“Beneficiados por Hitler” (2005), de Gotz Aly


(portugues.llco.org)aly

O livro de Gotz Aly, “Beneficiados por Hitler” (2005), é um livro de tremer o chão. Aly rompe com a visão dogmática de que a classe trabalhadora alemã repudiava a tirania de Hitler, visão essa sustentada por muitos fabricadores de mitos de “esquerda”. O livro rompe com a mitologia compartilhada entre todos os primeiromundistas, sejam eles trostyskistas, marxistas-leninistas ou qualquer outra coisa. Aly mostra muito bem como o regime de Hitler não sobreviveu às custas da classe trabalhadora alemã, mas por causa dela. O regime de Hitler foi capaz de se manter no poder, mesmo enquanto perdia a guerra, porque era muito popular entre os cidadãos comuns da Alemanha:

“Precisamente por tantos alemães terem, de fato, se beneficiado das campanhas da Alemanha Nazista de pilhagem, só surgiu uma resistência marginal. Contentes como a maioria dos alemães estava, havia poucas chances pra um movimento doméstico fazer pararem os crimes nazistas. Essa nova perspectiva sobre o regime nazista como um tipo de Estado de Bem-Estar racista e totalitário nos permite entender a conexão entre as políticas nazistas de genocídio racial e o apoio incontável que recebia do povo, (num paralelo com) anedotas de família aparentemente benígnas sobre como uma geração de cidadãos alemães “aprovou” a Segunda Guerra Mundial.” (2)

Aly explica como as conquistas imperiais do regime fascista foram usadas para elevar o padrão de vida da maioria dos alemães. Isso fez o regime ser imensamente popular e ofuscar qualquer resistência às suas políticas, inclusive as políticas racistas radicais. Os políticos nazistas estavam muito conscientes da conexão entre conquistas imperiais, expropriação das riquezas dos povos oprimidos, e paz social doméstica. Eles tinham tanta consciência dessa ligação que frequentemente faziam micro-manejamentos de cada aspecto da pilhagem e da exploração com fim de assegurar que o povo alemão continuasse apoiando eles. O livro de Aly é importante para aqueles que procuram entender as relações entre Primeiro-Mundo e Terceiro-Mundo hoje. Assim como o alemão mediano colheu benefícios das conquistas alemãs, os trabalhadores do Primeiro-Mundo também colhem pesados benefícios do sistema mundial imperialista. Assim como o regime nazista desenhou um sistema que expropria riquezas de povos oprimidos e outros países em benefício da população alemã, fazem também os políticos primeiromundistas de hoje, querendo beneficiar as populações do Primeiro-Mundo às custas do Terceiro-Mundo. O livro é importante para aqueles que querem entender como as estruturas de classe mudam por causa do imperialismo.

Popular, Jovem e Radical

A palavra “nazi” é levada a representar todo tipo de coisa. Ela geralmente é associada com ditadura brutal, impopular. Apesar de o regime nazista ter sido uma ditadura brutal e impopular para aqueles que ele oprimiu, a maioria dos alemães não via ele desse jeito. A maioria dos alemães não estava debaixo das botas dele. De acordo com Aly:

“O Terceiro Reich não foi uma ditadura mantida pela força. Na verdade, a liderança nazista desenvolveu uma preocupação quase medrosa sobre a satisfação de seu povo, que eles monitoravam cuidadosamente, devotando consideráveis energias e recursos pelo abastecimento de desejos de consumo, mesmo em detrimento do programa de rearmamento do país.” (25)

Aly pinta outro quadro sobre o regime, ao menos como ele era vivido pelos alemães. O regime de Hitler era muito popular, radical, e jovem. Ele não era percebido como representando um governo velho, mofado, conservador. Ele era visto como uma coisa muito nova e diferente. A revolução nazi era vista como algo excitante. Ela era uma revolução dos jovens e para os jovens. Por exemplo:

“Quando Hitler subiu ao poder em 1933, Joseph Goebbels tinha 35 anos. Reinhard Heydrich tinha 28; Albert Speer, 27; Adolf Eichmann, 26; Josef Mengele, 21, e Heinrich Himmle, assim como Hans Frank, tinha 32. Hermann Göring um dos mais velhos da liderança do Partido, tinha acabado de celebrar seu aniversário de 40 anos.” (13-14)

Pouco tempo depois, durante a Segunda Guerra Mundial, de acordo com uma pesquisa, a idade mediana dos líderes de nível médio do partido era 34 anos, e dentro do governo, 44. (14) Os líderes nazistas eram alguns dos mais jovens do Mundo, na época. Alemães entre 20 e 30 anos estavam decidindo as maiores políticas do Estado. A juventude nazista estava conduzindo o Mundo. Eles estavam decidindo o destino de povos e nações. A maioria dos alemães não via o regime como opressivo e velho, eles viam o regime como desenhista de um Mundo jovem e bravo:

“Para a maioria dos jovens alemães. Nacional Socialismo não significava ditadura, censura, e repressão; significa liberdade e aventura.” (14)

Mesmo durante a guerra, o regime era popular:

“A liderança alemã criou e manteve um tipo de socialismo pra tempos de guerra visando a atração da lealdade dos cidadãos comuns.” (53)

O regime não era dominado por um pessimismo conservatico, mas por um otimismo jovial sobre a superação das velhas divisões entre alemães. O regime via as divisões tradicionais (de classe e de fronteira) e as desigualdades entre alemães como uma grande parte dos problemas que a nação enfrentava. O espírito jovial do regime representava uma vontade maior dele em implantar ambiciosos programas sociais pra acabar com essas divisões. O regime dava uma atenção especial para a unidade e a paz social, pelo menos entre os alemães. Essa paz era principalmente comprada às custas de outros povos. Mesmo que a ideologia nazista tivesse pregado a desigualdade entre as raças, ela colocou grande importância sobre a igualdade entre os alemães. Esse era o aspecto “socialista” do “nacional-socialismo.” Contudo, em realidade, não havia nada realmente socialista no regime nazi. Não existe um tipo de coisa como “nacional-socialismo,” o único socialismo verdadeiro que existe é internacionalista. Socialismo de verdade não representa só os interesses dos trabalhadores de uma única nação. O socialismo de verdade representa os interesses do proletariado, que é uma classe revolucionária internacional. Socialismo e Comunismo não devem ser confundidos com nacionalismo.

Dívida, Impostos, Arianização

À medida que o regime nazista começava o programa de rearmamento, os empréstimos dele cresciam muito. Conforme o regime se rearmava, e as guerras se aproximavam, ele tentava aliviar o peso das dívidas dos ombros dos alemães. O regime queria manter a paz social. Durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, o padrão de vida médio dos alemães caiu quase 65%. O terceiro reich não queria repetir essa situação quando eles planejaram a Segunda Guerra Mundial. (35) Em 1939, uma lei nazista estipulava: “Os padrões de vida anteriores e níveis de renda dos tempos de paz serão levados em conta no cálculo da gradação de pensões familiares para membros do Wehrmacht.” (69) O regime nazista buscou um “compartilhamento socialmente justo da dívida” nos anos que se aproximavam da guerra e depois. (38) O regime cumpria isso de várias maneiras. Por exemplo, as políticas de impostos nazistas eram redesenhadas para aliviar o peso nas contas do alemãos ordinário. (55) A hierarquia nazista rejeitava políticas tributárias que pudessem prejudicar seu apoio popular. (50) Os nazistas implementaram impostos progressivos desenhados para criar apoio popular. Um repórter nazista estava feliz com os sucessos de 1943: “As pessoas estão saudando suas dívidas financeiras, as hipotecas estão sendo pagas, e as desapropriações judiciais estão em declínio.” (58) Descontos fiscais foram especialmente estendidos para fazendeiros e os subsídios foram extendidos. (55) Ao mesmo tempo, os nazistas aumentaram a carga tributária sobre os ricos. “A tendência a incidir sobre os negócios e os ricos ganhou esforço complementar no ano fiscal de 1942-43.” (62) Hitler também aumentou a carga sobre aqueles que faziam “renda sem esforço” através de investimentos no mercado de ações. (65) Os industriais se queixavam que o regime nazista estava sifonando de 80 a 90% dos lucros dos negócios em 1943. Mesmo se isso figurar um exagero, isso dá uma ideia sobre o esforço nazista para manter a paz social em casa. (68)

Em adição, os nazistas mantiveram a paz social pelo aumento do bem-estar e dos benefícios sociais estatais. Eles votaram por um aumento em programas sociais e em pagamento de pensões, especialmente para pensionistas de curto-prazo. Eles pediam para “os trabalhadores de colarinho-branco e colarinho-azul serem colocados em pé de igualdade” para dar a eles uma amostra preliminar do futuro harmonioso que viria. Esse futuro seria conquistado por “uma generosa reforma do Estado de Bem-Estar Social em benefício do povo trabalhador.” Por várias e várias vezes, a ala mais ideológica do regime intervia contra a ala mais pragmática. A paz social e os benefícios sociais frequentemente venciam sobre a responsabilidade fiscal. Apesar dos problemas orçamentários, pessoas como Martin Bormann, Albert Speer, Heinrich Himmler, e o ministro de alimentos e agricultura Herbert Backe interviram em nome dos alemães ordinários. Hitler era capaz de ficar à parte dos debates. (57)

Conforme se rearmava, fazia guerras, e buscava manter a paz social, o regime entrava num endividamento massivo tão grande que às vezes se deparava com colapsos financeiros. Os nazistas faziam empréstimos de fontes domésticas e estrangeiras. Às vezes, eles levavam países ocupados fortemente armados a “emprestar” grandes somas para o regime. OS nazistas não tinham intenção de pagar essas somas de volta e registravam elas nos livros deles como receita. (266) Os nazistas usaram de todo tipo de trapaças financeiras possíveis pra esconder a verdadeira extensão de seus empréstimos. Em 1938, Göring disse: “Eu não sei de outra maneira de manter meu Plano Quadrienal e a economia alemã funcionando.” (45) Os empréstimos chegaram a um ponto onde a única solução pra pagar as dívidas da economia alemã era era canibalizar a população judia e, de vez em quanto, outros povos. A canibalização da riqueza dos judeus foi chamada de “Arianização.” Aly escreve:

“Forçados a propor maneiras cada vez mais criativas de refinanciar a dívida nacional, eles voltaram as atenções para as propriedades dos alemães judeus, que foram rapidamente confiscadas e adicionadas aos autoproclamados Volksvermogen, ou ativos coletivos, que, por meios não restritos à sociedade alemã, representaram a possibilidade de despossuir aqueles considerados ‘aliens’ (Volksfremden) ou ‘hostis’ (Volksfeinden) para a etnia dominante.” (41)

Aly também escreve:

“[O Estado] distribuiu bens materiais que melhoraram o padrão de vida popular. A liderança política dirigiu sem ambiguidade os servidores públicos ‘para agir, sob a luz de sua responsabilidade diante de todo o povo, com entendimento correspondente das preocupações e necessidades dos membros das famílias dos soldados da linha de frente.'” (70)

Arianização foi a tranferência das economias dos judeus para as mãos do regime e para as mãos dos alemães comuns. (41) O regime buscou a “remoção definitiva dos judeus da vida econômica” e “transformar a riqueza judia na Alemanha em ativos que vão renegar [dos judeus] qualquer influência econômica.” (44)

“Arianização foi essencialmente uma operação gigantesca, de tráfico transeuropeu de coisas roubadas. Ela pode ter apresentado diferentes formas em diferentes países, mas o destino final das receitas geradas era sempre o esfor$o de guerra alemão. Esses fundos permitiram ao Reich pagar seus encargos financeiros.” (184)

[O processo de] Arianização tomou várias formas, de completa pilhagem e terror contra o povo judeu até medidas legais ou quase-legais. Bancos e outras instituições financeiras ajudaram no processo. “Os diretores de bancos não eram os que realmente pilhavam aqui, mas eles agiram como acessórios, ajudando a maximizar a eficiência da campanha de expropriação.” (50) Frequentemente, as transferências eram mal disfarçadas. Por exmeplo, o regime forçava os judeus a entregar seus ativos para ações e títulos do governo. No papel, os judeus eram compensados. (43) Göring disse:

“O judeu está sendo conduzido para a economia e está entregando seus ativos econômicos para o Estado. Em retorno, ele está sendo compensado. Sua compensação é anotada na folha do livro-mestre e acumula uma certa quantidade de juros. É disso que ele vive.” (45)

No final, a população seria levada ao exílio e liquidada no Holocausto, nunca resgatando suas propriedades. Por exemplo, em 1938, os ativos líquidos dos judeus, de acordo com um cálculo que excluía os ativos realmente estatais e os negociais, totalizaram 4.8 bilhões de reichmarks que poderiam ser confiscados pelo Reich. O processo se repetiu de novo e de novo. Isso ajudou a manter o Estado solvente. O Estado também tomou medidas preventivas para quando os judeus tentassem fugir ou transferir seus investimentos para fora da Alemanha. Em 1938, o Estado sancionou uma lei pela qual todas as propriedades dos judeus expulsos iriam direto para o Reich. As coisas dos judeus eram vendidas a preços baixos para o público, ao mesmo tempo em que financiavam o e$forço de guerra e as políticas socialdemocratas do regime. (43-47) A bibliotecária Gertrud Seydelmann se lembra dos leilões de bens Arianizados nos distritos da classe trabalhadora de Hamburgo:

“Donas de casa comuns de repente vestiam casacos de pele, negociavam cafés e joias, e importavam móveis antigos e tapetes da Holanda e da França… Alguns dos nossos leitores regulares estavam sempre me dizendo pra descer até o porto se eu quisesse pegar uns tapetes, carpetes, móveis, joias, e peles. Isso eram coisas roubadas dos alemães judeus que, como eu aprendi depois da guerra, foram levados para os campos da morte…” (130)

Aly escreve:

“O Reich e seus cidadãos também se beneficiaram da disponibilidade aumentada de capital, imóveis, e bens que variavam de pedras preciosas e joias de todo tipo até artigos baratos vendidos em mercados-parasitas. As expropriações dos judeus também estabilizaram as economias e acalmaram a atmosfera política nos países ocupados, simplificando absurdamente o trabalho [de controle social] da Wehrmacht. Artigos liquidados por menos que seus valores reais providenciaram um subsídio indireto tanto para compradores alemães como estrangeiros.” (248)

O regime buscava justificar a pilhagem da riqueza dos judeus com a ideologia racista deles, mas socialdemocrática. Aqueles que implantaram por reformas socialdemocráticas foram também aqueles que implantaram as políticas mais genocidas. As duas estavam ligadas. (57) Em 1938, o ministro do interior Wilhelm Frick disse:

“As riquezas atualmente nas mãos dos judeus estão sendo consideradas propriedade do povo alemão. Qualquer diminuição do valor ou destruição delas representa uma redução nas riquezas coletivas do povo alemão.” (45-46)

A liquidação das coisas dos judeus também freiou a inflação, associada com a guerra. Ela também aliviou a carga tributária sobre os alemães comuns, ainda que a maior parte dos lucros viesse da pilhagem. (186) A arianização dos ativos ajudou a manter a economia sem grandes dívidas, aumentar os artigos de luxo disponíveis para o povo alemão, e ajudou a manter os lucros do governo fluindo. As políticas eram populares entre os contribuintes (pagadores de impostos) alemães ordinários. A arianização da Alemanha se tornaria pouco depois um modelo pra uma arianização mais ambiciosa por toda a Europa ocupada. (46-48)

Guerra, Ocupação, Pilhagem

Mesmo durante os tempos de guerra, os alemães estavam, em geral, satisfeitos com o que tinham. Assim como os nazistas canibalizaram as riquezas judias com fim de aumentar a paz social, eles também transferiram valore$ desses países que eles ocuparam para a Alemanha. Aly escreve:

“[…]uma vez que o Estado nazista se encarregou do que se tornou a guerra mais cara na história do Mundo, a maioria dos alemães pagou por quase nenhum dos seus custos. Hitler protegeu o ariano médio desse encargo às custas da privação de outros [povos] de suas subsistências básicas.” (9)

“O regime nazista precisava de constante desestabilização militar da periferia para manter a ilusão de estabilidade financeira no centro do Reich.” (40)

O regime desenvolveu métodos elaborados pra compensar os custos de guerra e também manter os valores fluindo dos países ocupados para a Alemanha com fim de manter os alemães felizes. Uma maneira que eles usaram pra chegar a isso foi exigir que os países ocupados pagassem pela própria ocupação.

“No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os alemães ordenaram contribuições sem precedentes, junto com empréstimos compulsórios e ‘quotas’ baseadas em população, aos países derrotados da Europa. Esses tributos financeiros rapidamente excediam o total dos orçamentos dos tempos de paz dos países em questão, normalmente em mais de 100% e, na segunda metade da guerra, subiam pra mais de 200%.” (77)

“Em 1943 a maioria das receitas adicionais relativas à guerra da Alemanha vieram do estrangeiro, de trabalhadores estrangeiros escravizados, e das expropriações de judeus como ‘inimigos do Estado.’ Essas fontes de renda asseguraram uma porção importante dos esforço$ militares alemães.” (79)

Esses custos de ocupação foram usados pra exigir mais e mais tributos dos derrotados. Por exemplo, os franceses reclamavam que os tributos pagos à Alemanha por custos de ocupação estavam sendo usados para coisas que não tinham nada a ver com ocupação. (78) Na Grécia, a pilhagem limpou “uns 40% da renda grega real” em 1941. (248) Isso foi parte de um processo maior de repasse dos encargos da guerra dos alemães para outros povos.

Outra via que os alemães usaram pra compensar seus gastos e manter os povos pilhados de países ocupados foi pela requisição de materiais necessários em algum lugar dos povos ocupados. Os alemães introduziram certificados do Banco de Créditos do Reich, um tipo de nota promissória para bens e serviços utilizados pelas forças de ocupação. Esses eram tão utilizados que os militares nem precisavam fazer consfiscos forçados. Os certificados davam à pilhagem a aparência de legalidade, um ar de legitimação. A introdução dos certificados foi a introdução de um segundo comércio:

“As baionetas alemãs forçaram os inimigos derrotados a aceitar por derradeiro pedaços de papel sem valor como equivalentes de fato aos que se usavam em seus próprios comércios. O dano à economia francesa foi mal percebido no começo, enquanto a economia alemã recebia um belo lucro.” (88)

Isso foi repetido por todas as partes das áreas ocupadas. Esse segundo comércio fez a transferência de curto-prazo dos valores ser mais fácil, mas ele também tinha o efeito colateral de desestabilizar o comércio local dos povos ocupados. Esse comércio fez a transferência de longo-prazo ser mais difícil porque a introdução de um segundo comércio controlado pelos alemães sucateava as economias dos povos ocupados. A introdução dos certificados ajudou a dinamizar a pilhagem de curto prazo dos povos ocupados. Depois, em 1943, esses certificados foram retirados do mercado pra estabilizar a moeda da França. (87) Isso foi uma parte do conflito que estava ocorrendo entre os políticos. Uns queriam transferir o máximo de valores pra Alemanha o mais rápido possível pra compensar os gastos de guerra e manter os alemães felizes. Outros reconheciam que poderia haver um ganho maior pros alemães se as economias dos países ocupados fosse mantida estável. Mais valor poderia ser sifonado para a Alemanha a longo-prazo.

A pilhagem também foi executada através de outras manipulações financeiras que beneficiaram os alemães às custas dos povos ocupados. As forças de ocupação nazista disfarçavam a pilhagem delas através de manipulações comerciais que favoreciam os alemães. Eles conscientemente manipulavam taxas de câmbio do comércio ao próprio favor. A manipulação do comércio beneficiava tanto a economia alemã como os soldados nos países ocupados. A Alemanha contava com a importação de matérias-primas pra manter seu esforço de guerra e sua produção doméstica. A manipulação do comércio fez a importação e a exportação de materiais pra Alemanha serem mais baratas. Ela deu aos soldados alemãs nas áreas ocupadas mais poder de compra, o que permitia a eles adquirir mais riquezas para si mesmos e mandar uma parte a mais pra Alemanha. A manipulação dos comércios estrangeiros ajudou tanto os consumidores como a máquina de guerra alemães a se manterem bem supridos. (76-81)

Pilhagem manual e por correspondência

Os soldados alemães esvaziavam as casas dos países ocupados. Eles pilhavam e roubavam. No entanto, eles também pagavam por bens que eram radicalmente desvalorizados. A política alemã foi designada para esmagar as economias dos países invadidos com fim de facilitar a transferência de valores pra Alemanha. Um efeito intencional dessa política foi o de aumentar o poder aquisitivo dos soldados alemães. As coisas que eles compravam eram consumidas pelos próprios soldados ou enviadas para a Alemanha através de pacotes militares. Os soldados também carregavam coisas com eles mesmos quando podiam. Muitos alemães lembram com carinho da abundância de artigos de luxo vindos do estrangeiro, abundância que foi possível pela guerra. Os alemães que receberam coisas das terras ocupadas “se orgulharam e se gabaram.” Aly menciona um alemão que viveu nesse período:

“Eu lembro de um número de coisas boas… que amigos e parentes desempacotavam com orgulho das parcelas recebidas do ‘estrangeiro’… As pessoas tinham mais respeito por quem mandava esses pacotes e comparavam ele mais favoravelmente com aqueles que não mandavam nada de volta.” (97)

AS leis foram mudadas pra encorajar o fluxo regular do valor pra Alemanha. O deputado financeiro Ministro Reinhardt interviu para as queixas dos assentados nas fronteiras do norte e do leste. Ele invocou um decreto de Hitler: “É vontade do Füher que o máximo possível de gêneros alimentícios sejam trazidos pra Alemanha dos territórios ocupados do leste e que as autoridades aduaneiras adotem um procedimento de não-interferência.” (106) É bom lembrar também que o controle aduaneiro entre a Alemanha e o protetorado da Bohemia e Monrovia foi abolido. Isso prontamente levou os soldados alemães a um sentimento de “compra frenética.” Um oficial escreveu, “Os vagões de bagagem dos trens expressos estão cheios até o teto com malas pesadas, pacotes volumosos, e bolsas estufadas.” Todos, mesmo aqueles de alta hierarquia, estavam enchendo suas bagagens com “os bens de consumo mais extraordinários – peles, relógios, remédios, sapatos – em quantidades quase inimagináveis.” (97) Um historiador descreve o que os franceses chamaram de “escaravelhos de batatas”:

“Carregados com pacotes pesados, os soldados alemães partiam de Gare de l’Est pra licença de repouso doméstico. Eles adquiriram em incontáveis transações minúsculas, mas provocaram significante dano à economia nacional francesa, desempenhando um papel significante no desenvolvimento do mercado negro e da inflação. Eles foram a razão do aumento da dificuldade pras pessoas francesas de todo dia obterem o básico pras suas necessidades.(98)

Em 1942, quando surgiu o debate sobre a falha de apliacar políticas aduaneiras, Göring interveio, “Senhor Reinhardt, desista dos seus controles aduaneiros. Eu não estou mais interessados neles… Eu considero melhor ter quantidades ilimitadas de bens contrabandeados entrando do que ter taxas de importação pagas sobre nada do todo.” A elite nazista interveio contra a burocracia e a favor do alemão comum. É por isso que os alemães ordinários de maneira muito direta e tangível da ocupação dos povos derrotados.

Os conflitos surgiram de novo entre aqueles com tendência a apoiar o alemão mediano pela pilhagem imediata e aqueles com uma visão de largo-prazo. Nesses debates, Göring afirmava:

“Foi dito que nós precisamos restringir o acesso dos nossos soldados aos seus pagamentos, ou isso vai causar inflação na França. Mas inflação é o que eu quero ver mais do que qualquer outra coisa… O franco (moeda francesa) poderia valer nada mais que uma folha de um certo tipo de papel usado para uma finalidade específica. Isso vai atingir a França da maneira exata que nós queremos atingir a França.” (105)

Com o passar da guerra e das ocupações, os debates surgiam dentro do regime sobre como transferir melhor o valor para fora dos países derrotados e ocupados. Os burocratas pesavam os ganhos e perdas de estratégias de curto e longo-prazo. Por sua vez, por todo o governo, os nazistas estavam muito conscientes no desenho das políticas de ocupação que beneficiavam o Estado alemão, mas também beneficiavam o cidadão alemão comum e mantinham a paz social.

Escravidão

Uma estimativa de 8 a 12 milhões de trabalhadores escravos, a maioria do Leste da Europa, trabalhou pro regime nazista. Eles trabalharam sob condições perigosas e desumanas, geralmente nas indústrias de armas alemãs. Nos casos mais infames, especialmente pelo Leste Europeu, os alemães, empresas e organizações financiadas por alemães “funcionaram pra matar [os trabalhadores forçados delas] em condições de verdadeira escravidão.” (161) Mesmo os capitalistas se queixaram numa ocasião. Por exemplo, as condições eram tão ruins pros trabalhadores forçados que às vezes as companias alemães protestavam sobre o tratamento que recebiam. Em outro exemplo, na Prússia do Leste, as companias alemãs reclamavam que os trabalhadores poloneses estavam sendo explorados com tanta brutalidade que não havia incentivo pro trabalho. Eles reclamaram pro regime nazista que o sistema era tão brutal que estava prejudicando as habilidades de produzir. Às vezes esses trabalhadores recebiam um “pagamento” nominal que era de 15 a 40% menor que a média paga aos trabalhadores alemães. Eles “pagavam” os trabalhadores como parte de relações públicas pra se protegerem de qualquer crítica. No entanto, a realidade é que as autoridades inventavam um número de esquemas pra trapacear os trabalhadores e confiscar o “pagamento” deles. Por exemplo, quando os alemães invadiram o norte da Itália em setembro de 1943, eles colocaram mais de meio milhão de prisioneiros de guerra pra trabalhar no Reich como trabalhadores forçados. O “pagamento” era depositado era depositado numa conta supostamente aberta pelas famílias dos trabalhadores pra que pudessem sacar os fundos. Entretanto, o pagamento nunca fez seu retorno pras famílias dos trabalhadores forçados. Em vez disso, os fundos eram secretamente convertidos em títulos do tesouro alemão pra pagar os custos das ocupações externas. (156-161)

Os alemães roubaram as propriedades dos trabalhadores forçados. Por exemplo, quando os trabalhadores forçados eram alistados na Ucrânia, “as propriedades deixadas pra trás, assim como qualquer dinheiro” eram apanhadas e vendidas. “Inventário de animais (cavalos, vacas, porcos, ovelhas, galinhas, gansos et cetera) assim como feno, palha, e produtos da colheita” eram oferecidos à venda para o comando econômico da divisão da wehrmacht local. O dinheiro da venda dos ativos dos trabalhadores forçados terminava fazendo seu caminho pro tesouro alemão. Oficialmente, esses fundos seriam transferidos de volta pros seus donos em um momento futuro. A realidade é que esses fundos só iam pra dentro das contas alemãs. Essa padrão se repetiu várias e várias vezes. A pilhagem, a exploração e a tributação dos trabalhadores forçados alemães terminava beneficiando a população alemã. Isso deu aos enormes programas de bem-estar alemãs um reforço. (163-164)

Alemães gordos e Leste faminto

Os nazistas também decretaram políticas de total pilhagem, pensadas tanto pra ajudar os alemães como destruir populações inimigas. Em 1941,Göring fez uma declaração, “Como um princípio geral pros territórios ocupados, apenas aqueles que trabalham pra nós estarão garantidos de receber a comida que eles precisam.” Ele advogou “implacáveis métodos de conservação” pra assegurar de alimentos pra Alemanha. Alguns dos primeiros a serem afetados por essas políticas foram os prisioneiros de guerra soviéticos. Goebbels notou: “A fome catastrófica daí excede toda descrição.” Em Riga, os soldados alemães discutiam sua “missão de deixar os prisioneiros de guerra russos passarem fome e congelarem até a morte.” Em 2 de Fevereiro de 1942, 2 milhões dos 3,3 milhões de prisioineiros do Exército Vermelho, o que era 60%, morreu dentro dos campos alemães ou transitando para eles. (174-175)

A política de deixar os soviéticos e judeus famintos também foi aplicada às cidades soviéticas. Göring discursou numa audiência em 1942,dizendo aos soviéticos que “nós estamos alimentando nosso exército inteiro com o que pegamos dos territórios ocupados.” Ele foi além e anunciou que as porções de alimentos seriam aumentadas e que haveria ma “alocação especial” pro Natal. Göring proclamou: “Deste dia em diante as coisas vão ficar melhores por que nós agora possuímos grandes extensões de terras férteis. Tem depósitos ovos, manteiga, e farinha por aí que você não pode nem imaginar.” Ele também anunciou que poderia ter uma “abertura de espaço no Leste” que permitiria um retorno às “condições parecidas com as dos tempos de paz.” Ele prometeu que a guerra seria enfrentada até uma “conclusão de sucesso sem maiores privações.” Uma notícia informou que “Göring falou pro coração e pro estômago.” (175) Aly mostra algumas estatísticas representativas de quanta comida foi transferida:

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Em 1942, um oficial escreveu que seu trabalho era defender “ao máximo possível a necessidade do front doméstico de enviar suprimentos.” Tudo isso foi possível porque “o Wehrmacht não conseguiu achar um uso” que não fosse outro além de mandar tudo pra Alemanha.

“Enormes quantidades de trigo, sementes de girassol, óleo de girassol, e ovos estão sendo transportadas pra distribuição do Reich. Se, como minha mulher me escreveu, as poucas semanas de produção de alimentos puderem ver as cargas de óleo de girassol chegando bem, eu posso dizer com orgulho que eu me envolvi diretamente na operação.” (178-179)

Em 1942, uma quantidade extra de alimentos foi direcionada especialmente do front pros alemães empregados em trabalho físico, mulheres grávidas, e cidadãos arianos superiores. Cidadãos alemães ordinários também foram beneficiados. O acesso deles aos alimentos e ao poder de compra cresceu como resultado da pilhagem de comida. Como disse um alemão em suas memórias, “Durante a guerra nós não ficamos famintos. Naquele tempo tudo funcionava. Foi só depois da guerra que as coisas ficaram ruins.” (178-179)

Nacional-“Socialismo” Alemão

Os nazistas queriam avançar dos ganhos dos alemães criando um grande império centralizado na Alemanha. Essa visão estava ligada à subjulgação de outros povos, incluindo o genocídio de Judeus e povos do Leste Europeu. Outros países foram dominados, seus povos foram postos pra trabalhar em benefício dos alemães. Os povos do Leste foram escravizados e exterminados, e então suas terras poderam ser reocupadas. Uma vez, Hitler comparou suas ambições pro Leste com a expansão genocida pro Oeste dos Estados Unidos. Essa visão buscava a paz social alemã, a elevação do padrão de vida dos alemães medianos. Aly escreve:

“Os constantes discursos nazistas sobre precisarem de mais espaço e colônias, de um lugar pra Alemanha no palco do Mundo e expansão pro Oeste, da mesma forma que o imperativo de “desfazer a judeização,” estavam focados no crescimento apressado do padrão de vida alemão, que a economia doméstica sozinha nunca poderia suportar.” (317)

Himmler, em seu cargo de comissário do Reich pra projetos de assentamento, disse:

“Os territórios em questão foram conquistados por campanhas armadas como parte de uma guerra lutada por todos os alemães, [por isso] os frutos dessa vitória devem beneficiar todo o povo alemão.” (306)

Reduzir as diferenças de classe era uma parte grande do plano de assentar os alemães no Leste Europeu. (30-31) Diferenças diminuídas e paz social para todos os alemães era uma grande parte da ideologia nazista. Hitler prometeu igualdade pra todos os membros do Volk (‘povo’, em alemão). Durante a guerra, cada membro do Volk foi levado em consideração. Em 1940, um observador do Partido Social Democrata relatou que em Berlim: “As classes trabalhadoras recebiam muito bem o fato de que ‘os mais ricos’ tinham, em termos práticos, deixados de ser assim.” As políticas de racionamento durante a guerra se empenhavam pela igualdade entre os alemães. (322)

Elevar os cidadãos comuns era uma grane parte das políticas nazistas. A lealdade deles estava assegurada através de políticas de tributação progressivas desenhadas pra aliviar os impostos dos alemães que trabalhavam e eram de classes baixas.  A lealdade deles foi comprada pelo aumento de seus salários, poder aquisitivo, e acesso aos bens de consumo. As políticas nazistas buscavam aumentar os ganhos dos trabalhadores alemães comuns. Eles queriam expandir os privilégios antes reservados às classes altas pras classes baixas. Por exemplo, o diretor da frente de trabalho alemã da região de Berlim foi muito enérgico no incremento dele de benefícios pro trabalho:

“Em 1938 nós procuramos nos dedicar cada vez mais pra mostrar a todos os camaradas que fazer viagens de férias não era coisa de trabalhadores de colar-azul. Essa impressão errada e persistente finalmente foi superada.” (21)

Em 1943, durante a guerra, os nazistas se fixaram em manter os alemães felizes. Martin Bormann disse: “O poder de gasto das grandes massas é o que importa!” (57) A política nazista fez muito pela transferência dos custos da guerra dos alemães comuns pros povos conquistados, mas também pras altas classes na Alemanha:

“Do outono de 1941 em diante, a liderança política bloqueou todas as propostas de peritos financeiros pra cobrar taxas suplementares de tempos de guerra sobre salários e gastos de consumo cotidiano dos alemães comuns. Eles não têm esse tipo de escrúpulos quando taxam as classes altas.” (312)

Todas essas medidas populares combinadas formam o que eles chamam de Nacional-“Socialismo.” O regime nazista manteve os alemães bem alimentados. Eles transformaram o genocídio e a conquista de outros povos em uma corrida pelo ouro. Os alemães medianos participaram com muito gosto. “A preocupação com o bem-estar com alemães foi uma motivação decisiva por trás das políticas de terrorismo de Estado, escravidão e extermínio de grupos inimigos.” (309) Aly argumenta que foi mais o apelo nazista ao estômago do que pronunciamentos ideológicos sobre “a raça suprema” que manteve a população alemã tão leal. “O regime nazista tirou proveito da satisfação básica dos seus cidadãos ordinários, sem qualquer preocupação se eles tinham algum sentimento de aproximação… ou distanciamento da ideologia do partido.” (311) Por ter o regime se esforçado tanto pra avançar os ganhos dos seus cidadãos comuns, uma resistência real ao regime vinda “de baixo” nunca se materializou. Aly desmente o mito de que estava se organizando pela Alemanha alguma “resistência” [popular] pra cercar Hitler:

“Os alemães se mantiveram passivos e geralmente contentes com um generoso sistema de bem-estar social que foi pago por esses ricos. O incremento do padrão de vida público que veio com o aumento do bem-estar material do povo…” (304)

“Nada menos que a ambição popular massiva fez possível pro regime acalmar a maioria dos alemães com uma combinação de impostos baixos, ampla oferta de bens de consumo, e atos de terror muito específicos contra pessoas socialmente estranhas. A melhor estratégia para os olhos da liderança nazista consciente da opinião pública era a de manter os alemães felizes.” (324)

“Depois, quando as lutas estavam no fim, a colaboração fatídica de milhões de alemães desapareceu, como que por mágica, pra ser reposta por uma imensamente exagerada – e historicamente insignificante – lembrança de resistência a Hitler.” (319)

Essa falta de resistência foi também refletida no tamanho da Gestapo:

“A Gestapo em 1937 tinha pouco mais de 7000 empregados, incluindo burocratas e pessoal de secretariado. Combinados com uma força policial ainda menor, eles foram suficientes pra vigiar mais de 60 milhões de pessoas. A maioria dos alemães simplesmente não precisava ser sujeita a investigação e detenção.” (29)

Os paralelos com os dias de hoje são óbvios. Assim como Hitler elevou a população alemã sobre os ombros dos povos derrotados, os povos do Primeiro Mundo vivem sobre os ombros do Terceiro Mundo. Assim como as pessoas esperaram em vão por uma Revolução dos trabalhadores alemães contra Hitler, elas também esperam em vão uma Revolução dos trabalhadores do Primeiro Mundo. Os nazistas não foram derrotados internamente, foram derrotados por fora, pelo Exército Vermelho. Os trabalhadores alemães não se opuseram ao regime nazista porque eles se beneficiaram com ele. Eles voluntariamente aderiram à canibalização de outros povos. Hoje, os povos do Primeiro Mundo como um todo se juntam com seus próprios governantes contra os povos do Terceiro Mundo. Nós estamos no meio do que já é uma outra Guerra Mundial, uma guerra do Primeiro Mundo contra o Terceiro Mundo. Essa guerra só beneficia o Primeiro Mundo às custas do Terceiro Mundo. Assim como Hitler foi derrotado pelo Exército Vermelho, o Primeiro Mundo deve também ser derrotado pela Guerra Popular Global liderada por Comunistas Luzes-Guiadoras!

Metafísica versus Materialismo

Karl Marx famosamente criticou a ideia de que a História seria explicada como uma série de grandes homens. Em vez de olhar a história como o resultado [da ação] de grandes homens ou grupos de grandes homens, Marx estudava a história cientificamente. Marx via o Mundo através das lentes do poder. Marx traçou o fenômeno histórico e social com fundo no sistema de poder de classes, nações, e gêneros. Marx chamava isso de Materialismo Histórico. Gotz Aly aplicou o materialismo histórico para analisar a questão de como o nazismo pôde acontecer.

“É tão complexa uma resposta pra pergunta de como o nazismo pôde acontecer que não pode ser dada com meros bordões antifascistas ou didaticismo de curadores de museus. É necessário focar no aspecto socialista do Nacional Socialismo, e somente como uma maneira de avançar sobre projeções costumeiras que culpam indivíduos ou grupos específicos – geralmente o ilusionista e provavelmente insano Hitler, mas também culpam os ideólogos racistas ou membros de uma classe particular, como banqueiros e empresários milionários, ou certos generais do Wehrmacht, ou unidades assassinas de elite. O grande problema de abordagens desse tipo é que todas elas sugerem que um grupo especial de ‘terceiros’ malígnos carregam toda a culpabilidade por crimes nazistas.” (8)

Aly estende nosso entendimento da relação entre fascismo e socialdemocracia. O livro de Aly desenvolve a análise do Comintern dos anos 1930. Seja Aly consciente disso ou não, ele está na tradição de Marxistas como Rajani Palme Dutt e as teorias do “social-fascismo.” Aly põe de lado os dogmas “esquerdistas.” Em vez disso, o nazismo é observado implacavelmente desde sua origem material. Os nazistas representam o alinhamento de forças sociais, que incluiram os trabalhadores alemães. OS TRABALHADORES ALEMÃES APOIARAM O NAZISMO, e os nazistas devolveram o favor. De várias maneiras, as políticas nazistas eram muito similares às dos seus opositores socialdemocratas. Foi Lenin quem criticou os socialdemocratas franceses e alemães quando eles apoiaram os esforços de guerra dos seus países imperialistas na Primeira Guerra Mundial. Os revisionistas colocaram seus próprios povos, seus próprios trabalhadores, à frente do Proletariado Global quando tomaram essa posição. Lenin, em contraste,  defendia a política do derrotismo revolucionário. Lenin que a derrota do império czarista na esperança de que uma derrota de sua pátria imperialista pudesse levar a uma situação revolucionária. Ao contrário de Lenin, os revisionistas da segunda internacional foram os social imperialistas e social fascistas dos dias deles. Eles foram socialistas em nome, mas em realidade eles foram imperialistas. Mesmo o nome oficial do partido dos nazistas era “Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães”. Hoje, o primeiromundismo é a principal forma de social imperialismo e social fascismo. Como os nazistas da Segunda Guerra Mundial e os socialdemocratas da Primeira, os primeiromundistas podem usar retórica marxista e socialista, eles podem até dizer que se preocupam com a situação do Terceiro Mundo, mas, em realidade, eles querem é avançar os ganhos de seus povos às custas da vasta maioria da humanidade. O primeiromundismo levanta a bandeira vermelha pra se opor à bandeira vermelha. Como Lenin fez antes, o Comunismo Luz-Guiadora representa os interesses do proletariado e dos oprimidos como um todo. Assim como Lenin fez rompendo com o tipo de pensamento limitado, sem imaginação e dogmático de seus dias, também rompe cada cientista revolucionário, também rompe o Comunismo Luz-Guia.

A visão primeiromundista não é baseada em análise científica, é baseada em dogma. Gotz Aly ajuda a demonstrar a falência do chauvinismo primeiromundista e o “trabalhismo” vulgar que simplesmente assume que todo mundo que recebe um salário tem o interesse comum de chegar ao socialismo. Esse tipo de “trabalhismo” assume que todos os trabalhadores têm um interesse de classe comum e podem se alinhar para atingir o socialismo. Pensar que todos que são empregados, tanto no Primeiro como no Terceiro Mundo, são partes da mesma classe é pura metafísica. O século 20 por inteiro nos mostrou que esse simplesmente não é o caso. A razão pela que o “comunismo” é considerado tão morto hoje é a de que as pessoas podem ver claramente como a retórica daqueles que se dizem “comunistas” não corresponde ao mundo real. Mesmo o Islã radical (e distorcido de sua essência original), com sua Jihad contra o Ocidente, traça uma linha entre amigos e inimigos mais precisa que o autoproclamado “marxismo” primeiromundista. Em sentido contrário, o Comunismo Luz-Guiadora, olha pro Mundo real. Luzes-Guias estudam evidências históricas verdadeiras; Luzes-Guias veem como as forças sociais realmente se alinham, não como nós imaginamos que elas se alinham. O Comunismo Luz-Guia trouxe a ciência de volta pro Comunismo. Os Luzes-Guias elevaram a Ciência Revolucionária para um nível completamente novo. O livro de Aly é uma arma poderosa na luta contra as mentiras que posam de Marxismo.

Fonte:

ALY, Gotz. Hitler’s Beneficiaries. Holt Paperbacks, USA: 2005.

Revisado e resumido pelo Comandante Campo Flamejante
Traduzido para o português por Rivaldo Cardoso Melo.

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