futuro que os capitalistas roubaram de nós. Nosso futuro pertence a nós, a nossas crianças, às crianças das nossas crianças.

4. Você fala na Verdade como sendo intersubjetiva, contingente, e outras coisas. Em algum momento as verdades se colidem?

Claro! Isso faz a arte ser grande. Algumas das melhores artes são as artes que incomodam, problematizam, ou movem entre mundos, por assim dizer. Ludwig Von Beethoven é um exemplo de uma pessoa com um pé no mundo de Wolfgang Amadeus Mozart e outro no de Richard Wagner. William Shakespeare também é um tipo de colisão da nossa era contemporânea com o passado. Ele estava muito a frente de seu tempo, por assim dizer.

A Antígona de Sófocles é um grande exemplo. É um conflito entre duas visões de mundo, dois códigos de moral, duas sociedades. De um lado, está Antígona, que tinha de enterrar o corpo do irmão caído porque esse era o comando da lei moral que ela estava vivendo. Assim como uma lei faz sentir, se exigia obediência de Antígona. Ela era obrigada a enterrar o irmão. Ao mesmo tempo, Creon, o governante da cidade e tio dela, declarou que o morto não tinha direitos funerais, que ele deveria ser deixado em putrefação, porque esse irmão dela morreu traindo a cidade. Você tem a colisão de duas ordens morais, a moral da família contra e do clã contra a moral da cidade. Sófocles fez o maravilhoso trabalho de retratar a fenomenologia da obrigação no caráter de Antígona. Ela está tão convencida a enterrar o irmão que enfrentou a morte pelas mãos de Creon. Similarmente, Creon desejava matar Antígona, seu próprio sangue, para proteger a cidade. Ao mesmo tempo, essas ações deles são retratadas como muito conectadas às suas posições individuais dentro de uma comunidade muito maior. Para Antígona, essa comunidade é sua família ou clã. Para Creon, sua cidade. O texto documenta um choque de valores que deve ter acontecido em numerosas sociedades de novo e de novo à medida que elas se transformavam suas bases de clã ou família para formas mais cosmopolitas, cidades e estados, ordens.

Apesar de a ideia de contrato social ser ao menos tão velha quanto a República de Platão, no momento em que Sócrates rejeita esse discurso (defendendo, em seu lugar, um governo baseado na Razão manifestada pela Democracia de seus vários cidadãos), ela chega ao seu apogeu durante o início do capitalismo, sendo muito ligada à burguesia. Celebrar contratos é parte da vida burguesa. A projeção do contrato social a nível universal, a nível de história, com o fim de legitimar, em certa medida, o status quo é parte muito importante da ideologia do capitalismo ascendente, a burguesia emergente que lutava contra outras forças sociais reacionárias, especialmente aquelas do resto da era feudal. Hoje, a burguesia não se dá ao trabalho de se justificar desse jeito. Como apontou Vladimir Lenin, a burguesia não está mais cumprindo um papel progressivo. O capitalismo agora é decadente, está em declínio. Os capitalistas não sentem mais a necessidade de justificar a ordem deles com base nesse tipo de construção ideológica complexa. O capitalismo é só como uma informação não muito importante, natureza humana. A ideologia capitalista de hoje, comparada com o Iluminismo, é a diferença entre a burguesia ascendente e a burguesia decadente. Essa é a diferença entre Beethoven e Beyoncé. Essa é a diferença entre Rousseau e Cheetos.

Por outro lado, é um erro pensar que a arte de alto-nível do passado, a arte refinada da burguesia anterior, é a principal forma de arte capitalista hoje. Música clássica, por exemplo, não é a música do capitalismo, e nem dos donos do mundo. Pop ordinário é a música do capitalismo. Música clássica é similar à arte moderna nesse sentido. Ela não é fácil de entender. Normalmente, ela requer mais educação pra poder ser apreciada. É uma arte que requer pensamento, que era uma das maiores glórias da burguesia ascendente, enquanto burguesia que desafiava a ordem velha, tradicionalista. Hoje, a principal forma de cultura capitalista é uma arte que requer muito pouco esforço de quem a vê e ouve. Arte Pop. Comerciais publicitários. Capitalismo em declínio não envolve pensamento. A reorganização heroica da ordem social não ocupa mais a burguesia ou sua cultura nos dias de hoje. Em vez disso, tudo se resume a consumir e não perguntar porque. É por isso que a arte que provoca as pessoas a pensarem, mesmo se sua origem seja a própria burguesia do passado, acaba sendo um tipo de resistência contra a cultura dominante. Isso é uma coisa que Adorno viu, mas o sentido voltava para Kant às vezes.

Durante a Revolução Cultural, os Maoístas criticavam toda arte que não colocava os temas de Luta de Classes e Revolução em evidência clara. A arte Maoísta era muito similar às alegorias medievais, contos remoralizantes sem ambiguidade. Os personagens bons são sempre bons, representando a linha proletária. Os personagens maus são sempre maus. Os Maoístas abertamente argumentavam contra o que eles chamavam “personagens do meio”. Tudo era muito claro. Até a iluminação nas óperas do estilo Jiang Qing refletiam isso. O herói era muito iluminado, a fonte de luz não incidia diretamente sobre o vilão, fazendo ele ser sombrio, literalmente. A arte Maoísta queria substituir muito da velha arte, considerada reacionária. Mesmo que um pouco da arte Maoísta fosse genuinamente boa, a maior parte dela parecia um clichê porque eles estavam tentando preencher o vazio cultural que criaram varrendo muito da ‘velha cultura’. Umas poucas décadas de produção artística estavam tentando preencher o vazio de arte produzida ao longo de milênios. Também foi denunciada nesse período a arte pela arte, incluindo o formalismo. Ela foi denunciada porque não representava claramente a luta de classes. E isso foi considerado o mesmo que “não ajudar na luta de classes”. A visão Maoísta está errada.

O erro está em pensar que a Arte pela Arte, formalismo, não tem conteúdo classista ou, pior, que são conteúdos de classes reacionárias. Arte pela Arte, formalismo, experimentação frequentemente servem ao proletariado. Pense nisso como um tipo de descoberta científica. Arte formalista nos ajuda a descobrir novas formas de o proletariado se expressar. Criar novas formas que podem ser preenchidas com o mais claro conteúdo proletário. O experimento é o que cria todos os tipos de gêneros artísticos e musicais. Se só as sociedades capitalistas ousam fazer esses experimentos que criam novas formas de arte, o socialismo vai parecer muito chato, entediante, um mundo cinza onde a arte não é muito diferente de leitura política. Nós realmente queremos uma sociedade sem cor, sem diversidade cultural? Um socialismo que só pode se expressar de um jeito quase sempre unidimensional, didático, não nos levará ao Comunismo Luz-Guia. Nós precisamos de uma cultura que leve as massas a pensar, não só absorver. Os cérebros das massas não são potes vazios que preenchemos com cultura. Em vez disso, precisamos de uma cultura que provoque as massas a serem atrizes de si mesmas, e pra fazer isso precisamos de uma arte mais difícil, que exija pensamento. Precisamos de uma arte que incite as pessoas a pensar em novos caminhos. É um erro pensar que formalismo é necessariamente ligado a gestos sem sentido que acabam favorecendo a manutenção do capitalismo. A experiência da arte elevaria (a mente) de seu espectador, ou ouvinte, no caso da música. É por isso que o formalismo, a Arte pela Arte, podem servir às intenções do proletariado mesmo se seus temas não são explicitamente políticos. Esse é um tipo de visão às vezes associado com Kant, dentre outros. Os Maoístas podem ter criticado o Confucionismo. Apesar de a arte deles representar as atividades de parte das massas, o didaticismo do estilo deles também encorajava a passividade às vezes.

Em todo caso, minha opinião é que essas colisões acontecem de todas as maneiras o tempo inteiro. Agora mesmo, um nível superior de Ciência Revolucionária está se articulando. Ele é chamado “Comunismo Luz-Guiadora”. É um pacote de descobertas científicas em todas as áreas da ciência revolucionária. É um avanço geral, todo-poderoso, maravilhoso, glorioso sobre tudo que já existiu. O que estamos fazendo é sem precedentes e perigoso, razão pela qual existe tanto a ser feito para vencer não só os capitalistas, mas também esses idiotas inúteis, revisionistas de cabeça fechada, políticos sem identidade, dogmáticos.

5. Você fala de um socialismo que abraça a descoberta artística de uma forma que faz parecer isso levar a descobertas científicas. Que outras virtudes são exaltadas pelo Comunismo Luz-Guia?

Uma nova resposta a uma velha questão. Para muitos filósofos, a questão da boa cidade é sempre muito ligada à questão do bom homem. Para Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Kant, Hegel, e mesmo Marx, a cidade era refletida no homem e vice-versa. Talvez o exemplo mais famoso seja A República, de Platão. Mas, Marx também via como o capitalismo aliena as pessoas de seu próprio trabalho, de seu próprio mundo, delas mesmas. Para Marx, superar essa alienação é parte do projeto revolucionário. Um serviço bem feito requer mudanças tanto na experiência pessoal como na experiência de um conjunto social maior.

Em Pedro (tradução livre para “Phaedrus”), Sócrates faz uma analogia com a biga para descrever a natureza tripartida da alma. A biga é puxada por dois cavalos, um preto e um branco. O cavalo preto representa os apetites ferozes, ganho material. O branco representa o “timos”, as vezes traduzido como “espiritualidade”. Esse cavalo é reconhecimento, vitória. Por sua vez, o piloto da biga é a Razão, ou Sabedoria. Platão usa essa metáfora para descrever a alma humana. Almas humanas são conflituosas, mas em cada indivíduo um aspecto diferente da alma vence o outro. Então, no livro A República, Platão divide a humanidade em diferentes tipos de pessoas: as almas de bronze, as almas de prata e as almas de ouro. Não precisamos comprar esse conceito de classe de Platão, nem sua interpretação particular para “Boa cidade” para entender que diferentes valores ou desejos levam a diferentes sociedades. Marxistas têm um grande entendimento sobre como as sociedades capitalistas produzem certos tipos de almas, certos tipos de valores, certas formas de olhar para si mesmos e para o mundo. Os Maoístas também diziam que não haveria política revolucionária sem almas revolucionárias.

O capitalismo (neo)liberal de hoje não é só uma ditadura da burguesia, mas toda uma cultura que reflete a visão limitada, as ambições estúpidas, o consumismo feroz da burguesia. Essa cultura nem se confunde com o fascismo tradicionalista do passado. O cavalo branco, o ‘timos’, a ambição, o desejo de reconhecimento que motivava a classificação dos guerreiros nas velhas sociedades, foi domesticado, canalizado em caminhos seguros. Toda uma multidão de vidas fantasiosasé oferecida para ocupar as mentes de quem tem tempo livre. Todos os tipos de identidade, sub-cultura, fantasia, Herbert Marcuse, pegando emprestado de Martin Heidegger, falou sobre a grande tecnologia esmagando a individualidade, transformando ela num dente de engrenagem unidimensional de uma máquina social moderna. O capitalismo talvez seja uma sociedade de dentes de engrenagem, mas dentro do Primeiro Mundo as engrenagens são bombardeadas com entretenimento, discotecas iluminadas, brinquedos, roupas, música pop. A elas são oferecidas todos os tipos de fantasias pra manter elas ocupadas, substituindo assim o “timos” de uma forma que não ameaça o sistema. As ‘engrenagens’ podem ser bárbaros sanguinários em um videogame. Essadomesticação também afeta os revolucionários no Primeiro Mundo. Eles podem até brincar de ser Bolcheviques ou Maoístas. Todos os tipos de política pseudo-radical distraem os indivíduos em caminhos seguros: revisionismo, bem-estarismo, anarquismo, (fazernadaísmo), e políticas identitárias. A busca pela verdade e pela criação artística se transforma em simples brincadeira fantasiosa e troca do todo-poderoso dólar. Vira só outro palco oferecido pela cultura capitalista onde a expressão poder se realizar de uma maneira segura. No Manifesto do Partido Comunista, Marx escreveu que o comércio capitalista rompe com todas as relações tradicionais, inclusive a religião e a família. O Capitalismo profana tudo o que é sagrado. O consumismo feroz e as banalidades do cavalo negro conduz as almas do Primeiro Mundo.

Contrariar o consumismo feroz e as banalidades do Primeiro Mundo é o que o socialismo mais pretende. No socialismo, o “timos” é canalizado numa direção positiva, como parte desses grandiosos experimentos sociais. Homens e mulheres foram grandes guerreiros. Por exemplo, a grande parte de todo o modelo Maoísta, pelo menos como pensou Lin Biao, teria toda a sociedade “aprendendo com o Exército Popular de Libertação,” para ter toda a sociedade envolvida na conduta de Guerreiros Populares. Dever, heroicidade, sacrifício, honra, lealdade eram retratadas em imagens revolucionárias. Homens e mulheres comuns como heróis, mas também como homens e mulheres. O socialismo passado não falhou em elevar o “timos”, falhou por não elevar de verdade a ciência por toda parte. Nós vemos essa falha várias vezes. Por exemplo, o socialismo soviético rejeitou o conceito de Seleção Natural, abrançando as bobagens de Lysenko Lamarck em vez disso. Quase sem debater, os Maoístas rejeitavam os planejamentos ambientais e populacionais como “Malthusianos”. Todos os tipos de erros foram cometidos quando a Ciência foi posta de lado pelo dogma com a intenção de abastecer o ‘timos’. O Comunismo Luz-Guia promove e eleva o ‘timos’, o cavalo branco, mas com a Ciência realmente no Comando, como piloto. A humanidade vai florescer quando a Ciência realmente estiver no Comando, e quando for assegurado aos indivíduos um pouco de liberdade, prazer, diversão, mas sem a insustentabilidade, o consumo do capitalismo. O Cientista, o Filósofo, o Guerreiro, o Trabalhador, o Fazendeiro, o Médico, Artistas e Músicos, os Dançarinos devem ter, todos, o direito de florescer. Só um socialismo realmente científico, com cultura rica e experimental, será capaz de elevar as pessoas para saltar para o pico do Comunismo Luz-Guia.

A alma capitalista é compartilhada pela maioria dos ativistas do Primeiro Mundo, mesmo aqueles que se consideram revolucionários e radicais. E, aqui, políticas identitárias são parte do pacote primeiromundista, (neo)liberal. Você tem uma cultura ativista do Primeiro Mundo que se diz anticapitalista, mas renega nossa real liderança (que é a Verdade). Qualquer um que é capaz de levantar a cabeça é imediatamente derrubado e removido. Esses primeiromundistas partilham da mesma repulsa liberal pelo ‘timos’. Agora, temos que admitir, as condições pra uma revolução não existem no Primeiro Mundo. Obviamente, nós sabemos disso. Nos explicamos isso de novo e de novo. Mesmo assim, maiores progressos devem ser possíveis. C.S. Lewis afirmou, num contexto muito diferente:

“Nós fazemos homens sem coração e esperamos que tenham virtudes… Nós rimos da honra e ficamos chocados ao encontrar traidores em nosso meio. Nós castramos e esperamos que seja frutífero.”

Apesar de poder nunca ter base inicial, imagine com o que a revolução desses ativistas do Primeiro Mundo poderia parecer. Seria um socialismo de estúpidos e covardes. Se de alguma maneira isso realmente pudesse acontecer, pense que tipo de sociedade seria produzida: um socialismo de pessoas idiotas sem grandes sonhos ou verdadeiro intelecto. Seria um socialismo que reflete suas almas vazias. Só iria baixar o nível da humanidade, como a sociedade capitalista já faz. Revolução de verdade não se faz destruindo o que existe de melhor nas pessoas, incluindo suas luzes mais brilhantes. A grande meta não é se livrar de todos os líderes, ou só declarar que todos são líderes pela lei, mas fazer com que todos sejam capazes de realmente serem líderes. O sonho não é o de acabar com todos os gênios, mas reconhecer eles, e produzir o máximo de gênios possível. Socialismo de verdade é criar uma sociedade onde estão atendidas todas as condições para o máximo possível de pessoas florescer, se tornar grandes. O socialismo deles é o socialismo dos bobos, que apesar de sua retórica promove o mesmo espírito idiotizador do capitalismo. Em contraste, o nosso é uma Revolução de Gênios, de heroísmo, de criatividade, de disciplina e sacrifício proletário e militar. Nós somos Luzes-Guias.

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