Velho Poder, Novo Poder, Reforma versus Revolução

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Uma das batalhas-chave da história do nosso movimento foi o conflito entre Reforma versus Revolução. Nós deveríamos trabalhar de maneira gradual, obedecendo a lei, ou deveríamos lutar por mudanças profundas, revolucionárias? Esse debate envolve visões conflitantes sobre a natureza do Estado. Esse debate se enferveceu anos antes de começar a Primeira Guerra Mundial, antes até da Revolução Bolchevique de 1917. De um lado desse debate estavam os revisionistas da segunda internacional, conhecidos hoje como “Social-democratas.” Do outro lado estavam os bolcheviques, liderados por Lenin. Naquele tempo, Lenin era visto como ultra-esquerdista e marginal. Os grandes revolucionários inovadores sempre eram descritos assim. É da natureza dos grandes cientistas revolucionários – Marx, Lenin, Mao, e a Luz-Guiadora – que eles consigam ver além da capacidade dos outros, que eles consigam descrever o que outros não conseguem. Eles simplesmente não aceitam o senso comum de seus tempos. Em vez disso, eles viram mais longe que os outros. Eles foram ao topo da montanha e voltaram para o povo. Eles têm um pé no mundo da alta-ciência e outro no mundo do povo. Eles foram conduítes do mundo da ciência para o mundo do povo. Ser um conduíte, um revolucionário comunicativo, cientificamente consciente é realmente seguir a linha de massas. Isso é parte do que significa ser vanguarda verdadeira, liderar. Isso é o que significa ser uma Luz-Guia. É importante derrubar ilusões reformistas do passado pra fazer a Revolução. É importante entender a natureza verdadeira do Estado reacionário. Entender a natureza verdadeira do Estado é uma chave pra fazer a Revolução e chegar ao Comunismo Luz-Guiadora, finalizando toda forma de opressão.

A Revolução Bolchevique liderada por Lenin e aquelas Revoluções que ecoaram dela foram as primeiras Revoluções Socialistas realmente sustentadas. Elas foram as primeiras tentativas realmente sustentadas de construir o Socialismo e chegar ao Comunismo – o fim de toda a opressão. Essas Revoluções confirmaram as Teorias sobre o Estado de Marx. Elas também avançaram nosso entendimento sobre o processo revolucionário. No entanto, com o fim de entender essas aulas, é necessário analisar também olhar para as Teorias revisionistas prevalecentes nos tempos de Lenin. Muitas pessoas hoje – social-democratas e liberais – rejeitam a visão de Lenin; eles compartilham uma visão contrária do Estado e do processo de mudança social. Os revisionistas defendiam uma visão de que o atual Estado seria uma instituição neutra ou quase-neutra que poderia ser contestada por forças sociais hostis ou semi-hostis. Em outras palavras, alguns revisionistas viam o Estado como um tipo de instituição neutra que estaria acima de qualquer luta de classes. Ele poderia ser usado como um tipo de mediador entre a burguesia e o proletariado. Ele seria uma instituição neutra que beneficiaria todos que estão sob sua autoridade. Esses revisionistas acreditam que, por ser uma instituição neutra de alguma forma, o velho Estado poderia ser vencido.

Os revisionistas promovem a unidade social entre os povos imperialistas. É verdade que trabalhadores imperialistas e patrões imperialistas possam se reconciliar, e ainda fazer acordos dentro do Estado ou sem a ajuda dele. Entretanto, isso só é possível porque trabalhadores imperialistas e patrões imperialistas não são classes antagônicas. A paz social só pode ser comprada entre trabalhadores imperialistas e patrões imperialistas às custas de outras pessoas. E o Estado tem um grande papel nesse processo. Contudo, como Lenin apontou, a paz social nunca pode ser comprada entre classes antagônicas. Ela nunca pode ser comprada e vendida entre a burguesia mundial e o proletariado mundial, com ou sem interferência do Estado. A concepção revisionista coloca os trabalhadores dos países deles sobre o proletariado global , assim como os primeiromundistas fazem hoje. A concepção de socialismo deles não é feita para atingir o Comunismo, acabar com toda a opressão. Em vez disso, a concepção deles geralmente é a imagem de uma unidade nacional amarrada com avanço$ materiai$ para os trabalhadores deles. Essa visão particular é conectada com um economicismo limitado que vê o “socialismo” basicamente como um aumento das condições materiai$ de vida, não como uma nova ordem radical que tenta alcançar o Comunismo, eliminar a opressão em todo o Mundo. Esses revisionistas veem os trabalhadores do próprio país, não o Proletariado Global, como sua base social. Eles fazem agitação pelos trabalhadores de seus próprios países às custas do Proletariado Global. Isso leva a situação facilmente para o social-imperialismo ou social-fascismo – imperialismo e fascismo disfarçados de socialismo. Os imperialistas queriam e querem fazer uma grande aliança entre os trabalhadores imperialistas e a burguesia imperialista de seus próprios países através do Estado. Essa visão de Estado peculiar é usada pra justificar guerras imperialistas contra países pobres e guerras contra outros países imperialistas. Os revisionistas da Segunda Internacional votaram pelo apoio à Primeira Guerra Mundial pela ideia de que (por exemplo) a vitória do imperialismo francês beneficiaria não só os capitalistas da França, mas também os trabalhadores dela. De maneira similar, os revisionistas alemães disseram que uma vitória alemã beneficiaria toda a sociedade alemã, incluindo seus próprios trabalhadores. Lenin criticou esse social-imperialismo e social-fascismo. Hoje, o primeiromundismo é a maior forma de social-imperialismo e social-fascismo.

Essas visões revisionistas estão amarradas ao reformismo. Os revisionistas dizem que, pela neutralidade ou quase-neutralidade do Estado, ele pode ser capturado gradualmente por meios legais e parlamentários. Em outras palavras, o Estado atual não seria um instrumento de opressão, de acordo com os revisionistas. Eles acreditam que o Estado possa ser vencido por eleições e lobby. Por essa opinião, o “socialismo” é alcançado por reformas graduais do Estado. Como Lenin denunciou, a concepção revisionista de “socialismo” não é de um socialismo verdadeiro. Os revisionistas “balançam uma bandeira vermelha pra se opor à bandeira vermelha.” A concepção de “socialismo” deles despreza a Ditadura do Proletariado pra favorecer a colaboração imperialista. Ela também despreza o conceito de comunismo. Os revisionistas não acreditam que o Proletariado Global precisa mandar no Mundo. Eles não veem as necessidades da linha comunista, da ciência revolucionária, de estar no comando da sociedade. Esse comportamento é adotado por um grande número de forças revisionistas, social-democratas e liberais.

Lenin tinha uma visão muito diferente. Lenin defendia a concepção de Marx de Ditadura do Proletariado. Marx polemizou uma vez descrevendo o Estado como “um corpo de homens armados.” É claro que o Estado é mais do que isso, mas o que Marx revela é o monopólio da violência, a opressão de classe, como um fundamento do Estado. Isso não pode ser separado dele. Lenin entendeu isso. Ele viu o Estado como uma espécie de arma usada por uma classe para oprimir a outra. O velho Estado é uma arma que só pode ser manipulada pelos reacionários, traidores da classe trabalhadora. O Estado não é um lugar neutro onde classes antagônicas se encontram para diminuir suas diferenças. O velho Estado não pode ser fundamentalmente reformado para se chegar ao socialismo. Lenin dizia que o Estado poderia ser um instrumento tanto da burguesia como do proletariado, mas não dos dois ao mesmo tempo. Em seu funcionamento principal, o Estado é sempre um instrumento dos amigos ou dos inimigos.

Essa concepção de Lenin teve implicações importantes para a prática revolucionária. Pense na história do homem que jogou seu ouro para fora do barco. Ele mergula na água depois do ouro dele. Ele se afoga. Seria ele o dono do ouro ou o ouro virou o dono dele? A natureza do Estado reacionário é assim. Mesmo nas raras ocasiões em que forças progressivas sobem ao poder dentro do velho Estado, elas não terminam como donas do Estado. Em vez disso, é o Estado que vira dono delas.  Elas não capturam o Estado, o Estado captura elas. Pelo próprio processo de captura do Estado dentro das regras dele, as forças progressivas são transformadas no oposto do que elas dizem que são. Elas não ajudam, mas viram parte do sistema mesmo que elas digam fazer o contrário. O velho Estado não é criado para esperar ser ocupado por revolucionários. O velho Estado não pode simplesmente ser capturado, ele deve ser esmagado. Ele deve ser destruído. O velho poder será varrido pra longe; um Novo Poder deve ser construído em seu lugar.

Marx escreveu que a velha sociedade está grávida, com a nova sociedade em seu ventre. O Novo Poder é, em parte, o Novo Estado em miniatura que se levanta dentro da velha sociedade. Por algum tempo, tanto o velho poder como o Novo Poder existirão lado-a-lado, fenômeno que Lenin chamou de “Poder Duplo.” O Novo Poder é composto de instituições independentes dos oprimidos. O Novo Poder inclui a rede de instituições populares lideradas pelo Partido Comunista que se levantam dentro da velha sociedade pra enfrentar o velho poder. Todas essas instituições são dirigidas por uma liderança comunista na batalha pela hegemonia contra o velho poder até que ele seja derrubado. Nos tempos de Lenin, os principais órgãos do Novo Poder eram os soviets, ou conselhos de trabalhadores. Os bolcheviques, liderados por Lenin, rejeitaram o chamado para participar de uma coalizão com o governo dentro do velho Estado. Em vez disso, eles demandaram “Todo o poder para os soviets!”

Esse conceito de Novo Poder foi desenvolvido depois da experiência Soviética, mas foi também adaptado e avançado durante a próxima grande onda revolucionária, melhor representada pela Revolução Chinesa liderada por Mao. O caminho de Mao para o Poder era um pouco diferente do de Lenin. Desde os dias de Marx, a revolução mundial estava se movendo dos países imperialistas em direção aos colonizados. A revolução bolchevique não triunfou no mais forte dos países imperialistas, mas no elo mais fraco do sistema imperialista, a Rússia czarista. Nos tempos de Lenin, a revolução mundial se movia cada vez mais fundo no mundo colonial. A China seria o novo desafio. As condições da China eram muito diferentes. Mao adaptou e expandiu o conceito de Novo Poder para se encaixar nessas condições. Na China, o caminho para o Poder foi uma Guerra Popular que avançava das áreas rurais, onde o Estado reacionário era mais fraco, para as cidades. Para estabelecer o Poder Duplo, as forças vermelhas tomaram áreas onde o velho poder era mais fraco para estabelecer aí um Novo Poder. Daí em diante, eles expadiram aos poucos o Novo Poder geograficamente até que os únicos locais que sobrassem para o velho poder se concentrar fossem as cidades, que poderiam ser cortadas e derrotadas. Esse conceito geográfico de Novo Poder é o que os maoístas chamam “áreas de base” ou “ZOnas Vermelhas.”

Nessas Zonas Vermelhas, o Novo Poder é criado. Instituições independentes dos oprimidos são criadas. Um Novo Estado em miniatura é criado. Ele é protegido pelo Exército Popular, um poderoso Exército Vermelho. Escolas para o povo. Ensino. Nova Cultura Revolucionária. Nova Arte. Nova música. Nova dança. Reforma Agrária. Liberação das mulheres e da juventude. Tribunais Populares. Comitês Populares. Uma economia nova, orientada coletivamente. Uma relação nova, sustentável, entre a sociedade e a natureza. Servir ao povo. Resolver os problemas do povo. Viver a Revolução. A Nova Sociedade em miniatura. A Zona Vermelha e o Novo Poder dela serão o farol dos oprimidos e explorados do Mundo.

Lin Biao expandiu ainda mais a ideia de Mao. Lin Biao pregava que as Guerras Populares individuais eram parte de uma Guerra Popular global muito maior. Assim como a Guerra Popular de Mao se movia do campo para a cidade, a Guerra Popular Global também se move do Campo Global para a Cidade Global. E então, a nível global, os países socialistas por eles mesmos seriam as Zonas Vermelhas do Mundo, assim como são também as áreas liberadas dentro de cada país em Poder Duplo. Lin Biao viu o processo revolucionário como uma contínua expansão geográfica do Novo Poder, estabelecendo mais e mais países socialistas, que atuariam como Zonas Vermelhas. O Primeiro Mundo seria então cortado e finalmente derrotado pela Guerra Popular Global.

Nos anos que virão, assim que nós iniciarmos a próxima Grande Onda de Revoluções, esses conceitos serão confirmados e avançados. Com o crescimento da Favela Global dentro do Campo Global, é certo que o Novo Poder vai tomar formas ainda mais novas. As Zonas Vermelhas do futuro vão parecer um pouco diferentes que as Zonas Vermelhas do passado. Elas vão ter que se adaptar para enfrentar a crescente capacidade tecnológica do aparato repressivo do Estado. Além disso, nosso conceito de Novo Poder contará com o uso crescente de novas tecnologias da informação pelos revolucionários. O Novo Poder do futuro não existe só na terra, não só geograficamente, mas também no cyberespaço.

Essas lições importantes foram confirmadas de novo e de novo em nossa História. Nós temos que entender o passado e avançar para o futuro. Em todas as áreas, a (Organização Comunista da) Luz-Guiadora está colocando a Ciência Revolucionária no Comando. Só a Luz-Guia elevou a Ciência Revolucionária de maneira onipresente para um nível totalmente novo. O Comunismo Luz-Guia é o apogeu do pensamento revolucionário de hoje. Ela é o novo avanço. Nós temos que seguir a Luz-Guiadora para o verdadeiro Comunismo. Nós devemos colocar a Ciência Revolucionária no comando se nós quisermos, realmente, vencer.

Escrito pelo Comandante Campo Flamejante
Traduzido para o português por Rivaldo Cardoso Melo

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