Igualdade e Alinhamentos Globais

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por Campo Flamejante

Traduzido para o português por Rivaldo Cardoso Melo

(portugues.llco.org)

“Avisar para os trabalhadores do punhado de países ricos onde a vida é mais fácil, graças à pilhagem imperialista, que eles devem ter medo do empobrecimento ‘muito grande’ é contrarrevolucionário. Isso é o contrário do que eles devem ter dito. A Aristocracia Laboral, que é temorosa a sacrifícios, temorosa a empobrecimento ‘muito grande’ durante a luta revolucionária, não pode entrar no Partido.

Ao contrário do que dizem, a Ditadura do Proletariado é impossível nesses países, especialmente no Oeste Europeu.” – V.I. Lenin, Discurso sobre os Termos de Admissão à Internacional Comunista. 30 de Julho (1)

“Tomando o globo inteiro, se a América do Norte e o Oeste Europeu podem ser chamados ‘as cidades do mundo’, Ásia, África e América Latina constituem ‘as areas rurais do mundo’. Desde a Segunda Guerra Mundial, o Movimento Revolucionário Proletário foi por várias razões temporariamente retido nos países capitalistas da América do Norte e do Oeste Europeu, enquanto o Movimento Revolucionário Popular na Ásia, África e América Latina vem crescendo vigorosamente. Numa palavra, a Revolução Mundial Contemporânea também representa a figura do cerco de cidades por zonas rurais. Numa análise final, toda a causa da Revolução Mundial depende das lutas revolucionárias dos povos asiáticos, africanos e latinos, que representam a esmagadora maioria da população mundial.” – Lin Biao, Viva a Vitória da Guerra Popular! (2)

As primeiras oito palavras de Obras Selecionadas de Mao são “Quem são nossos inimigos? Quem são nossos amigos?” O Marxismo é a Ciência Revolucionária. O Marxismo aplica ciência no trabalho de chegar ao comunismo. E o comunismo não é nada menos que a total libertação humana, o fim de toda opressão. Mao chamou essa questão sobre Amigos e Inimigos de “Questão de Primeira Importância”. Se uma organização não pode responder essa questão corretamente, tudo dela é discutível. Se alguém faz uma análise de classe errada, esse alguém não poderá fazer uma revolução comunista de forma alguma. Visões de revolução social parecem nada, elas são meramente sonhos utópicos, se não são baseadas em análises materiais. Somente entendendo as bases materiais para a revolução , somente com a   correta análise de classes é que alguém será capaz de alinhar as forças sociais necessárias para trazer o proletariado ao poder vigente para começar a construção socialista, começar a longa marcha rumo ao comunismo. No sentido de entender quem pode e quem não pode se alinhar contra o imperialismo e alinhar-se em favor do socialimo, é necessário perguntar: quem vai se beneficiar e quem não vai no socialismo? Essas forças sociais que se beneficiam com o socialismo são as que vão penar pela revolução. Aquelas que não se beneficiam, não lutarão por ele. Isso é materialismo básico.

Em algum sentido, todos ganharão com o comunismo. Afinal, a vida no comunismo será mais farta e saudável para todos, mesmo para aqueles que foram membros de classes reacionárias. Da mesma forma, a destruição da natureza pelo capitalismo é tão brutal que, de certa forma, é interesse de longo prazo para todos apoiar uma alternativa. Nesse futuro distante, as classes acabarão ou estarão muito perto de não existir! No entanto, quase todos se beneficiam a curto prazo. Muitos terão que perder alguma coisa, e será assim porque socialismo é redistribuição de riqueza e poder. Como, no mundo real, os recursos são sempre limitados, para que a vasta maioria tenha mais, uma minoria deve ficar com menos. Isso é a realidade material que impede os afortunados de se alinhar com o lado pobre do mundo. O mundo real é o mundo do conflito de classes. Em outras palavras, nós devemos orientar as classes da forma como elas existem atualmente. Apenas porque um membro da burguesia pode deixar de ser dela de algumas décadas para cá não quer dizer que devemos tratar ele como proletário. Fazer isso é jogar a análise de classe à favor do humanismo burguês e dos apelos morais vazios. Devemos orientar pelo presente, não por algum futuro distante, ainda que possível.

O mais simples e evidente fato sobre o mundo é a rachadura entre Primeiro Mundo (pela visão Maoísta, o ‘Segundo Mundo’ se inclui no Primeiro por também tratar seus aliados mais pobres como colônias) e Terceiro Mundo. Osistema capitalista é aquele onde o poder e a riqueza estão concentrados em alguns lugares e não em outros. O poder e a riqueza são canalizados para algumas populações às custas de outras; uma minoria de países se beneficiam e uma maioria não. Olhando pela economia global, pelas populações, se vê claramente que é afortunado e quem não é. Essa visão forma uma imagem clara sobre como a riqueza é distribuída globalmente. Não é segredo que riqueza e poder se relacionam. Aqueles grupos sociais que têm mais riqueza tendem a ter mais poder; os que tendem a ser mais pobres têm menos. Essa visão nos dá uma panorama geral sobre a posição dos trabalhadores do primeiro mundo em relação ao sistema mundial.

Vamos usar um experimento mental para mostrar como o mundo iria parecer se a renda fosse igualada. Óbvio, isso não é uma imagem real do socialismo. Socialismo é uma transformação muito mais profunda, muito mais que renda. De qualquer maneira, o experimento mental nos daria um sentimento de quais populações se beneficiam com a distribuição imperialista e quais não se beneficiam. A renda média por membro de unidade familiar nos EUA por ano é aproximadamente de U$19.400,00 (Dezenove Mil e Quatrocentos Dólares). (3) Renda não incide apenas sobre pagamentos e salários, mas também inclu  itens como pagamentos aos desempregados, aposentadorias, pensões previdenciárias, pensões alimentícias, recebimento de aluguéis, assim como quaisquer outros negócios pessoais, investimentos, ou outros tipos de renda recebidas rotineiramente. O cidadão médio americano de 25 anos ou mais, recebe um total de U$32.000,00 (Trinta e Dois mil dólares) por ano. (4) Dificilmente qualquer um nos Estados Unidos é pago apenas pelo salário mínimo de 7,25 dólares por hora. A maioria dos empregos de nível de entrada, por exemplo, empregam trabalhadores a 10 dólares ou mais por hora. Muito poucos ganham o mínimo, e ainda assim o sujeito raro que ganha pagamento mínimo trabalhando em todo o tempo nos EUA faz 15.000 dólares num ano, sem contar outras possíveis fontes de renda (5). Em contraste, a renda média global é de 850 dólares por ano. A maioria não chega sequer a ganhar 3 dólares por dia nos países explorados do Terceiro Mundo. A maior parte da humanidade no Terceiro Mundo apenas subsiste, apenas sobrevive. Como poderia parecer que a igualdade governa a economia global? Como a renda parecer submetida a uma distribuição igualitária, onde qualquer um receberia uma igual parcela da produção mundial? Se a renda mundial fosse dividida igualmente pela população mundial de 6.7 bilhões de habitantes, cada pessoa teria em seu poder o equivalente a uma coisa perto de 8.000 dólares (PPP) (5.500 dólares, usando o método Atlas). (6) (7) (8) Em outras palavras, cada trabalhador nos Estados Unidos seria, em geral, dono de uma fatia da economia global equivalente a 8.000 dólares. Até mesmo a pessoa rara que ganha pagamento mínimo nos Estados Unidos (lá, ao contrário do Brasil, se calcula os ganhos mínimos de um trabalhador por hora, não por mês) poderia perder substancialmente numa distribuição igualitária. É como se perdessem metade de seus ganhos anuais. Da mesma forma, uma pessoa recebe todo tipo de benefícios secundários simplesmente por viver no Primeiro Mundo, incluindo: maior mobilidade de classe, serviços públicos e sociais, acesso à infraestrutura, maior educação pública, maior segurança etc. Até o mais pobre trabalhador do Primeiro Mundo estaria contrário a uma melhor distribuição de renda por todo o mundo. Mais ainda, mesmo um esquema de igual distribuição não leva em consideração sequer a necessidade de corrigir desigualdades históricas, sequer as de desenvolvimento global. Os países exploradores do Primeiro Mundo se beneficiaram por séculos da pilhagem, da exploração e sub-desenvolvimento do Terceiro Mundo. Para se sair de verdade dessa situação, seria preciso um valor extra ser direcionado para os explorados e pobres países. Em outras palavras, a população nos EUA e no Primeiro Mundo em geral seriam aqueles que teriam a perder, enquanto os povos do Terceiro Mundo teriam a ganhar. Aí entram aqueles utópicos que se opõem a isso. Eles reinvidicam com teimosia que a riqueza do Primeiro Mundo pode ser mantida com uma distribuição igualitária se a produção fosse, como mágica, aumentada monstruosamente. Em primeiro lugar, não é possível deixar quieto o desigual nível de consumo médio dos povos do Primeiro Mundo e fazer o resto dos países se igualar a ele dobrando o produto social dedicado ao consumo, com todos os ganhos extras. Seria, a grosso modo, como triplicar a economia mundial sem aumentar em proporção semelhante a economia dos países ricos (com todas as indústrias e máquinas que eles têm). (9) Em segundo lugar, tanto o consumo do Primeiro Mundo como o modo de vida dele, em geral, são ecologicamente insustentáveis. O primeiromundismo está matando o Planeta e nosso futuro.

O que nosso experimento mental mostra é que as pessoas do primeiro mundo recebem mais que a parcela deles do produto social global (riqueza produzida por todos os povos). Eles não têm ganho material numa distribuição igualitária da renda privada, o que não se confunde com socialismo. O socialismo busca uma distribuição igualitária ou próximo de ser igualitária, mas é óbvio que não tenta promover igualdade de rendas. O verdadeiro socialismo vai acabar reduzindo riquezas privadas muito mais que aquela distribuição hipotética que falamos. Isso porque socialismo é uma alteração radical da sociedade com o fim de chegar ao comunismo, para acabar com toda a opressão. Mas, usando a igualdade como uma ideia regulativa, vemos o que a maioria das pessoas com senso comum já sabe: Existem beneficiados e prejudicados em qualquer distribuição desigual. Os povos do Primeiro Mundo perdem sob uma distribuição global que iguala rendas. Num verdadeiro sistema socialista, não só a igualdade governaria a distribuição global dos valores como acabariam a propriedade privada e a classe burguesa completamente! Em outras palavras, num socialismo verdadeiro os primeiromundistas iriam perder mais que suas riquezas; suas vidas virariam de cabeça para baixo.

O socialismo sempre esteve muito ligado à ideia de igualdade. Apenas como sociedade dividida em classes seria um sistema baseado em desigualdade de renda e poder, assim como é a atual ordem mundial. As críticas ao imperialismo são críticas à desigualdade. Muito melhor que um sistema global onde alguns países têm riqueza e poder às custas de outros, Marxistas verdadeiros advogam um sistema onde os países têm igualdade. Advogar, como Lênin fez, pela a autodeterminação dos povos é advogar por um sistema transnacional que zele pela igualdade. Depois que a URSS caiu no revisionismo e virou ela mesma imperialista (a proibição de Cuba de se industrializar foi só um exemplo disso, que é aquela política soviética de “países satélites”), a bandeira de Lenin foi elevada para novas alturas pelo Maoísmo. Mao também criticou o imperialismo, o chauvinismo, hegemonia e desigualdade global. O Maoísmo foi um plano explícito de ação para destruir a velha ordem mundial e instaurar uma nova em seu lugar. Foram Chen Boda e Lin Biao que articularam o Maoísmo como Maoísmo, como um novo nível de Marxismo. A concepção de Chen Boda foi a de Maoísmo como um Marxismo universal de países coloniais e neocoloniais. Lin Biao também ligou o Maoísmo ao colapso da rede mundial imperialista. A concepção de Lin Biao incluiu o Maoísmo na vanguarda de uma Guerra Popular global que avança dos países pobres para os ricos. O Maoísmo avançou nossos entendimentos de maneira significativa. mais coube ao Comunismo Luz-Guia fazer o avanço completo. Foi o Comunismo Luz-Guia que finalmente dispensou todo o Primeiromundismo, que purificou a Guerra Popular Global e o conceito de Socialismo. Uma distribuição global socialista é aquela que corrige as desigualdades de riquieza e poder que existem na ordem atual. É possível, claro, que nem sempre essa distribuição seja bem feita. Erros acontecem, planos ruins existem. Contudo, as principais desigualdades que existem no imperialismo terão uma queda gritante comparadas ao Socialismo mesmo que esse socialismo esteja em seu pior momento. Se as desigualdades forem toleradas, elas serão desigualdades que beneficiarão os países mais pobres. Equidade, num sentido geral, é aquilo que o Socialismo deseja. Comunistas verdadeiros rejeitam todo o primeiromundismo.

O Primeiro Mundo é simplesmente incompatível com a rede mundial socialista. Mesmo aqueles na base das sociedades do Primeiro Mundo, em sua maior parte, terão que perder sob o socialismo. É por isso que os trabalhadores do Primeiro Mundo têm sempre se aliado às burguesias dos seus países contra as classes populares do Terceiro Mundo. Os trabalhadores do Primeiro Mundo se alinham ao imperialismo contra a grande maioria da humanidade, incluindo a vasta maioria dos trabalhadores. Essa é uma das razões pelas quais os trabalhadores do Primeiro mundo podem ser tratados como parte da burguesia imperial. Esses trabalhadores não são uma base social para a revolução proletária porque eles não são proletariado.

Eles não são uma classe explorada nem são uma classe revolucionária. Esses trabalhadores do Primeiro Mundo às vezes têm mais acesso ao capital que capitalistas do Terceiro Mundo. Marx ligou pobreza à Revolução. Para Marx, “O proletariado não tem nada a perder além de suas algemas.” Essa classe de que ele fala é uma classe miserável, uma classe explorada, uma classe reduzida à subsistência ou menos que isso. Essa é a classe que foi pensada como aquela que só tem sua força de trabalho para vender. O proletariado é a principal fonte de valor no capitalismo. A descrição de Marx sobre o proletariado dificilmente descreve o trabalhador do Primeiro Mundo. No entanto, descreve muitos no Terceiro Mundo. A descrição de Marx deveria ser incontroversa. Aqueles que se rebelam são aqueles para quem o sistema falhou. A paz social no Primeiro Mundo é um produto do alto padrão de vida dele. Não é um grande mistério o porquê de o século passado ter testemunhado tantas revoluções no Terceiro Mundo e, todavia, não houve nenhuma no Primeiro Mundo. Aquela pergunta de primeira importância de Mao está respondida.

O Revisionismo é muito poderoso. Nem a União Soviética e muito menos a China foram conquistados militarmente. O capitalismo foi restaurado em ambos. Foi o inimigo interno que reverteu o socialismo e restaurou o capitalismo. O revisionismo foi criticado por todo grande líder desde Marx. Lenin criticou os revisionistas da Segunda Internacional por sua visão estreita, chauvinista. Os revisionistas da Segunda Internacional votaram pela Guerra Imperialista quando ela funcionou para beneficiar as classes trabalhadoras de seus países individualmente. Os socialdemocratas franceses votaram pelo imperialismo francês. Os socialdemocratas alemães votaram pelo imperialismo alemão. Lenin, em contraste, se apegou à visão do proletariado global. Lenin advogou pela derrota de seu próprio país e pelo fim da guerra imperialista. Os primeiromundistas autoproclamados ‘socialistas’ deveriam ser rotulados como Social-Imperialistas e Social-Fascistas exatamente como Lenin rotulou os revisionistas dos seus dias. Assim como fizeram os revisionistas advogando o imperialismo em nome do fascismo fazem também os primeiromundistas hoje. O primeiromundismo busca incrementar a riqueza daqueles que já recebem mais do que deveriam ter numa divisão justa da riqueza mundial, e esse incremento se dá às custas do proletariado do Terceiro Mundo. Em contraste, o movimento comunista Luz-Guia advoga em defesa da vasta maioria, dos explorados e realmente oprimidos. O Comunismo Luz-Guia estuda o nosso mundo como ele realmente é. Nossa bandeira está no alto dos mastros da Guerra Popular global. A Luz-Guia ilumina o caminho adiante.

Notas

1. V. I. Lenin, , “Discurso sobre a admissão na Internacional Comunista, 30
de Julho” Obras Selecionadas, Vol. 31, (Moscow: Progress Publishers, 1960),
pp. 248-9.

2. Lin Piao, Viva a Vitória da Guerra Popular!, (Foreign Language
Press,1965)
http://www.marxists.org/reference/archive/lin-biao/1965/09/peoples_war/ch07.htm

3. Renda Doméstica por Estados: 2008-2009, (U.S. Census Bureau, 2010),  p.
1 (50,221 dólares foi a renda doméstica média entre 2008-2009. Dividindo-se
isso por 2.59, que é a média de membros de um domicílio americano,
descobre-se que a média de ganhos de cada um deles é de aproximadamente
19,400 dólares.)

4. O Joe amerikkkano médio, (Organização Comunista Luz-Guia, 2010), portugues.llco.org

5. http://wiki.answers.com/Q/How_do_you_calculate_work_hours_for_a_year
(multipica-se as horas por ano por 7.25 dólares.. de qualquer forma, o

resultado fica perto de 15,000)

6. Renda de uma Pessoa Mediana na Terra,
http://hypertextbook.com/facts/2006/MateNagy.shtml

7. Renda per capita pelo Mundo,
http://www.success-and-culture.net/articles/percapitaincome.shtml

8. Ganhos médios pelo Mundo, Boston Globe, October 7, 2007.
http://www.boston.com/news/world/articles/2007/10/07/average_earnings_worldwide/
also http://www.wisegeek.com/what-is-the-median-income-worldwide.htm
(Essas fontes usam outro método que pode reduzir a porção destinada ao

Primeiro Mundo mais ainda)

9. FLAMEJANTE, Campo. Marxismo Real versus Marxismo falso sobre a a
distribuição socialista, (Organização Comunista Luz-Guia, 2010) portugues.llco.org

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